Capítulo Trinta e Sete - BÔNUS

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Na sala do diretor

Os primeiros a entrarem foram os advogados, Gabriel e Lígia de Aquino exibiam um pose contida e intimidadora. Ter dois dos melhores advogados de São Paulo, quiçá de todo o sudeste, na sua sala não era bom.

A nuca de Carlos se molhava de suor, ele sabia que a presença de advogados não era boa. E a presença dos advogados do casal Andrade era pior ainda. 

Quieto numa das poltronas Fernando se remoía de raiva. Era tudo culpa dela, da puta da Elena, seus pensamentos estavam acelerados, eles voltavam a sala dos professores do segundo andar o todo tempo. O sentimento de humilhação e tesão se misturavam. Se por um lado sentia-se ofendido por Elena tê-lo corrigido e ajudado seu namoradinho ir bem na prova. Do outro lado, tinha a sensação do seu corpo prensado contra o seu. O seu choro o deixou feliz, poderoso. 

O casal Aquino nem precisaria se esforçar muito para destruir o nome de Fernando, garantindo que ele não arrumasse emprego em lugar nenhum de São Paulo. A influência deles e de Lucas e Mariana era forte o suficiente para fazê-lo mudar de cidade. E mesmo assim, sua ficha o acompanharia para sempre. Eles se assegurariam disso. 

A porta foi aberta novamente, e o Lucas e Mariana entraram. Com um olhar matador, Mariana encarou Carlos e o deixou olhar para aquele que atacou sua filha. Ela não teve muito tempo para analisá-lo, Lucas já estava em cima dele, com o punho afundado no rosto de Fernando. 

Lucas o golpeou uma… duas… três vezes. Só quando preparava o quarto soco foi contido por Gabriel, que assistiu, feliz, o sangue do vagabundo que fez mal para a sua sobrinha. 

Carlos secou a nuca, tentando não parecer desesperado, mas na verdade, ele estava fodido e sabia disso. Um processo de assédio contra um professor mancharia a reputação do Álvares de Azevedo. E um processo feito por pais com as conexões de Lucas e Mariana Andrade e por advogados como os Aquino, não só ia manchar, como afundar o colégio. 

Conhecendo a reputação dos Aquinos, pensou Carlos, eles vão mandar fechar o colégio, alegando ser um ambiente perigoso a crianças e adolescentes. 

Mais calmo, Lucas foi o primeiro a falar: 

— Eu quero saber o motivo exato de ter recebido uma ligação do meu sobrinho dizendo que aquele verme — disse apontando para Fernando. — assediou a minha filha. 

— Não temos certeza se foi isso que aconteceu. — respondeu Carlos. — A aluna Elena pode ter se enganado ou arrependido de um caso antigo e agora quer estragar a vida de Fernando para não lidar com as consequências. 

De todas as palavras que podiam ter saído da boca de Carlos, ele escolheu as piores. 

Os advogados não falavam nada, o que o deixava mais nervoso. Gabriel e Lígia faziam uma leitura da postura corporal dos dois, Fernando e Carlos, formulando a melhor maneira de atingir seus pontos fracos, fazendo-os admitir seus erros. Ambos carregavam um gravador no bolso. 

Uma gravação podia alegar falsidade, mas duas… A alegação perderia forças.

— Você está insinuando que é culpa da minha filha? — a voz de Mariana saiu engasgada, incrédula diante as palavras do diretor. — Esse filho da puta — disse apontando para Fernando. — marcou a minha filha como se ela fosse a porra de um espólio! 

Sua palma atingiu a mesa de madeira, Carlos sobressaltou-se. Digerindo a cena, pensou: De todas as alunas dessa maldita escola, ele tinha que ir bem na mais rica e influente. 

— Carlos — Lígia Aquino tomou a frente, depois da explosão de Mariana. — O colégio vai ser processado, além de casos de assédio, não podemos esquecer do aluno Nabim que foi negligenciado durante parte de seu primeiro ano. 

É claro que trariam Nabim para a conversa, imigrante maldito, pensou Carlos. 

— E você, vai ser processado por assédio sexual e tentativa de estupro. — finalizou Lígia. 

— Essa acusação é ridícula! — era a primeira vez que Fernando falava, o rosto sujo de sangue e, provavelmente, com alguns dentes quebrados. — Eu nunca mais vou poder lecionar. 

— Uma pena, não é mesmo. — rebateu Lucas, com a voz escorrendo sarcasmo. Suas mãos seguravam firmemente os braços da cadeira. Os socos que deu nele, não aliviou nem metade da sua fúria. 

— Sua filha é uma nojenta, arrogante, metida a sabe tudo. Mereceu o que fiz com ela. 

Assim que as palavras flutuavam no ar, Lucas estava sobre Fernando de novo. E, dessa vez, Gabriel não o tirou de cima dele tão cedo. No sexto soco, com Fernando quase desmaiado no chão, ouviu-se a voz de Mariana.

— Lucas… — ele parou na hora que ouviu a voz da esposa, largando Fernando no chão, ele voltou a sentar na cadeira. 

— Eu vou processá-lo por lesão corporal. — jogado no chão, com alguns dentes faltando, Fernando disse. 

— Tente. — o som potente da voz de Gabriel Aquino, finalmente soou. — Tente processar Lucas por lesão corporal e veremos quem sairá pior. Você acabou de admitir que assediou a filha dele, nas suas exatas palavras: Mereceu o que fiz com ela. Qualquer juiz ou júri decente entenderá a reação dele. O máximo que vai acontecer é pagar cesta básica. 

Carlos estava sem saída. Como Nabim conseguiu reverter a situação, os pais o mantiveram no colégio, mas, agora, não teria as doações dos Andrade, nem o rosto da filha deles para fazer propaganda da escola. 

— Vou demiti-lo, não há necessidade de processo. 

— Há sim. — rebateu Gabriel na mesma hora. — Sem uma formalização, ele poderá arrumar outro lugar para trabalhar, e não queremos isso. 

Carlos não conseguiria se livrar daquele problema. Seria uma desgraça, os pais tirando seus filhos, a reputação do Álvares de Azevedo indo para a lama. E como se tudo não estivesse ruim o suficiente. Alguém bateu na porta. 

Milena Alves estava do lado de fora junto de outras alunas, prontas para relatar o que Fernando fez com elas. 

A física entre nós [CONCLUÍDO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora