Capítulo Dois

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ELENA ANDRADE

Folgado, é isso que Rafael Monteiro é.

Deveria ter me negado a ajuda e deixá-lo se fuder para explicar a situação para os pais. Onde já se viu me colocar no meio e nem ter me avisado antes.  

Entro na sala com passos duros, espero que ele demore para subir, não preciso de especulações sobre chegarmos juntos na sala. Ignoro os demais alunos e vou para a minha carteira, no fundo da sala, Nabim e Renan já estão em seus lugares. Empurro uma mochila para o lado, mania de deixar essa merda no meio do corredor.

Diego, o dono da mochila chutada, me encara bravo, mas decide ficar quieto. Ótimo.  

Coloco a minha mochila debaixo da mesa, como todos deveriam fazer, e me sento. Nesse momento, Rafael chega na sala e vai para o seu lugar no lado oposto da sala.  

— O que queria? — Pergunta Renan, indicando Rafael com a cabeça.  

— Me informar que serei sua professora de física. 

— O que? — Dessa vez quem pergunta é Nabim. — E você "aceitou"?  

— Aceitei.  

— E por quê? — Renan fica quieto, apenas observando. Seus olhos azuis parecem saber exatamente tudo que se passa na minha cabeça.  

— De verdade… Não sei, ele perguntou e depois falou que havia contado para os pais, fiquei sem graça de recusar. — Dou de ombros.  

— É porque você é tão generosa Elena, sempre disponível para ajudar os outros. — Nabim diz num tom levemente irônico. Ergo o dedo do meio para ele. 

— Pelo o que ouvi. — Renan resolve finalmente se pronunciar. — O pai dele faz uma puta pressão para ir bem e ele tá para ficar retido em física, deve ser por isso que foi atrás de você.  

— Caramba, Renan, você é muito fofoqueiro. — Nabim comenta.  

— Não sou fofoqueiro, sou observador. Hoje de manhã mesmo a Clara deu os resumos dela para ele. — Ergo a sobrancelha, um pouco chocada. 

— É verdade, você não é fofoqueiro, você é um perseguidor. — Nabim corrige sua outra afirmação, rindo.  

De nós três, Nabim é o mais extrovertido, talvez por ter tido que abandonar seu país por causa de guerras, ele saiba ver a felicidade com mais facilidade do que eu e Renan.  

— Não sou nenhum dos dois. - Renan bufa, é sim, fofoqueiro para porra. — Só fiquei olhando porque ontem ele encarava a Elena estranho.  

Sim, ele me encarava ontem, sentia minha pele queimar, mesmo com vontade de encarar de volta, me contive e continuei anotando o conteúdo que a professora Cláudia passava na lousa. Diferente de mim, que resolveu ignorar, Renan fez questão de retribuir o olhar e depois me contar.

Antes que pudesse dar continuidade a conversa, o professor Saulo de geografia entrou na sala, pronto para iniciar a aula.  

                                     *                                                              

Sozinha, ia na direção do meu carro. Era uma das únicas do terceiro a ter habilitação e carro, então sempre tem uma pequena comoção quando chego e quando vou embora, porque vir com seu próprio para o colégio é muito empolgante, de acordo com os alunos. Para mim, é só um estresse a mais, dirigir em São Paulo exige calma, característica que não tenho. 

A física entre nós [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now