Capítulo 13

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Frio, vento, a voz das pessoas ao meu redor, nada disso me afetava naquele momento, eu não sabia pra onde ir ou onde eu estava indo, só conseguia sentir um aperto no peito, uma decepção que a muito eu não sentia, por fim abandonei os malditos saltos que me atrasavam, e corri pela avenida, o tempo parecia parado pra mim.

Eu nunca senti nada por ninguém, nunca. Sempre achei que sentimentos e eu não combinavam, que talvez eu não conseguisse amar outras pessoas além do meu pai e da minha mãe. Mas não. O destino me provou o contrário, eu briguei comigo mesma até entender que o Aaron era diferente dos outros, que era ele quem meu coração queria.

Ele era o príncipe. O mesmo garoto, o meu melhor amigo que me abandonou dias depois da morte do meu pai, quando eu mais precisava dele.

Só percebi onde meus pés me levaram quando entrei correndo no prédio da minha mãe, ou melhor, na minha antiga cobertura. Fechei a porta do elevador a tempo de ver o Aaron pela janela, ver aquele rosto angelical novamente doía. Ele mentiu pra mim o tempo todo, por isso sempre o achei familiar de mais.

Assim que o elevador se abriu eu corri para a cobertura. O quarto de minha mãe estava escuro, provavelmente estava dormindo, o que me deixou ainda mais sem chão.

— Melina? — eu a vi se apoiar com um braço tentando se entrar na cama — o que aconteceu?

Ela ascendeu um abajur e eu pude ver seu rosto melhor, ela era tão linda, os anos a favoreciam cada vez mais.

Eu corri para a cama dela, me deitando no seu colo, deixando todas as lágrimas que queriam descer, a vontade.

— Amor o que aconteceu? — ela parecia Extremamente preocupada, aquilo me reconfortou.

Eu tentei respirar devagar, para conseguir falar, e alguns segundos depois eu consegui.

— O Aaron — eu fiz uma pausa, tentando engolir a vontade de chorar que retornava sempre que eu me lembrava — ele é o príncipe mãe. Como eu não o reconheci?

Os soluços retornaram, e as lágrimas também, e a vontade de matar o Aaron também.

Ela suspirou passando uma mão pelos meu cabelo, me deixando intrigada, ela só suspirava daquele jeito quando estava prestes a jogar uma bomba.

— Eu sei — ela sussurrou me fazendo levantar rapidamente.

Eu já não sabia mais o que pensar, meu dia não podia ficar pior, de forma alguma. Eu comecei a me afastar dela, atônita, todos estavam mentindo pra mim. Eu não conseguia abrir a boca pra falar, embora eu quisesse.

— Para! — ela gritou, me assustando ainda mais, ela nunca gritou comigo daquele jeito — Para de fugir!

Eu travei, naquela altura eu já não sabia mais o que eu estava fazendo.

— Você vai sentar aqui agora, e vai ouvir o que eu tenho pra dizer! Você não é mais uma criança pra ficar fugindo dos problemas ! — ela estava séria, e tinha toda razão.

Embora ela nuca tivesse falado naquele tom comigo, eu sentei na outra extremidade da cama e minha atenção era toda dela.

— Ele não contou a verdade, por que eu pedi, eu te conheço Melina, você ia brigar com ele e hoje provávelmente vocês não iam nem se olhar — embora eu não quisesse admitir, ela estava certa, eu realmente não ia querer falar com ele, nem sequer ser amiga dele como sou hoje — o rei Antony me contou que ele tinha voltado para continuar a faculdade aqui em Eribella,    ele quis te contar, eu não deixei e agora estou vendo que só adiei o inevitável.

Fiquei um tempo em silêncio tentando processar aquilo tudo, eu estava me sentindo em uma novela mexicana.

— Por que você fez isso ? — perguntei, ela olhava pra mim com tanto carinho.

Ela abriu um pequeno sorriso e me observou por alguns minutos.

— Por que eu vi um brilho nos seus olhos que eu não via a tanto tempo querida — ela inclinou a cabeça pro lado me olhando com o rosto mais sereno que eu já pude ver naquela madame chamada Margot.

Embora eu estive com muita raiva do Aaron e incrivelmente decepcionada, o carinho com que minha mãe me tratou naquela noite afastava todas as coisas ruins na minha mente.

