Capítulo 9

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Dois anos atrás ...

Após a morte de Carina, Victor entrou em um carrossel de atuações, ele não se lembrava de ter chorado no velório dela, recordava estar ao lado de Eduardo, de tentar distrair Melina, mas tudo passou como um filme diante de seus olhos. Depois, quando todos estavam muito ocupados demais ou dormentes pela dor, ele se trancou no seu quarto e chorou.

Mesmo que Carina nunca tivesse lhe dado o amor que ele ansiava, vê-la viva, sorrindo, conversando, o alegrava, o fazia menos infeliz em seu amor platônico. Mas ela se foi. E ele não podia chorar por ela, aquele era o papel de seu irmão, ele era apenas um cunhado, talvez, um amigo.

Após o enterro, ele inventou uma desculpa qualquer para se ausentar de seus deveres para com a empresa, e tentou viver seu luto longe do seu ambiente habitual, queria chorar por ela, sentir sua perda, sem ter que se justificar ou se explicar. Ele costumava frequentar bares em Londres, talvez um pouco insípidos demais para alguém de sua classe, mas naqueles lugares seria quase improvável encontrar algum conhecido. Ou assim, ele pensou.

— Àquele ali não é Victor Sorelli? — Dante, o primo rebelde de Donatella, apontou para um canto escuro do bar onde estavam.

Logo ela procurou distinguir de quem era aquela figura debruçada sobre uma mesa, o homem parecia estar afogando-se em suas mágoas. Ela não podia acreditar que era Victor, não podia aceitar. O jovem Sorelli que ela conheceu era galante e autoconfiante, não se assemelhava ao tipo de homem que se embebedaria em um bar qualquer de Londres.

— Eu não tenho certeza. — Ela forçou um pouco mais a visão, sua miopia não permitia identificar alguém tão distante, sendo que as poucas luzes e a grande quantidade de jovens amontoados não ajudarem. — Mas os Sorelli não são do tipo que se “misturam”.

Ela se lembrava bem dos jantares que seu pai a levava na casa deles, eram sempre refinados e educados, como uma realeza.

— Você também não, e olhe onde está — Dante girou em seu próprio eixo com os braços estendidos. — Em um bar de quinta categoria com a ovelha negra da família.

Seu primo não era bem o membro mais amado dos Rossi. Era escandaloso, festeiro e despreocupado. Viajava o mundo gastando dinheiro e fingindo ser um cantor. Enquanto ela, era uma boa garota estudiosa e calma, o exemplo de como um Rossi deveria ser, também, seu pai havia a controlado durante todos os dias de sua vida, se ele sonhasse que ela estava ali, com toda certeza ele teria um infarto, mas não antes de deserdá-la.

— Você me arrastou para cá! — Ela o relembrou.

— O que queria? Que eu te deixasse mofando naquele quarto vazio e frio de hotel? Não seja uma Rossi quadrada, por favor — Ele juntou ambas as mãos fingindo implorar. — Quando haverá outra oportunidade desta na vida? Titio Enrico nunca vai permitir outra viagem sem ele por perto, você é a princesinha dele, e ganhamos na loteria quando ele teve que ir para Espanha. Foi pura sorte!

Dante tinha razão, Enrico Rossi, nunca iria deixar sua única filha e herdeira viajar sozinha, o fato dele ser urgentemente solicitado na Espanha, abriu espaço para que ela tivesse uns dias de folga da coleira que ele colocou nela.

Donatella queria viver, fazer alguma besteira, se conhecer. Mas qualquer menção disso faria sua mãe desmaiar e a transformaria na mais nova ovelha negra dos Rossi, e ela não saberia lidar com a rejeição como Dante lidava.

— Vou subir no palco e cantar algumas canções, e você, ache um bom cara para dar uns beijos, precisa aprender um pouco sobre “contato humano”, se me entende — Dante deu um sorrisinho safado e se jogou naquela bagunça de pessoas em direção ao palco.

Ela não era nenhuma freira, como seu primo a descrevia, na verdade já havia beijado alguns caras, e namorado um rapaz na faculdade, mas foi rapidamente proibida de continuar, Enrico sempre descobria tudo o que ela fazia, e se mostrava bastante irritado. Então ela simplesmente parou de tentar beijar algum homem, seu pai iria escolher algum jovem que lhe fosse útil e seguisse um padrão igual ou superior ao de sua família.

Eu NÃO Te AmoWhere stories live. Discover now