Capítulo 37

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- Ah, ok. - ela respondeu saindo do escritório e fechando a porta atrás de si.

No corredor ela respirou fundo, sem acreditar no que ouviu. As palavras pareciam gravadas em sua memória. Ele gosta dela. Não conseguiu esconder um sorriso. Ele gostava dela.

De repente, um estalo. Ele disse apenas que gostava dela. E 'gostar' era uma palavra muito ampla. Ela gostava de Victor, gostava de seus alunos, gostava de trabalhar, gostava de filhotinhos, gostava de coisas coloridas... gostava de muitas coisas. Ela se arrependeu de não ter feito a pergunta certa. Devia ter perguntado se ele a amava, se condenou, frustrada.

Tomou coragem e entrou novamente no escritório, para quase topar em Eduardo. Ele ficou encarando ela, com aquele ar de que achava toda aquela situação divertida, inusitada. Tessa agarrou a maçaneta com força, sua segunda chance. Dessa vez faria a pergunta certa.

- Você gosta de mim como? Quer dizer, essa pergunta foi confusa. - Brigou consigo. Tentou novamente. - Ahm... para você o que é gostar?

Ele deu um sorriso de lado, obviamente estava fazendo papel de tola, e ele achava aquilo engraçado. Mas ela se manteve firme, e fez o possível para que sua expressão demonstrasse seriedade. Então ele avançou. Com as mãos segurou ambos os lados da face dela, se curvou até que ficassem cara a cara, e a beijou. Sua mente entrou em curto-circuito.

Ela devia dizer que aquele foi o melhor beijo de sua vida? Devia admitir que adoraria desacelerar o tempo para aproveitá-lo calmamente.

Mas seus devaneios acabaram assim que ele interrompeu o beijo, e ela protestou. Antes que pudesse se controlar, resmungou. Aquilo foi como um elogio para Eduardo, saber que ela gostava tanto daquilo quanto ele.

- Isso responde as suas dúvidas? - ele disse contra seus lábios, mas antes que ela fosse capaz de formular alguma palavra, ele atacou outra vez. Mordeu seu lábio inferior, e o sugou, totalmente sem controle, ela amoleceu nos braços dele. Novamente ele estava a beijando, em algum momento durante o beijo, a mão dele a puxou pela nuca, enquanto a outra a agarrava pela cintura, como se a proximidade entre eles não fosse suficiente, ele queria mais, muito mais. - Eu gosto de você Tessa. - Ele repetiu, por fim.

Ainda desnorteada, tentava entender o que havia acabado de acontecer entre eles.

- Por mais que eu queira continuar beijando você, acho que não é o momento certo, precisamos resolver algumas coisas antes. - Ele a trouxe de volta a realidade.

Cuzco morreu a menos de 48 horas, ela ainda estava emocionalmente instável, e ainda era preciso resolver problemas com a herança. Eles tinham tempo.

- Depois, quando você estiver bem, quando as coisas se resolverem, voltamos a ter essa conversa. - Ele beijou-lhe a testa, antes de se afastar. - Prometo.

Ela concordou. Por enquanto, aquilo era suficiente.

Horas mais tarde Lennister, o antigo advogado de Cuzco apareceu na casa deles. Já esperavam por aquela visita.

- Vou anunciar o testamento de seu pai. - Lennister trazia consigo alguns documentos. - A leitura oficial já foi realizada após a morte, entretanto não contou com sua presença. Qualquer dúvida, estou pronto para esclarecê-la.

Eduardo e Tessa estavam sentados lado a lado no escritório, frente ao advogado; um senhor, que ela já tinha encontrado algumas vezes ao longo da vida. Lendo atentamente o testamento, ele prosseguiu.

- "Eu, Cuzco Luigi Dravas, estando em perfeito juízo e pleno gozo de minhas faculdades intelectuais, sem qualquer tipo de induzimento ou coação, decidi lavrar o presente testamento, no qual declaro minha última vontade. Minha filha, Tessa Ridley, herdará 35% de todos os meus bens; minha paciente esposa, Edna Dravas, herdará 15% dos meus bens; e cada um dos meus demais filhos, Lauro Dravas, Enzo Dravas, Fellipo Dravas, Maria Dravas e Rita Dravas, receberão 10% de todos os meus bens, cada um. O fundo Dravas, será conduzido por minha filha Tessa Ridley, sob orientação de Lennister Forester, meu advogado".

