Capítulo 17

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— O que você está fazendo aqui? — Victor ficou surpreso ao ver Tessa entrar em seu quarto, principalmente por ela também ser uma paciente, e nenhum deles terem se encontrado após o acidente.

Ela se aproximou devagar, Victor aproveitou para averiguar a aparência dela, supostamente ela parecia estar bem.

— Perguntei a enfermeira se você estava acordado, e vim te visitar. — Ela disse já ao lado da cama dele. — Você está bem? — Ela indicou o gesso.

Victor encarou a própria perna que estava engessada.

— Vou precisar usá-lo por um tempo, mas estou bem. E você?

— Estou ótima, seu irmão que praticamente obrigou o médico a me manter aqui, senão, já estaria em casa. — Ele se sentou na borda da cama. — Encosta pra lá. — pediu.

Victor obedeceu, e ela se sentou ao lado dele, ambos dividindo a mesma cama.

— E onde está ele agora?

— Trabalhando. — explicou.

Victor não conseguiu esconder o misto de surpresa e confusão.

— Eu disse para Eduardo que estava com Cuzco, e falei para Cuzco que estava com Eduardo. — Tessa explicou sua pequena travessura, e arrancou risadas de Victor.

— Você é terrível! Ele vai surtar quando descobrir.

— Eles estavam me sufocando. Estou ótima e agem como se eu fosse morrer a qualquer minuto.  — Suspirou.

— Estão preocupados.

Ela olhou para o nada a sua frente.

— Eu odeio quando as pessoas se preocupam comigo. Não estou acostumada com isso.

— Mas você morou com Cuzco quando adolescente, e pelo que vi ele sempre se preocupou muito com você.

Ela parecia perdida em seu próprio mundo.

— Só morei com ele por um tempo, depois me mudei para um apartamento. Ele sempre está preocupado comigo, desnecessariamente, lógico.

— Ele parece muito mais apegado à você que aos outros.

— Sou filha de uma amante, só sou aceita por causa do poder dele, e ele sabe disso. — fez uma pausa. — Então acho que tenta de alguma forma fazer com que eu me sinta parte da família. Mas, sinceramente não sou. Edna é educada, mas deve ser difícil pra ela me ver. Os outros viveram sem me conhecer por anos, então não estabelecemos laços, Maria é a mais próxima de mim, depois do meu pai.

Victor nunca havia pensado por aquele ângulo. Ela era uma filha bastarda, e os Dravas eram uma família muito importante e tradicional. Devia ter sido difícil para ela.

— Por isso você não mudou seu sobrenome? — Ele ficou curioso.

— Em parte. — Ela olhou para ele. — Eu também não queria perder a única coisa que sobrou da minha mãe. Bobagem não é? — Riu constrangida.

— Não, eu entendo. — Victor encarou-a. — Agora que paro para pensar, você também perdeu sua mãe cedo, assim como Melina. Você sente falta dela?

Tessa pensou um pouco antes de responder.

— As vezes quase não me lembro, mas em alguns momentos, muito específicos, daria qualquer coisa para estar com ela. — Ela pareceu refletir. — Eu a perdi em uma idade que precisava de uma mãe, uma companhia feminina. E teve alguns momentos que eu precisei dela mais do que qualquer outra coisa, ainda preciso. Confuso?

Victor negou.

— Mas Cuzco foi um bom pai, ele me apoiou e ajudou. Aprendi muito com ele. — Esclareceu.

— Vocês tem a mesma paixão. Sua escolha de profissão foi por causa dele, não foi?

Tessa sorriu.

— As outras garotas não se aproximavam de mim, ninguém queria que sua filha fosse amiga de uma bastarda. E Maria era de uma turma diferente da minha, mesmo sendo próximas, tínhamos nossas próprias vidas. Cuzco me levava para todos os lados com ele, nunca fui muito boa em nada. Um dia tentei atirar, e surpreendentemente eu era boa. Então me tornei atiradora.

— Eu achava que você tinha se tornado atiradora por causa de Eduardo. Eu sei que te julguei mal, me desculpe. — Rendeu as mãos ao alto e se apressou em dizer. — Como você se tornou professora? Quer dizer, você é muito boa, por que não competir?

— Você também é muito bom!

— Eu sou mais do tipo que gosta de trabalho de escritório. — Ele explicou.

— Não sei, eu só nunca me imaginei competindo.

Vendo ela agora, Tessa parecia uma menina. Sua estrutura delicada fazia o instinto de proteção de Victor aflorar, os cabelos presos em um rabo de cavalo deixavam o rosto pálido bem visível. Conhecendo ela, vendo tudo que ela fez pela família, como foi difícil, ele se arrependia por ter sido tão idiota no passado.

— Você é diferente do que pensei. Acho que te julguei mal todo esse tempo.

— Hum?!

— Eu só conseguia te ver como uma jovem desavergonhada.

Tessa ficou envergonhada.

— Me desculpe.

— Já passou. — Ela sorriu.

— Se te serve de consolo, eu invejava sua coragem de expor seus sentimentos. Me deixava frustrado, uma garota tão jovem ser mais corajosa que eu.

— Sua situação era mais complicada, Carina era sua cunhada.

— Você acha que eu devia ter tirado a roupa na frente dela? — Victor fez alusão ao momento mais vergonhoso que Tessa se lembrava de ter vivido.

Seu rosto pegou fogo, ela tinha certeza que estava vermelha.

— Prefiro quando você é assim. — Tessa confessou. — Se continuar sendo legal comigo posso acabar achando que quer ser meu amigo.

Victor gargalhou.

— Não posso perder a oportunidade de te perturbar.

Ainda consciente daquele dia, as lembranças eram vívidas como se tivessem acontecido ontem.

— Você viu tudo? — No seu intimo, ela torcia que não.

— Você fala do show de strip-tease? — Ele brincou um pouco mais. — Não posso mentir, vi tudo. Mas, se for te fazer se sentir melhor, acho que você é mais bonita agora.

Tessa levantou-se envergonhada e fugiu rapidamente para a porta, ela só queria sair daquele quarto e ficar o mais longe possível de Victor.

— Tessa?

Ela se virou e olhou para ele uma última vez antes de sair.

— Eu quero ser seu amigo.

Tessa sorriu, e deixou o quarto.

Eu NÃO Te AmoOnde histórias criam vida. Descubra agora