—Agora você vai pra casa, e quando Aaron te procurar, por que eu sei que ele vai,  você vai ouvir tudo que ele disser. — olhando para aqueles olhos era impossível dizer não.

Assenti para ela sem conseguir devolver aquele sorriso tênue dela. Eu não queria ver o Aaron nunca mais, mas ainda tinha aquele maldito Baile e ele iria me procurar de novo. Eu me estiquei sobre a cama e dei um beijo nela antes de ir em direção a porta do quarto.

— E mais uma coisa — ela continuou, me fazendo virar novamente para vê-la — Eu e a Mag vamos conseguir outro vestido pra você.

Eu suspirei em um pequeno sorriso antes de me voltar para o corredor e ir embora, eu estava descalça, mas não me importava, mas eu precisava dos sapatos mesmo assim, foi presente da minha mãe e eu gostava deles, se eu tivesse sorte eu ainda os encontraria.

Peguei o elevador novamente e quando cheguei a recepção Aaron estava sentado em um sofá em frente ao balcão do porteiro. Ele usava uma camisa social branca e mesmo com ela dava para perceber seus músculos perfeitos, e a calça jeans preta combinava bastante com ele, seu cabelo estava bagunçado, parece que ele fez de propósito. Passei por ele como se ele não estivesse ali e fui em direção a rua.

— Melina espera! — ele chamou, mas fingi não ouvir nada, afinal eu não queria conversar naquele momento, até ele entrar na minha frente e colocar meu par de sapatos que eu tinha deixado para trás, sobre as mãos — deixou isso pra trás cinderela.

Que piada ridícula. Eu peguei os sapato e coloquei nos pés e continuei andando envolvendo um braço no outro por causa do frio.

— Por favor me deixa explicar — o desespero em sua voz fazia algo em mim doer mas a minha decepção era maior.

— Explicar o que? Não tem nada pra vossa Alteza explicar, agora volta pro seu palácio e pra sua vida perfeita antes que a sua mamãe mande me prender achando que eu sequestrei você — eu não olhei pra ele pra dizer, simplesmente não consegui.

— Não me chame assim...

— Por que não? É assim que uma réles plebeia deve tratar o seu príncipe, afinal você não me tratou como tal? Quando resolveu ir embora sem nem se despedir e me deixar sozinha aqui!

Meu coração batia acelerado, mas acelerado de ódio.

— Melina...

— Eu não quero ouvir suas desculpas...

Antes que eu pudesse terminar de falar ele colou seus lábios nos meus e me beijou, ele segurava meu rosto com as duas mãos, e mesmo tendo liberdade para sair daquele beijo, eu não queria, naquele instante eu era dele, e o calor do corpo dele era a única coisa que eu queria sentir.

— Foi o único jeito de fazer você parar de falar — ele sussurrou ainda com as mãos em meu rosto, seu olhar estava triste.

Quando finalmente entendi o que ele havia feito, deixei que todo a minha raiva se acumulasse em um único tapa em seu rosto, deixei-o para trás e continuei meu caminho a tempo de ouvi-lo sussurrar algo.

— Aí, mãozinha pesada — aquilo me fez abrir um leve sorriso de vitória.

Por baixo daquela muralha que construí, eu estava destruída por dentro. Vi um Ferrari vermelho parar ao meu lado, confesso que me assustei até o vidro abaixar e eu ver lá dentro o Duque Henry, ele sorriu de lado para mim se abaixando do outro lado do carro para que eu o visse.

— Melina, eu te procurei pela cidade inteira, esqueceu o celular comigo — ele disse me mostrando o mesmo celular que Aaron havia me dado quando nos conhecemos. — vem, entre, eu te levo pra casa.

Ele parecia ter caído do céu, Aaron iria me atormentar até em casa se Henry não tivesse aparecido ali. Olhei pro Aaron que ainda massageava a bochecha por causa do tapa que eu havia lhe dado, ele me olhava com um olhar de dúvida, as rugas em sua testa pareciam gritar para mim não entrar no carro. Pois eu entrei, não aguentava mais olhar na cara dele.

Pelo olhar dele aquilo o deixou com raiva, e era exatamente daquele tipo de satisfação que eu precisava naquele momento.

Segredos Do Tempo_ Volume 1Where stories live. Discover now