Capítulo Nove

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RAFAEL MONTEIRO

Estamos todos na sala como uma família feliz. Toda quinta à noite, minha mãe nos faz assistir um filme. Hoje, vemos uma comédia romântica água com açúcar e completamente previsível.  

Dona Joana está sempre inventando programas em família. Jantares, sessões de filmes, cafés da manhã especiais, mesmo que não exista nenhum motivo. É a forma que ela encontrou para manter todos juntos. E como nem eu nem meu pai queremos deixá-la triste, participamos e mantemos o mínimo de civilidade.  

Entediado, resisto à vontade de mexer no celular, me esforçando para agradar a minha mãe. Esses programas, mesmo que entediantes, a deixam feliz. Por isso, deixo o celular quieto e assisto os protagonistas se beijando sob uma tempestade.  

Clássico.  

Analisando o filme, noto o quanto as comédias românticas são chatas. Todos sempre acabam felizes, um ou outro filme foge do clichê, mas grande parte é como esse.  

O casal se conhece, se apaixona, um deles faz merda e quando tudo parece pronto para dar errado e eles ficam separados, tem a grande cena. Uma corrida para o aeroporto, a procura por um táxi e toda essa ladainha.  

Chato e previsível.  

Tiro a atenção do filme e a desvio para meus pais. Não compreendo a dinâmica deles. Não compreendo como interessarem-se um pelo outro. Não compreendo como ainda estão casados.  

Meu pai é a pessoa mais fria que conheço. E minha mãe é calorosa. São uma junção estranha que, para mim, não faz sentido. Mas, agora, sentados juntos vendo um filme como um casal adolescente, exceto por mim atrapalhando, quase vejo o que foram no passado.  

Minha mãe percebe que estou olhando e diz:  

— Queria saber quando vai trazer a menina que está te ajudando aqui em casa, estou querendo conhecê-la.  

Antes mesmo que ela possa terminar de dizer, levo um punhado de pipoca à boca. Deus me livre de tomar outra decisão envolvendo Elena antes de perguntar. Ela já foi gentil demais aceitando a imposição das aulas. Contudo, se eu fizer isso novamente, ela não hesita em passar com o carro por cima de mim.

Meus pais sabem que Elena tem vindo aqui em casa dar as aulas. Porém, minha mãe quer Elena aqui em casa em um horário que esteja ela e o meu pai.  

— Também quero conhecer a boa alma que resolveu te ajudar. — Reforça meu pai, dando corda para a ideia da minha mãe. Da forma que ele fala, parece que é um milagre a minha melhora em física.

Tudo graças a Santa Elena.

— Quero agradecer por ela ter aberto um espaço no tempo dela para te ajudar. Como é mesmo o nome dela?  

— O nome dela é Elena.  

— E a Elena é bonita? — pergunta dona Joana, em um tom romântico. Assistir comédias românticas não está fazendo bem a ela.

Meu rosto cora com uma velocidade impressionante. Não sou de ficar comentando sobre garotas com minha mãe e muito menos com o meu pai. Eles sabem de um casinho ou outro, mas nunca falei abertamente sobre uma menina. E, pensando bem, nem tem motivo o constrangimento. A Elena é só minha "professora" e não tem nada entre nós, além de teorias físicas e cálculos matemáticos.  

Claro que na festa, eu tive uma reação diferente quando fomos tomar aquela dose de tequila, mas, com certeza, foi momentâneo. Totalmente ligada ao ambiente que estávamos, depois disso não teve mais nada.  

— É sim, eu acho. — Respondo constrangido, mesmo não existindo motivo.  

Os dois me olhando em expectativa, sabendo que minha mãe não vai mudar ideia, ainda mais agora que teve o apoio do meu pai, pego o celular e mando uma mensagem para Elena.  

A física entre nós [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now