Capítulo Dezenove

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RAFAEL MONTEIRO

Encaro a questão formulada por Elena, parece saída do próprio inferno. Seja lá de que parte do cérebro, ela veio, com certeza foi pensada numa parte sombria e ruim. 

Tentei por todas as fórmulas de eletrostática possíveis e nenhum dos resultados bateu com uma das cinco alternativas dadas por Elena. 

Apago mais uma vez, frustrado. Se o nível das questões estiverem iguais a essa, eu vou reprovar. Ao invés de três, a nota será um lindo e redondo zero vermelho no canto superior do papel.

— Lê de novo. 

Deve ser a nona vez que ela repete o mesmo comando. Tiro os óculos e aperto o ossinho da nariz. E bebo um gole de água. Volto os óculos para o rosto. E leio a questão novamente. 

Tento associar os números com as informações fornecidas por Elena. 

— A sua letra não ajuda também. 

— Lê de novo. 

Ignorando a minha fala, Elena aponta para o papel. Estamos na sua casa, Heitor cansado de ver minha flagelação mental, foi para seu quarto. 

— Eu tô lendo. 

— Não está lendo direito. 

— Como assim não estou lendo direito? — respondo indignado, eu sei ler, porra. Jogo o caderno, o estojo, tudo para o lado e espero a sua explicação. 

— Olha as informações sublinhadas, está se pegando muito as informações que não agregam nada. 

Ela pega o caderno e apaga as linhas feitas sob os números. Ela lê o enunciado, marcando as informações corretas. 

— Agora, joga uma regra de três. 

Relacionando as informações corretas, encontro a resposta certa. Círculo a alternativa C. Aliviado por terminar logo essa questão do caralho. 

— Física também é interpretação. Questão 7. 

Leio a primeira linha e sinto uma pontada na cabeça. Ô matéria do caralho, ninguém merece. Indo contra a ordem de Elena, tiro os óculos e deito na cama, cobrindo o rosto. Cansado mentalmente e fisicamente. A aula foi uma droga depois da conversa com meu pai, os estudos intensos para o Enem e durante a noite, horas e horas fazendo testes vocacionais na internet e pesquisando os cursos que apareceram como opção.

Minha cabeça está lotada de informações que parecem não servir para nada. 

Sinto uma movimentação no colchão, Elena se senta nas minhas coxas e tira o braço que está sobre meu rosto. Sua visão desfocada surge diante das minhas vistas. Ela me entrega os óculos.

— O que foi? 

— Nada não.

— Vai mentir na minha cara? — Elena se prepara para sair de cima de mim. Seguro firme suas coxas e respondo: 

— Problemas com o meu pai. — A resposta mostra-se insuficiente para a Elena. Suspiro e continuo: — Ontem, ele decidiu que se não tiver escolhido uma carreira decente, vou cursar administração ou economia. 

— E é tão ruim assim? 

— Lógico que sim, eu não gosto de nenhuma das duas. Só que eu não tenho nenhuma carreira à vista. 

— Pode não ser tão ruim. — Ergo a sobrancelha, questionando sua fala. — Pensa comigo: não tem nenhuma carreira à vista, administração pode ser uma boa…

A física entre nós [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now