capítulo 3

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Eu já tinha me esquecido que os jardins do castelo eram bem mais frescos que o centro da cidade, afinal ele ficava a 800 metros acima do nível do mar. Havia uma mesa enorme com vários tipos de comida no centro do jardim, tinha tanto tempo que eu não colocava os pés ali que já havia me esquecido do luxo que era cada centímetro daquele lugar.

— Mel! — a voz grave e nostálgica do rei Antony me fez sorrir agradavelmente, a visão dele vindo em minha direção sorrindo me fez lembrar da minha infância.

— Crianças! Parem de brigar! — a babá vinha em nossa direção correndo.

Ele me jogou uma mangueira com água que provavelmente havia roubado do jardineiro, me molhando inteira ele ria travesso.

— Alteza, tenha modos!

Eu não conseguia parar de rir de como a babá pegava no pé dele. Ele bufou cruzando os braços me encarando com os olhos tão azuis quanto a água.

Ele sentou no sofá em uma das salas do Castelo, a babá me fez sentar do lado dele depois de um longo banho.

— Mel — ele disse me olhando pelo canto do olho — promete que vai ser sempre minha amiga?

Eu sorri.

— Prometo — ele me abraçou e puxou meu cabelo com força em seguida saiu correndo.

Tio Antony, quanto tempo — ele me abraçou forte e segurou a minha mão.

Ele parecia admirado.

— Uau, como aquela menininha cresceu — ele disse fazendo-me dar uma volta enquanto me olhava de cima a baixo com olhos brilhantes.

Eu sorri enquanto ele levava a mim e minha mãe até a mesa, eles comentaram de todos os assuntos possíveis, principalmente da bagunça e das brigas que eu e o príncipe fazíamos quando éramos crianças, deixamos todos os funcionários daquele lugar de cabelo em pé.

Tio Antony caminhou comigo no final da tarde daquele sábado, ele me lembrava muito meu pai.

— Tio Antony, a mamãe disse que você queria me dizer algo importante — eu tomei um gole do meu chá enquanto andávamos pelo Jardim.

Ele exitou um pouco mas se pôs a continuar.

— Você sabe que eu sempre gostei muito da amizade entre você e meu filho, antes dele se mudar para a Suiça depois da morte do Carlisle, os olhos dele brilhavam sempre que ouvia seu nome. — ele fez uma pausa tomando um gole do seu chá — você é uma menina muito linda, seus cabelos parecem raios de sol de tão dourados, você é mais nobre que muitas princesas que eu já vi.

Eu sorri educadamente parando e me virando para ele.

— Obrigada — fiz uma leve reverência com a cabeça —mas eu não entendo onde o senhor quer chegar.

Ele umideceu os lábios e voltou a falar.

— Eu preciso casar o meu filho — foram palavras um pouco inesperadas para mim — o conselho está me cobrando isso, eu queria muito que ele se casasse com alguém que ele amasse, mas até agora ele nao se apaixonou por ninguém, e se ele nao se casar por vontade própria o conselho vai obriga-lo a se casar com a princesa que eles escolherem.

Eu respirei fundo, aquela conversa estava ficando estranha.

— E ...Onde eu entro nessa história? — tentei sorrir e parecer não estranhar o papo dele.

— A princesa que eles escolheram é de um país pequeno, porém vive em guerra, eu tenho medo do que pode acontecer com Eribella caso esse casamento aconteça — ele pausou novamente, olhou para baixo por alguns segundos e voltou a me encarar — Eu gostaria muito que você se casasse com o meu filho.

Eu quase me engasguei. Não! Eu me engasguei com o chá deixando a xícara cair da minha mão. Casar? Com o Príncipe? Só podia ser piada.

Ele se sentou comigo em um banco com olhos preocupados.

— Tio Antony o senhor só pode ter ficado doido — eu comecei a rir, com certeza era uma piada, eu não via o príncipe a 12 anos, e porque eu me casaria com alguém que eu nem conheço?

