Capítulo 39

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Victor encarou o irmão. "Por que ele não dizia nada?"

- Eduardo ... - Chamou, mas ele apenas o olhou. "Olhares deviam doer?"

Tessa mordia os lábios apreensiva. Seu marido não fazia nada, só os olhava, paralisado. A espera pela resposta era pior do que a resposta em si. A angústia, o nervosismo, os consumiam.

- Eduardo ... - voltou a chamar o irmão.

- Vamos conversar Victor. - ele disse seriamente, e saiu.

Tessa não sabia o que esperar deles, ela não queria que eles brigassem, mas não sabia o que fazer, como poderia melhorar a situação.

Victor seguiu o irmão.

- Espera! - Tessa o puxou pelo braço, impedindo-o. - Não seria melhor conversarem depois? Ele acabou de descobrir, pode estar chateado, quer dizer, deve estar chateado! Conversem depois, por favor. - Ela pediu.

Mas Victor não concordava com ela.

- Precisamos conversar, Tessa. - ele se afastou dela. - Já estamos atrasados, mais de uma década atrasados. Se não conversarmos agora, a mente dele vai criar inúmeras teorias.

Ela entendia o que Victor queria dizer, então o deixou ir. E por mais que quisesse confiar neles, que não aconteceria nada que destruísse a festa de Melina, ainda sentiu necessidade de segui-los, só por precaução.

Victor e Eduardo pararam em uma sala vazia, um cômodo distante do local da festa, ela observou eles se aproximando de um balcão onde havia várias bebidas. Eduardo pegou uma garrafa e se serviu, em seguida, Victor fez o mesmo. Depois, se sentaram lado a lado, em silêncio.

Ela viu seu marido beber todo o líquido do copo, e enchê-lo novamente. Seu coração estava acelerado. "Ela devia ter chamado alguém? Avisado? Seu sogro talvez?"

Eduardo observou o líquido se movendo enquanto balançava o copo.

- Você era apaixonado por Carina? - Direto. Nem sequer olhou para Victor ao fazer a pergunta.

Victor apertou seu copo entre os dedos. O momento que ele mais temeu na vida, estava acontecendo.

- Eu posso explicar ...

- Te perguntei se amava ela. - Eduardo o cortou. - Só responda.

- Me perdoe. - Victor ficou cabisbaixo, incapaz de olhar para seu irmão. - Eu juro que nunca aconteceu nada. Eu apenas gostava dela, só isso. Eu nunca a contei.

- Por que não me disse?

Victor encarou o irmão, que ainda observava a própria bebida.

- Eu não poderia. - Confessou. - Não consegui dizer à ninguém.

- Eu sou seu irmão. - ele murmurou.

- Por isso não consegui dizer. Isso destruiria nossa família. - Victor se sentia péssimo. - Você faz ideia do quanto foi difícil? Eu me apaixonei por ela no nosso primeiro encontro, foi um acidente. Mas ela não se apaixonou por mim, foi unilateral, e depois de um tempo ela conheceu você, e se apaixonou instantaneamente. E tudo aconteceu tão rápido entre vocês, eu não tive tempo para me acostumar, ela estava sempre por perto, era difícil esquecê-la. Os mesmo motivos que fizeram você gostar dela, fizeram com que eu me apaixonasse. Ela era linda!

Finalmente Eduardo olhou para o próprio irmão, mas Victor não conseguia interpretar o que ele estava sentindo.

- Ela era gentil, e divertida. Você se lembra, você sabe do que estou falando. - Ousou continuar. - Carina era simpática, esperta e conseguia distrair qualquer pessoa, podia falar sobre qualquer coisa. Quantas vezes, não ficamos calados para ouvi-la? Ela tinha classe, bom gosto e educação, mas não era esnobe, era mais fácil falar com ela, do que com qualquer outra mulher do nosso círculo social.

Eduardo ficou triste.

- Você podia ter nos dito, devia ter nos dito!

- E depois? Fazer vocês se sentirem estranhos na minha presença? - Victor bebeu sua bebida. - Não faria diferença, e era mais fácil gostar dela em silêncio.

- Você não sabe, ela poderia ter mudado de ideia, poderia ter escolhido você. - Eduardo engoliu a bebida, mas era como fogo em sua garganta.

