Capítulo 27

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Quando nasci veio um anjo safado o chato dum querubim e decretou que eu tava predestinado a ser errado, assim já de saída a minha estrada entortou mas vou até o fim.

-Chico Buarque

Tudo na vida começa de um jeito, e concordemos que nem sempre são bons jeitos, mais é assim que tudo faz sentido, não é o final que conta é a caminhada os meios pelo qual você teve que recorrer para chegar até aquele final glorioso, aquele que todos comentaram não importando se faz ou não sentido, porém quando não tem um final é quando tudo dá o triplo de emoção, a ansiedade nos olhos, o nervosismo, a noite de insonia na qual você acaba pensando no que vai acontecer. Foi assim que eu passei aquela noite, enquanto o oficial dormia, dessa vez os papéis se inverteram porquê ele é sempre o primeiro a acordar, mas tem um motivo para isso, eu sei o segredo de Anne.

Ela está apaixonada por uma garota, e  a garota morreu, e agora está fugindo para algum lugar o mais longe que puder da dor de uma amor quebrado.

- Já está acordada? - Cambaleou as palavras. - Alguém ligou sobre a Anne? Jeff?

- Não. - menti.

O celular toca assim que nego a pergunta. Ele pega o celular da minha mão e atende, é da delegacia, ele tinha dado o meu número para contato já que o celular dele estava sem bateria, coisa que não aprovei.

- Onde? - Suas mãos tremeram, seu coração parecia ter parado de bombear sangue, pálido como quem vê um fantasma. - Estou indo.

- Então? - Murmurei, vendo um Liam que nunca havia visto antes, um com medo.

- Encontraram um corpo perto da rodovia, mulher, branca e loira. - Queria vomitar, meu estômago parecia ter virado pedra, tudo ficou gelado, arrepiei, e pouco à
pouco, fui digerido a notícia.

- É ela? - Suspirei, sabendo que estava da mesma forma que Liam.

- Vou faz-zer o... O reconhecimento.

- Okay. - Liguei o carro.

- O que está fazendo? - Questiona, se controlando.

- Rodovia! - Falei, vendo que ele planejava não me levar. - Eu vou!

- Cat...

- Nem tenta! - Grito mais alto do que esperava.

Ele não para de mexer as mãos, os pés pulam de ansiedade, sua mente está provavelmente uma bagunça, mas a minha não está tão diferente, imagino coisas ruins, imagens de Anne, o sangue escorrendo de sua boca, suas roupas amassadas, descalça, deitada, imóvel, com os olhos dilatados... Morta.

- Posso? - Sussurra o policial, apontando para minha mão assim que chegamos no local. À faixas amarelas por todos os cantos, duas viaturas e uma ambulância.

- Pode. - Respondo, sentindo seus dedos frios avançarem, agarrando.

Passos desenformes por entre a grama e o asfalto, estou com as pernas bambas, minha respiração segue o ritmo dos passos. Mechas douradas aparecem em frente, e paro.

- É a Anne? - Pergunta Liam ao meu lado, seus olhos encaram o lado oposto, quase lacrimejam, eu nunca o havia visto tão indefeso, tão assustado, tão medroso.

- Calma. - Depois de alguns passos chego perto, ele continua evitando contato visual com o cadáver. Parece ela, tem a cor dela, a forma do rosto, o cabelo, as roupas no mesmo estilo, mas não é. A reconheceria se fosse, algumas pessoas poderiam se confundir, aquele cadáver e Anne são quase idênticos, quase.

- Não é ela. - Um som de alívio se solta, e sinto o remorso. Estou feliz por aquela menina morta não ser a minha amiga. As mãos dele apertam com força os meus dedos, me puxa de volta a caminhonete e me olha. Longos segundos sendo analisada.

- Eí? - Tento. E ele sela nossos lábios em um beijo, que mas parecem alívio e medo misturados, um sabor maravilhoso receio.

- Não vou pedir desculpas. - Fala assim que separa. - Nunca pedirei desculpas por beija-lá.

- Okay. - Solto ainda surpresa, ele estava aliviado. Ainda me pego pensando sobre estar bem com a morte de uma pessoa que não conheço, não o julgo pelo beijo que me deu, eu me beijaria se ficasse tão feliz/desestressada por uma notícia, que podia ser a pior da minha vida.

- Eu te amo. - Me encara. - O suficiente para não me importar por você não dizer as mesmas três palavras.

- Liam... - Tento, constrangida de certa forma.

- É um fato. - Sibila. - Não ouse tentar me fazer retirar essas palavras algum dia, pois nunca as disse a qualquer pessoa sem ser você, nem tive vontade de dizer.

Me manti em silêncio, não seria capaz de achar algo apropriado para dizer, e parte de mim não seria capaz de admitir, tanto que ele possa realmente me amar, ou que eu possa corresponder. Afinal é tudo ocitocina, e o coração? Só bombeia sangue, pelo menos é assim anatomicamente falando.

E aí?? O que acham? Me mandem comentários

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