Capítulo Trinta e Quatro

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RAFAEL MONTEIRO

O meu jogo tinha acabado, agora observava os outros dois times jogando. Elena demora em sua conversa com Fernando. Seja lá o tema, deve ser algo sério.

— Cadê a Elena? — questiona Nabim. — Ela está demorando demais.

Deve ter uns quinze minutos que Elena saiu da quadra.

— Cara, é o Fernando, você sabe como ele é insuportável. Deve estar enchendo o saco dela, por causa de alguma coisa besta. — Renan responde, não presto muita atenção.

Procuro por Lúcia e Clara, não as vejo em canto algum da quadra, devem ter de enfiado em algum banheiro.

— Eu tô com um sentimento ruim, não sei. Desde quando o menino veio chamar ela, eu tô sentindo isso, a gente precisa ir atrás dela.

Mateus acaba de perder a bola, idiota.

— Acha mesmo que devemos ir atrás dela? A Elena já deve estar vol…

Eu não sei qual foi o final da fala de Renan. Porque no meio dela, uma Lúcia afobada e assustada entrou correndo na quadra chamando a minha atenção a de Renan e Nabim.

As traças balançavam atrás dela, os olhos estão arregalados e a respiração muito ofegante. Estranho Clara não estar com ela, as duas tinham saído juntas.

Será que algo aconteceu a Clara?

Lúcia para na nossa frente. Coloca a mão no peito, tentando estabilizar a respiração. E diz: — A Elena… no banheiro… ela tá chorando… ela… — sua fala é cortada pela sua busca por ar.

Nos levantamos, sem nem terminar de ouvir.

— Onde? — o questionamento vem de Renan. A sua voz sai preocupada e a postura está totalmente alerta.

— Banheiro… segundo andar.

Saímos em disparada, de longe escuto o professor gritar perguntando o que estamos fazendo.

O som de nossos passos ecoam pelos corredores, subimos de dois em dois a escada, a cada degrau passado, três parecem surgir, deixando a escada mais longa, adiando a chegada.

A porta do banheiro está fechada, paramos, tentando recobrar o fôlego. Devagar, Nabim abre a porta. E o que vejo, quebra meu coração.

Encolhida no chão e debaixo da pia, Elena chora com as mãos tampando o rosto. As pernas estão encolhidas contra o peito, ela parece querer se fundir a parede.

Clara passa a mão em seus cabelos, tentando acalmá-la. Paralisados, assistimos Clara vir em nossa direção.

— O que aconteceu? — Nabim questiona, preocupado com a amiga. Eu fico só assistindo sem saber como reagir.

— Eu não sei, ela não fala. Eu e a Lúcia a encontramos assim. — Renan e Nabim acenam, entendendo.

Dou um passo à frente junto com eles, mas uma mão me contem. Vejo os dois irem até a amiga, abaixam do lado dela. Renan começa a falar algo para Elena, mas é tão baixo que eu, Clara e Lúcia não conseguimos ouvir.

— Deixa eles cuidarem dela, Rafa. — viro para Clara, sem entender o seu pedido. Eu posso ajudar, posso cuidar dela. Eu quero.

— A Clara tem razão, vamos pensar em algo para ajudar, tá bom? — Lúcia reforça a fala da namorada.

De longe, assisto Renan pegá-la no colo, a tirando do chão. Elena segura com força a camiseta de Renan e esconde o rosto no seu peito. Ele passa por mim, a carregando para fora do banheiro. Nabim vem logo atrás, porém diferente do loiro, ele para na nossa frente.

— Ela não falou muita coisa, mas ela disse que o Fernando a agarrou e… — Nabim não precisa terminar, eu sei o que vem depois. Aperto os punhos com força, as unhas curtas cortando as palmas.

Aquele filho da puta!

De fundo escuto as falas surpresas e enjoadas de Clara e Lúcia.

Sempre soube que Fernando era um filho da puta escroto do caralho. E além disso é a porra de um assediador, abusador, nem sei que nome dar.

— Vou ligar para a tia Mariana e depois para o tio Lucas, você pode buscar as coisas dela na sala? — pergunta olhando para mim. Nabim está com uma expressão séria, o sorriso que sempre estampa seu rosto sumiu.

— Posso sim.

Com a minha resposta, ele deixa o banheiro atrás de Renan.

— Puta merda! Eu nem sei o quê falar. — digo, passando as mãos no rosto, tentando espantar o estupor que me tomou.

Meu peito parece pesar uma tonelada, a minha respiração sai lenta, como se alguém pressionasse minha caixa torácica.

Minha mente está nublada pelos cenários que rodam os meus pensamentos. Até onde aquele filho da puta pôde ter ido?

Só de imaginar o que aquele desgraçado fez com Elena… a minha Elena, tenho vontade de bater nele, socar seu rosto, até sangrar.

Até fazê-lo sentir toda a dor que Elena está sentindo agora. E vai sentir para sempre. Porque isso é o tipo de coisa que marca, que se torna um lembrete infernal, queimado não apenas na pele, mas nas lembranças.

*

É impressionante como as notícias se espalham rapidamente. Nem vinte minutos depois de encontrar Elena naquele banheiro, o colégio todo já sabia do acontecido.

Fernando está dentro da sala do diretor, para a sua segurança. A segurança dele, é ridícula a forma como a diretoria saiu em sua defesa. O que eu considero um ato muito corajoso e estúpido.

Porque eu, no lugar do diretor, não ia querer enfrentar Mariana e Lucas Andrade. Os dois estão vindo para o Álvares de Azevedo com dois advogados que descobri serem pais do Renan. E pelo o padrão de vida que o Aquino tem, seus pais não devem perder uma causa.

Sentado a uma distância considerável de Elena, observo a sua agonia. O choro está contido, mas ela treme de vez em quando, seu rosto está vermelho e com a marca da mão daquele filho da puta. E também tem a marca da mordida.

Renan a mantém em seu colo, passando a mão no braço dela, numa tentativa de conforto. Nabim brinca com os cabelos de Elena com os olhos fechados, os dois a seguram.

Eu quero me aproximar, colocá-la no meu colo e cuidar dela. Mas, Renan e Nabim estão lidando bem com a situação e eu não quero quebrar isso.

— Que merda de situação. — Mateus fala baixo.

— Desgraçado filho da puta! — exclama Clara. É estranho ouvi-la falar desse jeito, contudo não existem palavras que comporte toda a raiva que sinto.

— Será que ele fez isso com outra aluna além de Elena? — A dúvida de Lúcia me deixa mais nervoso.

E se Elena não foi a única? E se tiver mais alunas que passaram por isso?

— De verdade — Mateus começa — eu não duvido, ele sempre chama alguma aluna para conversar.

O som de saltos batendo no chão chama a nossa atenção. Em um terninho preto, Mariana caminha rápido, decidida a massacrar qualquer um que ousar entrar na frente dela. Lucas vem logo atrás da esposa, mais casual com um jeans e camiseta.

A feição de ambos é uma mistura de raiva e preocupação. Prontos para entrar em guerra com quem for necessário para proteger a filha.

Os pais de Renan surgem, eles mantém a postura fria, não vacilam em nenhum momento. Nem quando encaram a sobrinha de consideração. Com um simples aceno, eles reconhecem a presença do filho.

Eles são os primeiros a entrarem na sala do diretor Carlos. Lucas tem a filha num abraço enquanto Mariana acaricia e beija a testa da filha. Eles se separam de Elena com dificuldade, e vão para a sala de Carlos 

E então, a briga começa.

A física entre nós [CONCLUÍDO]Où les histoires vivent. Découvrez maintenant