Capítulo Três

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RAFAEL MONTEIRO

As sequências de imagens exibidas na televisão que fica no meu quarto não fazem muito sentido para mim. O episódio de Chicago PD está na metade, depois de uma tarde revisando os conteúdos para as futuras provas, decidi ligar a TV. Porém como os acontecimentos da série, os acontecimentos da minha vida também estão tendo pouco ou nenhum sentido. Depois de uma quinta-feira dessa, meus neurônios parecem ter decidido tirar um descanso.  

Toda essa bagunça é resultado daquela maldita prova.  

Sim, ainda não superei o grande três escrito em tinta vermelha e com a caligrafia de Fernando.  

Parece que dias se passaram desde a entrega, contudo isso ocorreu ontem, quarta-feira, e hoje tenho uma professora particular, e que me trouxe em casa e esperou eu entrar em casa antes de ir embora. Quase uma cena de filme. A diferença é nos papéis invertidos, ao invés de ser eu, o cavalheiro, o príncipe encantado, o cara perfeito do filme, eu fui a donzela, a mocinha que é deixada em casa em segurança.  

A voz maldosa de Lúcia me chamando de machista ecoa na minha mente.  

Não esperava a concordância de Elena a nenhum dos dois pedidos. Tudo bem que a proposta de ser minha professora particular não foi bem um pedido e sim, uma afirmação. Entretanto a carona foi uma surpresa, mesmo que seu olhar brilhasse de raiva e indignação.  

"Quer um boquete também?"  

A sua voz ficou em replay na minha cabeça durante todo o trajeto, impedindo qualquer conversa decente. Não sei como consegui responder suas outras perguntas, porque as verdadeiras palavras que desejavam deixar minha boca eram: Sim, eu quero.  

Graças a Deus ainda resta um pouco de bom senso em mim. Responder isso a Elena seria o mesmo que assinar meu atestado de óbito, seu tom não sugeria nenhuma ideia indecente, apenas a mais pura raiva. Ela passaria com a sua BMW 535i por cima de mim e várias vezes. Além do mais, quase não acreditei quando ela disse que carro édela.  

O Colégio Álvares de Azevedo é elitista, a grande parte dos estudantes têm o mesmo padrão de vida que o meu ou até superior. Mesmo oferecendo bolsa de estudos parcial e integral, o padrão de vida dos alunos é bem semelhante. Mas ter uma BMW 535i 2018 aos dezoito anos é uma chance que poucos colegas terão.  

Desligo a televisão e vou para a cozinha preparar algo para comer. A casa está silenciosa, uma vez que meus pais saíram para jantar, é provável que só cheguem em casa durante a madrugada. Abro a geladeira, pego presunto, queijo, alface, tomate e maionese levo tudo ao balcão. No armário pego um prato, faca e o pão de forma. E começo a preparação do lanche, pico os ingredientes, passo a maionese no pão e por fim coloco tudo sobre uma fatia do pão e fecho o lanche com a outra. 

Entre uma mordida e outra, pesco o celular no bolso da bermuda que visto, ignoro as mensagens do Mateus e de algumas meninas com quem converso e busco na lista de contatos o mais recente adicionado. E lá está, salvo simplesmente como Elena Andrade nenhum emoji ou apelido, nada que indique o mínimo de intimidade.  

Clico no seu nome e do contato e o chat é aberto. Meus dedos pairam sobre o teclado do celular, decidindo qual é a melhor forma de iniciar a conversa. Até o momento todas as nossas conversas foram recheadas de distância e uma sensação desconfortável, a única vez que teve um momento de descontração foi seu pequeno sorriso hoje de manhã que sumiu rapidamente diante a minha "proposta". Por fim, escolho o mais seguro.  

RAFAEL: Boa noite, Elena

RAFAEL: É o Rafael

Enquanto sua resposta não vem, respondo as mensagens de Mateus, que me chama para uma festa.  

A física entre nós [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now