Capítulo Trinta e Três

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(Esse capítulo contém cenas de gatilho: assédio sexual- caso não se sinta confortável, pule, não afetará a compreensão dos próximos capitulos.)

ELENA ANDRADE

A bola de futebol é chutada para mim, sem muita vontade, a passo para Renan que ao ter a bola em seus pés sai correndo em direção ao gol.

Marcos, o professor de educação física, teve a brilhante ideia de fazer times mistos, segundo ele, seria benéfico para todo mundo se engajar e ninguém ficar de lado. Misturar meninas e meninos pareceu uma ótima solução para uma sala dividida em grupos.

Entretanto, foi uma péssima ideia. A maioria dos meninos não deixavam a bola se quer encostar no pé das meninas, mesmo algumas jogando bem melhor do que eles. A bola foi monopolizada pelos grandes jogadores e restava para nós, meninas, ficarmos correndo de um lado para outro e esperando a boa vontade de passar a bola para algumas de nós.

Eu não queria jogar, a minha participação se resume em tocar o mínimo possível na bola e fingir correr. Com todas as desculpas esgotadas, não consegui me livrar do jogo.

Estou prestes a fingir uma lesão quando escuto alguém me chamar:

— Elena. — viro em direção a voz, um garoto do nono ano está na entrada da quadra com um sorriso constrangido e as bochechas coradas.

Marcos vendo que estou sendo chamada, me libera da partida. Caminho em sua direção, o menino parece prestes a sair correndo por causa da vergonha, todos os olhares estão fixos nele.

— O que foi? — pergunto quando paro na frente do menino.

— É… é o Fernando… o professor Fernando quer… ele quer falar contigo. — não entendo o nervosismo do garoto.

Com o cenho franzido, escuto o aviso do menino, sem entender o que Fernando quer comigo.

— Elena — Nabim para do meu lado — o que foi?

Posso ver Renan e Rafael tentando prestar atenção na conversa, mesmo de longe. Os dois ainda estão jogando.

— É o Fernando. — respondo para o meu amigo. — Você sabe o que ele quer conversar comigo?

O menino parece ficar ainda mais nervoso, se isso for possível. Parado na minha frente e de Nabim e sendo encarado pelo terceiro ano todo. Não duvidaria se ele desmaiasse.

— Não sei, ele só pediu para te chamar e dizer que ele te espera na sala dos professores do segundo andar.

Incomodada, aceito o recado.

— Tá bom, obrigada por avisar. — tento oferecer um sorriso para o menino, mas deve ter saído mais uma careta, já que ele saiu o mais rápido possível da quadra.

— Por que ele quer falar contigo? — tão confuso quanto eu, Nabim questiona.

— Não faço ideia, pensei que tudo estivesse esclarecido.

— Quer que eu te acompanhe? — Nabim está um pouco receoso, não entendo a sua reação.

— Não precisa, já vou voltar.

A contragosto, Nabim aceita minha recusa.

Não entendo o quê Fernando deseja conversar comigo. Nossas diferenças já tinham sido acertadas quando ele deixou de ser um filho da puta babaca e parou com o chilique e devolveu meus dois décimos.

Quero dizer, deixou de ser um babaca comigo. Rafael tinha me contado sobre a tentativa de intimidação no dia da prova e a fama o precede. Alguns alunos até gostam dele, aqueles sem empatia e noção que acham normal um docente ridicularizar alunos.

Encaro as escadas, sem vontade alguma de seguir em frente. Um peso toma as minhas pernas, me prendendo contra o chão, dificultando meu andar. A sensação é que tenho uma pedra de vinte quilos atada aos meus pés.

Com o pé no primeiro degrau sinto o impulso de voltar para a quadra e me empenhar no jogo de futebol, contudo não faço isso. Continuo subindo, a gravidade exercendo uma força maior que a real, meu corpo parece prever alguma coisa, porém os sinais são confusos, difíceis de compreender.

As escadas foram vencidas, meus passos são arrastados, a sola do all star faz barulho no piso. A porta está na minha frente, a mão levantada prestes a bater.

Não quero falar com ele. Quero voltar para a quadra.

Ignorando o que há de mais primitivo em mim, bato na porta.

*

Fernando está sentado na minha frente. Desconfortável com a forma que ele me olha, balanço a perna, sem conseguir parar. Os movimentos são agoniados, combinando com o silêncio estranho.

Cinco… seis… sete… oito…

Conto as batidas do tênis no chão. Numa tentativa falha de lidar com essa sensação sem nome que toma o meu peito.

— Então… o que quer falar comigo? — pergunto de uma vez. Quero sair dessa sala o mais rápido possível.

— Sabe, Elena, eu penso bastante no seu desempenho como aluna — não entendo o que porra está acontecendo. — nos seus prêmios e possibilidades de faculdade.

Fernando puxa a cadeira mais para frente, sinto os seus joelhos encostados nos meus e aquela sensação sem nome, volta.

— Você é uma menina com um grande futuro. — suas mãos vão para minhas coxas, uma em cada perna, suas palmas transmitem um calor que queima, me apavora. O peso de suas mãos é desconfortável. Não quero suas mãos em mim. 

Não quero, não quero. 

Me afasto de supetão, a cadeira faz um barulho contra o chão. Ele se levanta e começa a vir para cima de mim. Comecei a andar até a porta, querendo me livrar dele, puxo ela para trás, mas antes que eu possa sair, sua mão força a porta para frente, fechando-a.

Estou presa entre ele e a única saída. Sinto seu corpo me pressionando, uma sensação de nojo e repulsa me toma. Toda a parte do meu corpo que é pressionado por ele doí. Meu rosto está colado na porta, suas mãos correm pelas minhas costas, passando pela minha cintura e lombar.

O choro fica preso na minha garganta, às lágrimas embaçam a minha visão. 

O seu toque dói. 

— O seu único problema — Fernando diz perto do meu pescoço, suas mãos me viram. Cara a cara com ele, sinto as lágrimas se escorrendo e escorrendo. — É que você é uma arrogante nojenta. Gostou de me corrigir? Gostou da satisfação?

Ele fala muito próximo. Me mexo tentando me livrar de suas mãos, da pressão do seu corpo. Porém, meu corpo está pesado e os movimentos lentos.

Ele se diverte com as minhas tentativas de me soltar.

— É ruim né, se sentir humilhado. — seus dentes mordem meu rosto. Soluço, os braços doendo com a força imposta sobre eles.

As lágrimas continuam descendo desenfreadas. E uma vontade de vomitar sobe a minha garganta quando ele pressiona algo duro na minha perna.

— Você me humilhou duas vezes. Corrigindo e ajudando o seu namoradinho. — ele tenta me morder novamente, desvio o rosto o máximo que posso.

Grito quando sua língua lambe meu pescoço.

— Não grita, sua nojenta . — Recebo um tapa no rosto, a força é tanta que caio no chão. Uma dor extrema irradia pelo meu rosto. O lado direito arde devido ao peso da sua mão.

Fernando abaixa na minha frente. Pronto para continuar. Sem pensar muito o empurro para trás. Sua cabeça bate violentamente contra o chão, o deixando momentaneamente atordoado.

Aproveito esses únicos segundos para fugir da sala o mais rápido possível.

A física entre nós [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now