Capitulo 14

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Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento. 

-Clarice Lispector 

- Está acordada? - Uma voz me desperta do "Quase dormindo".

Me nego a levantar a cabeça, porém depois de ser balançada, empurrada, e molhada por um copo de água gelada, aceito meu destino cruel.

- Janny? O que você quer? - Perguntei ríspida.

- Eu queria conversar com você. - Serio, porque todos decidiram conversar comigo hoje? E para deixar claro, não tive o direito de aceitar a conversa em nenhuma das situações.

- Sobre o que? - Interroguei antes de decidir se iria ou não prestar a atenção.

- Sobre o Liam. - Respirei profundamente. - Sobre você e ele. - Balancei a cabeça 

- Então. - Continuou ela com uma falsa expressão de contentamento. - Sei que vocês dois são muito amigos desde a infância, ele até me disse que te considera uma irmã. 

- É. - Disse.                                                                                                                                                

- Bem, eu queria saber se Liam está pensando em ir a frente com nosso relacionamento. O próximo passo. - Meu estomago embrulhou.

- O próximo passo? - Perguntei.

- Casar. - Seus olhos brilharam.

- Não. - Disse direta.

- Não? - E o brilho se foi. - Como assim?

- Ele não está pronto para dar o próximo passo, ele mal acredita que vocês estejam em um relacionamento. - Tive raiva de mim mesma, por não me importar em tirar todas as ilusões dela.

- Porque está sendo tão má? - Perguntou se virando para me encarar.

- Não estou sendo má! Apenas estou lhe mostrando os fatos. - Me defendi.

Ela andava perto da janela, seus pensamento flutuavam, a luz batia em seus cabelos loiros e os fazia brilhar, parte dela estava imensamente frustada.

- Vocês se olham de um modo esquisito, nunca acreditei nessa conversa de "Irmãos", e agora percebo que estou certa! - Me atacou.

- Só porque não concordo que estão prontos para o próximo passo? - Questionei. Mas parecia que qualquer outra pessoa que dissesse "Não" pra aquela pergunta, Janny não se importaria, porém era eu.

- Sim, pois todos as outras pessoas que eu perguntei disseram que "Sim", até mesmo a Anne. - retrucou.

- Eu não sou todo mundo. - Resmunguei. - Pergunta para minha mãe. E não é porque eu não concordo com o que todos os outros pensam, que estou condenando os dois a um futuro separados! 

- Mas o jeito que ele te olha! - Ela estava insegura.

- Como ele me olha? - Interroguei.

- De um modo que não se compara ao olhar fraternal que ele encara Anne, ou como olha para mim, é como se vocês estivessem em um mundo que só pertence aos dois. - Suas mãos tremeram.

- Eu o conheço a mais ou menos oito anos. Eu conheço basicamente seus piores segredos, vivi com ele os piores momentos, nós conhecemos os becos mais obscuros da mente um do outro, obvio que vivemos em um mundo. - Afirmei. Mas esse mundo não pertence a nos dois, juntos. Pensei, tem dois mundo, um meu, e um dele, só temos apenas uma ponte que os liga. E nesse momento, está fechada.

O silencio pairou, Janny parecia estar preparando argumentos, entretanto não a deixei iniciar a próxima batalha, a empurrei até a porta com alguns gritos vindos da mesma, e tranquei. Não pude impedi-lá de gritar o quão infantil e não digna de confiança eu era, por trás da porta.

Entretanto, peguei o pequeno radio que estava na comoda e o liguei, e a musica começou a tocar no momento que ergui o bastante para que as palavras de Janny e da bateria fossem indistinguíveis.




Comentários me fazem querer escrever... Sabe, só uma pequena informação sem qualquer proposito.

-Lu

8 Anos Onde histórias criam vida. Descubra agora