Capítulo Vinte

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ELENA ANDRADE 

— Meus olhos, aquela cena terrível nunca vai sair da minha cabeça, nunca. 

— Heitor, se você repetir novamente essas palavras, vou te colocar para fora do carro. — respondo, puta, frustrada, com raiva, todos os adjetivos possíveis que remetem a ódio.

— Você quer ouvir o que, Elena? — fala virado para mim. Estamos quase chegando no estúdio de tatuagem, localizado na Augusta. E Heitor já repetiu quase vinte vezes que seus olhos doem e aquela imagem nunca vai sair de sua cabeça.

Ele não deveria ter entrado no meu quarto daquele jeito. Eu que tenho direito de ficar brava. 

EU. 

— Nada, eu não quero ouvir a sua voz. 

Do banco de trás, Rafael parece bravo também. Pela segunda vez fomos interrompidos. Na primeira vez não fiquei tão brava, fiquei aliviada, se tivéssemos sido pegos naquela situação, seria suspensão na certa. Mas, hoje, justamente hoje, só sinto raiva e frustração. 

Heitor podia ter batido na porta. 

Ficamos em silêncio. Conecto a playlist e a primeira música é "Follow me down" do The Pretty Reckless. Taylor Momsen começa a música gemendo. Solto uma risada incrédula com a coincidência. Heitor segura-se para não rir. 

— Não ri. 

Heitor contorceu a boca a fim de mantê-la fechada. Rafael busca meus olhos através do retrovisor, sem entender, mas estou me segurando para não rir da cara de Heitor.

Heitor não aguenta e começa a rir. Estaciono o carro em uma das vagas do estúdio e rio também. Recordando do dia que meus pais chegaram em casa, eu estava escutando Follow me down no som da sala. Eles entraram bem no início da música, quando Taylor ainda estava gemendo. Meus pais pensaram que alguém estava transando na sala. Eu ouvi um puta sermão sobre não colocar esse tipo de música na sala.

Recuperamos o fôlego e saímos do carro. O vento gelado bate nas minhas pernas descobertas pelo vestido. Para facilitar na hora de tatuar e não ter que ficar só de calcinha. Heitor entra direto no estúdio, sem me esperar, ansioso para sentir dor.

Rafael saí também, com uma camiseta e um shorts do meu irmão. Ele para do meu lado, sem saber se pega na minha mão ou não. Seguro sua mão e o levo junto comigo para dentro do estúdio. 

As paredes são lotadas de quadros com desenhos que vão de old school a realismo. Heitor conversa com sua tatuadora num canto. E eu vou em busca de Marcos. 

Marcos está na sala onde tatua. Seu cabelo crespo está pintado de rosa, seu rosto ganhou mais uma tatuagem. O brilho do sol poente destaca sua pele negra, e reflete nos piercings da orelha e nariz. 

Ao me ver, ele levanta e me abraça. Sou engolida por seu tamanho de jogador de basquete. 

— E não é que minha princesa veio me visitar. E não veio sozinha. 

Saio de seu abraço e respondo: 

— Eu disse que vinha.

— E você quem é? — Marcos ergue uma sobrancelha, ao notar nossas mãos unidas,  fazendo uma expressão maliciosa.

— Rafael. — responde. 

Marcos vira-se para mim: 

— Ele é uma graça. — Volta-se para Rafael e fala: Você é uma graça. 

— Obrigado. — Rafael soa constrangido.

— Então, princesa, qual é o desenho de hoje? 

A física entre nós [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now