Capítulo 5

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Tessa encarou a mensagem no seu celular. Eduardo queria jantar com ela na véspera do casamento. Ele tinha chegado com Melina naquela manhã, algo que ela completamente não esperava; enquanto ela foi estritamente proibida de ir dar aulas ou visitar o clube de tiro por duas semanas, segundo seu chefe, ela tinha que aproveitar a lua de mel ao máximo, e aquilo era um presente. Ela suspirou. Será que Melina estaria presente? Ela fez careta, a menina iria odiar ela. Cansada, respondeu a mensagem, de qualquer forma teriam que se encontrar, já que eles serão um casal em algumas horas. Eduardo disse que mandaria um motorista ir buscá-la, pois o jantar seria na casa dele; mas ela disse que não precisava. Confirmou sua presença e foi ao quarto procurar um vestido, ainda tinha alguns; sem a mínima vontade de se arrumar e parecer que estava com outras intenções, ela optou por usar calça jeans e uma camiseta, de qualquer forma eles teriam que se acostumar mesmo.

Ela tentou não atrasar, afinal conheceria a filha de Carina, ela se lembrava de como se sentiu horrível quando sua mãe morreu e teve que morar permanentemente na Itália; assim que chegou na sua nova vida descobriu que Carina estava grávida. Tessa demorou um pouco para esquecer Eduardo, e passou a evitar qualquer possível evento ou local que os Sorelli pudessem estar, com o tempo passou a pensar pouco nele, não ouvia notícias sobre ele ou família, se envolveu no trabalho, e anos se passaram; aos 25 anos ela não sentia nada, era como um imenso “nada” dentro de si, então por fim, se sentenciou curada daquele amor platônico.

A casa era maravilhosa, logo ela moraria ali, suspirou. Ela desejava profundamente que Melina ao menos a tolerasse, não queria problemas dentro de casa, e muito menos com a herdeira de Eduardo. Tocou a campainha e foi atendida por uma senhora uniformizada. Foi levada a sala de jantar, viu Eduardo sentado a cabeceira da mesa, a filha do lado direito, parecia uma cena de jantar antigo. A garota tinha longos cabelos escuros e pele morena, parecia uma cópia exata de Carina, usava um vestido simples porém com classe. Eduardo estava usando calça social e camisa branca, nada de gravata ou paletó, mas algo lhe dizia que ele ainda usava a roupa que ia para a empresa.

Ela foi anunciada e se sentiu analisada por Melina, Eduardo a cumprimentou e esperou que ela se acomodasse ao seu lado. Ao se sentar notou que Eduardo também encarou seu jeito de se vestir. Ela sentiu necessidade de explicar.

— Vocês costumam jantar vestidos formalmente? — questionou.

Eduardo sorriu, mas Melina continuava a analisando.

— Melina, esta é Tessa. — apresentou. — Tessa, essa é minha filha, Melina.

— Você é bonita como sua mãe, até pensei que estava vendo ela quando entrei, são muito parecidas — Depois de se meter nos momentos mais vergonhosos tentando seduzir Eduardo, e sofrer por não ser correspondida, Tessa desenvolveu o defeito, como ela chamava, de falar mais do que devia.

Eduardo analisou o que ela disse, parecia um pouco chocado. Mas Melina riu.

— Obrigada — ela tinha uma voz muito meiga, e um sorriso gentil; não parecia o tipo de menina que lhe daria trabalho. — Todos dizem isso.

Eduardo suspirou, ele estava aliviado. O que ele queria? Que ela brigasse com a menina logo de cara?!

— Respondendo a sua pergunta anterior, não temos normas de vestimenta em casa — Ele esclareceu, aquilo era bom, Tessa odiava se vestir formalmente, atualmente era uma típica moleca.

Logo a mesma senhora que a atendeu começou a trazer os pratos para a mesa, Tessa encarou tudo com desgosto. Não conseguia evitar fazer careta. O cardápio era totalmente a base de frutos do mar, e o problema era que ela tinha uma alergia feroz.

— Tudo bem? Não gosta de frutos do mar? — Eduardo perguntou. — Melina adora e pediu que fizessem, se não gostar pode pedir outra coisa.