- Não, nós dois sabemos, que ela teria escolhido você. - Victor sorriu. - Ela amava você. Totalmente. E tudo bem. - Ele suspirou. - Esse foi um dos motivos para me manter em silêncio, ela só me via como um amigo, um irmão. Me acostumei, a gostar dela sozinho, sem reciprocidade.

- Eu sinto muito, se soubesse, eu teria ...

- Você teria deixado ela? Teria perdido a chance de viver com ela tudo que viveu? - Victor se compadeceu, seu irmão mais velho estava agindo como de costume. - Eu sou um homem, posso lidar com um amor não correspondido. Se você desistisse dela por mim, eu me sentiria pior.

Eduardo não sabia o que dizer para o irmão. Para o consolar.

- Você gostou dela todo esse tempo? - Perguntou, com receio da resposta.

- Eu gostei dela até recentemente. - Confessou. - Mas me apaixonei de novo.

- E essa nova garota? - Eduardo parecia apreensivo. - Ela também gosta de você?

- Parece que sim. - Victor resolveu brincar, para dissipar o clima denso que estava entre eles. - Pelo menos uma vez tenho que ser retribuído, não é?

Mas Eduardo não sorriu.

- Eu juro. Não aconteceu nada, eu nunca faria algo assim com você.

- Eu sei. - Eduardo o olhou. - Te conheço bem o suficiente para saber que você é um homem de princípios, incapaz de agir pelas minhas costas. Eu confio em você. E sobre te perdoar, não é preciso. Você não fez nada de errado, desde quando controlamos nossos corações? Gostar de alguém é um crime?

Victor abraçou o irmão.

- Eu sinto muito, eu sinto muito...

Eduardo tocou o ombro do irmão.

- Eu que devo me desculpar, por não perceber, por não saber que gostava dela. Deve ter sido muito difícil para você? E eu sempre estava te trazendo para nossa vida, foi muito insensível da minha parte.

- Você não sabia de nada. - Victor o defendeu. - Mas tudo bem agora. Eu gosto de outra garota, e tenho certeza que ela gosta de mim.

- Tessa sabia.

- Ela descobriu. Antes de vocês ficarem noivos, ela é muito perceptiva. - Victor riu ao se lembrar de como ela o confrontou. - Dois iguais se reconhecem, por isso somos amigos, compartilhamos a mesma sina no amor.

- Eu tive ciúmes de vocês dois. - Confessou a contragosto. - Estavam sempre juntos, conversavam sem parar pelos cantos, era como se eu estivesse sendo excluído.

- Você não tinha ciúmes de mim com Carina - ele alfinetou.

- Carina era diferente. - Eduardo confessou. - Tessa é complicada, nunca sei se estou fazendo o certo perto dela.

Tessa escutou das sombras. Ela sabia que era complicada, mas ouvir ele descrevê-la assim a magoava, cuidadosamente ela se afastou, eles não iriam brigar como temia, então podia ir embora.

- Carina sempre me dizia o que queria, como se sentia. Então eu não tinha dúvidas sobre seus sentimentos. - Ele estava frustrado. - Eu não sei o que Tessa sente a maior parte do tempo, ela não pede ajuda, se esconde, e sofre sozinha. Eu preciso sempre observar atentamente, para poder ajudá-la.

- Você gosta dela? - Victor perguntou. - Tudo se resume a isso. Amá-la ou não. Então, você ama ela?

- Eu a amo. - Confessou. - Meu coração acelera sempre que a vejo do outro lado da sala, fico apreensivo quando ela fica quieta muito tempo, e imensamente preocupado quando sei que esteve chorando. Quero protegê-la, e fazer todas as suas dores sumirem, mas só posso abraçá-la na maior parte do tempo. 

- Você devia dizer isso à ela. - Victor o incentivou. - Sabe, ela ama você.

Eduardo ficou em silêncio.

- Ela me confessou isso. Ela te ama. - Victor afirmou novamente. - Se eu fosse você, confessava logo. Ela também te acha complicado. - Assim que Eduardo se levantou, Victor o chamou: - Irmão, eu não te disse nada.

Eduardo concordou, e foi procurar Tessa.

Eu NÃO Te AmoOnde histórias criam vida. Descubra agora