Tessa segurou a mão de Eduardo enquanto Lennister lia o testamento. Ela era rica, mas não estava feliz. Devolveria todo aquele dinheiro, se pudesse ter um tempo a mais com o pai.

- Senhora Sorelli, - o advogado chamou. - Este testamento foi escrito há cinco anos, meu cliente, o senhor Dravas, o alterou e incluiu seu nome assim que soube da sua existência, mas com o passar dos anos, modificou-o, sendo esse o testamento final.

Ela concordou.

- Tessa. - o homem segurou os documentos sobre o colo, e a olhou com compaixão. - Eu conheço seu pai desde quando éramos jovens adolescentes, eu fui seu advogado assim que me formei na faculdade e venho sendo até hoje, em toda nossa história, eu nunca o vi tão feliz. Você alegrava os dias dele, e ele se orgulhava de que você fosse como é. Ele fez muitas escolhas erradas nessa vida, e se arrepende de muitas delas, mas nunca se arrependeu de você, de tê-la assumido. Ele queria ter te dado o sobrenome Dravas, você se lembra? - esperou ela confirmar, antes de continuar. - Mas você preferiu permanecer usando o sobrenome de sua mãe, e mesmo que aquilo o tivesse magoado, ele ficou orgulhoso, de sua coragem e respeito. Como pai, não te direi que ele amou algum filho mais que outro, mas te digo que ele se orgulhava de ser seu pai. Acho que devo dizer isso por ele. Você foi uma boa filha, nunca duvide disso.

Ela mordeu os lábios apreensiva, mas Eduardo não soltou-lhe a mão em nenhum minuto, dando-lhe confiança.

- Quanto a herança, Edna e seus irmãos, não contestaram nada. Outros familiares parecem não concordarem com o testamento, mas garanto não haver problemas legais, já que este foi escrito antes do tumor ser encontrado.

Ela entendeu, e por um instante ficou aliviada, não sabia se poderia lidar com brigas judiciais naquele momento.

- Seu pai acha que você deve assumir o Fundo Dravas, e dirigir a gestão de todos os investimentos da família. Ele acreditava na sua capacidade, e assim como o ajudei, pretendo ajudá-la.

- Obrigada. - ela murmurou.

- Eu que sou grato, ao seu pai, por confiar em mim durante todos esses anos. Espero que possamos continuar de onde ele parou.

Tessa ficou grata pela paciência de Lennister ao explicar-lhe tudo, tirando suas dúvidas, direcionando-a nas próximas decisões a serem tomadas. Ainda havia um longo caminho a percorrer, e muita coisa para aprender.

Ela ficou encarando a cópia do testamento que recebeu. Não parecia real.

- Se precisar de ajuda, você pode contar comigo. - Eduardo garantiu. - Com qualquer coisa, estou aqui.

O coração dela se aqueceu. Havia um lugar onde poderia descansar, um lugar que poderia chamar de lar. Ela tinha em quem se apoiar. Provavelmente aquele era só o início de uma longa e árdua batalha. Entretanto, conseguia ficar calma, porque ele estava ao seu lado.

- Eu acho que devo confessar que não fui uma excelente aluna na escola, e que números não são o meu forte.

- Você pode aprender, e eu vou te ajudar. - Ele insistiu. - Fique tranquila. - Sorriu. - Acho que devo lhe confessar que fui um ótimo aluno na escola, e que sou muito bom com números.

- Foi por isso que você assumiu a Sorelli tão cedo?

- Não, naquela epoca, meu conhecimento não era suficiente para lidar com uma empresa tão grande, precisei da ajuda de muitas pessoas - ele explicou, seus olhos perdidos, como se estivesse revisitando aquele momento de sua vida. - Mas foi preciso. Alguém tinha que assumir, e eu tive coragem. Ou talvez só não tivesse noção da situação.

- Eu acho que você foi corajoso.

- Parece que agora é sua vez de ser corajosa.

- Você disse que precisou de algumas pessoas, agora precisarei de você. Não ouse me deixar sozinha no meio disso tudo.

- Não pensei que houvesse essa possibilidade. Vou estar ao seu lado, sempre.

Eu NÃO Te AmoWhere stories live. Discover now