— Melina, eu confio em você, é pelo nosso povo não posso colocar meu país nas mãos de uma princesa que acha que tudo se resolve com guerras. — ah não! Meu Deus! Ele falava sério, meu coração já parecia com o de um cavalo de corrida naquele momento.

— Ele está voltando da Suíça, quem sabe vocês não dêem certo, pensa nisso Mel, você é minha única chance — ele me deu um beijo na testa e foi na direção em que viemos.

Eu estava paralisada, não conseguia me mecher, de certa forma eu tinha virado uma estatua no jardim real. O que se passava na cabeça dele para achar que eu deixaria a minha vida para me casar com um desconhecido e ainda mais, abandonar a minha carreira e o meu sonho de ser médica como o meu pai, para virar rainha.

Meu celular tinha que tocar justo naquele momento, eu não sabia bem onde tinha colocado. O encontrei em um dos bolsos do meu vestido branco rendado, que por sinal combinou com meu cabelo loiro e com a minha pele.

Era o Matthew, eu não sabia se conseguia digerir outro assunto naquele momento, eu passei alguns segundos encarando o celular em minhas mãos, ouvi algo se quebrando no terceiro andar do castelo, olhei pra cima e só podia ter vindo de uma da única janela com varanda que estava aberta, não havia ninguém provavelmente algum funcionário teria quebrado algo, era normal por ali.

Olhei pro celular novamente, e por fim resolvi atender.

— Alô. — eu disse me levantando e indo na mesma direção que o rei à alguns instantes.

— E aí raio de sol! Só liguei pra avisar que abriu uma boate lá no centro, hoje vai ser a inauguração vamo com a gente. — ele parecia feliz, diferente de mim.

— Ah eu não sei não — eu não conseguia nem pensar  em festa naquele instante.

—Vamo loirinha, vai ser legal, descontrair um pouco.

Eu fiquei em silêncio por uns 20 segundos, ele tinha razão, depois da bomba que o rei jogou na minha mão eu precisava beber pra esquecer um pouco os problemas.

— Tudo bem, me pega lá em casa as 22:00h — eu quase ouvi uma comemoração baixinha dele aquilo me fez cair no riso.

— Tá bom, até mais tarde.

Ele desligou e eu voltei a colocar o celular no bolso, acho que agora eu teria uma boa lembrança do Aaron.

Ao chegar na mesa do chá minha mãe ria alegremente com a rainha  Mary Anne e o rei, eu não conseguia mais ficar ali, precisava ir pra casa.

— Mãe eu quero ir pra casa  — eu disse me aproximando mais da mesa.

Ela via a expressão no meu rosto, seu sorriso começou a sumir aos poucos.

— Mas agora filha... — eu a interrompi, sabia que ela queria ficar.

— Não se preocupe mãe — eu disse pra ela em seguida me virando para o rei — eu posso ir com um de seus motoristas Tio?

Ele fez que sim com a cabeça, ele era um bom rei, diferente da esposa que só pensava em si mesma, acho que era por isso que Mary Anne e minha mãe se davam tão bem.

— Obrigada — ele me deu um sorriso de volta e fez um sinal com a cabeça  que dizia " pense no que eu disse ".

Eu já tinha pensado, eu não iria me casar com o príncipe, se ele continuasse o mesmo idiota de quando era criança, eu iria sofrer pela vida toda.

Eu passei horas e horas com isso na cabeça, quase nao vi a hora passar. Eu me joguei na cama assim que cheguei em casa, na minha cabeça passava tanta coisa. Quando eu era criança eu e o príncipe vivíamos brigando, mas eu me lembro uma vez ele colocou uma espada duas vezes maior que ele na cintura, chamou o rei e a rainha se ajoelhou no chão e me pediu em casamento, minha resposta foi jogar um copo de iogurte na cabeça dele e sair correndo. É claro que era só uma brincadeira de criança, hoje provávelmente ele nem se lembra de mim, pois eu nem se quer me lembrava o nome dele.

Segredos Do Tempo_ Volume 1Where stories live. Discover now