— Não é que eu não goste. — Tessa tentou evitar o atrito com Melina, não queria parecer estar sendo contrária à ela. — Sou alérgica.

— Me desculpe, não sabia. — Eduardo demonstrou arrependimento.

— Tudo bem — Ela acalmou.

— Então não podemos mais comer mariscos e camarão? — Melina perguntou frustrada.

— Não, vocês podem comer — Tessa garantiu. Não ia ser uma chata e impedir a garota de comer seu prato favorito. — Desde que eu não entre em contato, tudo bem.

— Você fica vermelha e inchada? — Melina perguntou curiosa.

Tessa riu.

— Depende, mas se eu comer, não consigo respirar.

— O quê você gostaria de comer? Pedirei a Maura que lhe faça algo. — Eduardo perguntou.

— Qualquer coisa que não seja frutos do mar — Deu de ombros. Ela percebeu que Maura, era a senhora que serviu a mesa e lhe atendeu na porta de entrada. A mulher se retirou para a cozinha para lhe fazer um prato diferente.

— Sinto muito — Melina disse. — Eu que pedi a papai que fizessem frutos do mar, fazia muito tempo que eu não os comia.

Tessa sorriu e pediu que não se preocupassem.

Melina parecia interessada em conhecê-la, perguntou sobre seu trabalho, sua família. Logo um bife acompanhado de salada foi servido a Tessa, permitindo que todos finalmente jantassem.

— Vocês terão mais filhos? — Melina perguntou.

Eduardo parou de comer e encarou a filha, Tessa não esperava aquela pergunta, talvez a menina não soubesse que aquele era um casamento arranjado, então esperou que ele respondesse.

— Ainda não conversamos sobre isso — respondeu. Na verdade não haviam conversado sobre nada, em três semanas, Cuzco ofereceu a Eduardo o acordo que envolvia aquele casamento, eles noivaram e iriam se casar.

Tessa focou em continuar comendo, enquanto Eduardo direcionava a conversa para pontos mais amenos, de forma que tanto Melina quanto Tessa se sentissem a vontade. A menina começou a falar dos dias que passou na casa dos avós maternos, e Tessa descobriu que ela estudava em casa, com tutores; parecia que pertencer a uma família que trabalhava com todo tipo de armamento tornou difícil a entrada dela em uma escola.

Melina se retirou logo após o jantar, Tessa podia dizer que ambas poderiam manter uma convivência pacífica, e aquilo a tranquilizava.

Mais tarde, Eduardo e ela saboreavam um café na sala de visitas.

— Me desculpe pelo jantar, realmente não sabia que era alérgica — Ele estava relaxado sob o encosto, enquanto a xícara descansava sobre o pires na mesa de centro.

— Tudo bem, você não era obrigado a saber; e eu esqueci de avisar, acontece. — acalmou-o.

—  Melina e você pareciam confortáveis uma com a outra. — ela notou satisfação no tom de voz dele. — Isso é bom, pode não ser convencional, mas seremos uma família.

Tessa não sabia o que dizer, apesar de ter morado com Cuzco e a família dele, ela sempre se sentiu uma intrusa, só conseguiu se sentir “parte” quando ela e a mãe estavam juntas. Ela não conseguia se encaixar, e agora teria que ser uma figura feminina na vida de uma menina e esposa de um homem de negócios. Aquilo a amedrontava um pouco, naquele momento ela desejou ter a audácia e coragem daquela adolescente que ela foi um dia.

— Você está bem? Parecia distante. — Eduardo a encarou.

— Só estava pensando. — Tessa bebeu um gole de café para encerrar o assunto. — O quê espera de mim? Como você mesmo afirmou não nos conhecemos, não é um casamento convencional, e nem conversamos sobre “nós“ antes. — Ela estava preocupada que tivesse feito uma escolha infeliz.

— Que tal irmos com calma? — Eduardo ofereceu. Será que ele sabia do carisma que emanava? Ela pensou.

— É, pode ser. — Ela concordou. — Tudo no seu tempo.

Tinha chegado ao fim da noite sem nenhum atrito ou problema aparente entre ela e Melina, então podia considerar o jantar um sucesso.

Eu NÃO Te AmoOnde histórias criam vida. Descubra agora