Capítulo Trinta e Seis

3K 306 19
                                    


RAFAEL MONTEIRO 

São quase quatro horas da tarde e os pais de Elena ainda não chegaram. Segundo Renan, Lucas e Mariana saíram do Álvares de Azevedo e foram direto para uma delegacia fazer um boletim de ocorrência contra Fernando. E não apenas eles, ao longo do dia, mais alunas apareceram relatando que também foram assediadas por Fernando.

Ou seja, o Álvares de Azevedo está afundado na merda. 

Deixando os pensamentos de lado, foco no filme que passa na tevê. É o segundo filme de High School Musical e o Troy fudeu tudo com a Gabriela, de novo, burro demais. 

Nabim, querendo alegrar Elena, selecionou vários filmes da Disney para a gente assistir. O resultado é uma sessão interminável de filmes chatos e com música. Como se cantar resolvesse alguma coisa. Mas, Elena está gostando, cantando as músicas baixo, e ela sabe todas músicas e acredito que as coreografias também. Por isso, eu fico quieto, vendo a Gabriela ir embora. 

Nabim começa a cantar a música, provando ser um apreciador de musicais adolescentes. Ele coloca o cobertor na cabeça, imitando o cabelo, interpretando a Gabriela. Virando para Elena que está deitada no meu peito, estica o braço para ela.

— .. I gotta go my own way. — a voz de Nabim é melhor do que esperava, segurando a mão de Elena, ele a induz a compor a outra voz do dueto.

— What about us?

What about everything we've been through? — entrando na onda, Elena assume seu lugar como Troy Bolton. Ela entra no personagem, copiando as expressões do ator.

— What about trust? — seguro a risada, Nabim imitando a Gabriela com um cobertor na cabeça, é demais para mim.

— You know I never wanted to hurt you! — com a mão de Nabim na altura do coração, Elena segue a apresentação.

— And what about me?

— What am I supposed to do?

— I gotta leave but…

— I'll miss you! — mostrando total sincronia com o filme, eles cantam juntos. 

— So…

I've got to move on and be who I am! — soltando a mão de Elena, Nabim olha para o janelão que tem na sala, como se visse o carro da mãe da Gabriela ali.

Os dois seguem cantando juntos até o fim da música. Aproveito o show amador segurando firmemente a risada, Elena pode ser uma gênia com todas as suas fórmulas e contas, mas cantora… Isso ela não é.

Mas, mesmo com a voz desafinada, sorri vendo a interação dos dois. O seu sorriso apareceu, pequeno e discreto, e os olhos castanhos, antes opacos e medrosos, estão brilhantes e a pequena chama volta, aos poucos, a reluzir. 

Não acredito que dê hoje para amanhã tudo ficará bem, porém, é um começo. Estar rodeada de confiança é um bom começo. 

— Agradeçam por terem outras habilidades, porque se fossem depender da voz, estariam fudidos. — Renan fala, quando o show termina. 

— Cara… Eu não podia ser bom em tudo, deixaria os outros em desvantagem. — Nabim tira o cobertor da cabeça, soltando- o no sofá. Recostando-se em mim de novo, Elena toma fôlego depois de cantar.

— Tudo o que Nabim? 

— Renan, acompanha… — Com a mão levantada, Nabim começa a enumerar suas qualidades. — Primeiro: bonito, segundo: inteligente, terceiro: cozinheiro, quarto: dono de casa, faço uma faxina como poucos, quinto: humilde. Preciso continuar? 

A física entre nós [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now