Capitulo 15 parte 5

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Sim, minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem das grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite.

-Clarice Lispector

O segundo dia foi consideravelmente pior. Tudo começou as 4:30 da manhã quando Liam esbofetou a porta até que eu me rendesse a raiva intensa e abrisse para tirar satisfações.  Para minha completa felicidade as horas seguintes foram utilizadas como tortura em especifico, tivemos que carpir o gigantesco quintal antes das 7:00 da manhã,  e sorrir todas as vezes que perguntassem se estávamos nos sentindo bem. 

O nosso incrível café da manhã, era literalmente as frutas que seríamos capazes de colher das árvores que rodeavam o local. E para completar o extraordinário dia, o senhor Liam, decidiu me punir depois de um pequeno incidente... Em minha defesa, avisei claramente que se eu não bebesse uma xícara de café, alguém ficaria com um olho roxo.

- Não precisava bater em ninguém! - Gritou o meu monitor, que antes teve que aguentar uma bronca do Chefe.

- Ele estava falando sobre minha bunda! - Brandei, tentando voltar a bater no  Leonardo.

- Ele estava? - Questionou, no mesmo momento que pude vê-lo repensar se deveria ou não me impedir de atacar.

Estavamos chegando no meio do campo de treinamento quando fui avisada que seria punida pelo meu comportamento.

- Comece a correr, vá até o outro lado do campo e volte. - Ordenou.

4 voltas depois ele me deu duas opções, ou pedia desculpas, ou continuava a correr. Bem, acho que perdi alguns kilos naquele dia.
O relógio apontava quatro horas, quando entenderam que meu posicionamento não mudaria, então tive que lavar privadas por decepciona-los. Se me dissessem a condição deplorável daquele banheiro eu teria pulado o muro de 3 metros e corrido mesmo que soltassem os cachorros. Coisa que ja planejava fazer.

Logo depois fui mandada para o chuveiro, o que foi encarado como uma péssima ideia já que me senti reforçada mentalmente e fisicamente. Um pequeno segredo que envolve água quente e um show ao vivo.

As 8 horas jantei uma sopa verde, ou melhor, enfiei guela abaixo, implorando para aquele alimento me dar energia e não morte.

Quando a lua estava descendo no litoral, cheguei no meu quarto. E para terminar o glorioso dia, Liam trancou a porta.
Uma pena que eu já tinha um plano B, a minúscula janela. Atravessei a mesma com dificuldades, meu estomago ainda reclamava da comida ofensiva com a qual havia lhe xingado  naquela tarde.
Do lado de fora, o desejo de escapar daquele Centro de tortura gritou mais alto. Andei discretamente por entre as sombras, Liam estava acordado, e por um momento acreditei ter passado despercebida.  Entretanto quando cheguei na mata, ouvi seus passos correndo atrás de mim.
O que para  minha mente lotada de filmes de terror, pensou ser a hora do roteiro na qual deveria correr. 
  Em meio aos meua passos longos e rápido um galho de uma árvore arranhou minha coxa que começava a sangrar, porém não me concentrei no fato. Para qualquer lugar que olhava nada se enxergava, um dos culpados era a escuridão que naquele horário na floresta era terrível:

- Onde você pensa que vai? - A voz rouca se diferenciou do som dos grilos.

- É uma história engraçada. - Tentei. - Eu estava procurando o banheiro, e me perdi.

- Você quer um tempo para planejar algo mais convincente? - Falou apertando os braços contra o peito ligeiramente húmido, era uma noite chuvosa. Estava sendo difícil enxerga-lo.

Caminhamos de volta para o acampamento, enquanto minha mão era usada para me arrastar pelo meu monitor e sua teimosia.
Quando a luz da cozinha estava começando a nos iluminar novamente. Senti os olhos dele pararem sobre minhas pernas. Não tinha reparado no corte e no sangue que escorria.
Fomos para enfermaria, que era uma sala do outro lado do campo, que por incrível que pareça, não tinha realmente nenhum enfermeiro, porém o cargo logo foi passado a Liam. Estávamos sozinhos.

- Vou fazer um curativo! - Afirmou. Sentei numa mesa alta e ele na cadeira de frente a mim. Minhas pernas estavam abertas em sua direção. Tensa, era pouco para definir meu sentimento.

Suas mãos estavam quentes, ele pegou um líquido e despejou em cima do corte, gemi de dor, e por um momento ele permaneceu me encarando, a ardência parou, começou a colocar a fita.
  Ele estava perto. Eu queria prova-lo novamente, queria que as borboletas do meu estômago fossem mortas pelo seu gosto.
Ele se levantou. Estava entre as minhas pernas. Minha consciência falhou. Seu rosto estava encostado no meu, suas mãos agora estavam sobre meu ombro, decidindo se tiraria a alça da minha blusa, para expo-la ou não.

- Porque a única coisa que consigo pensar quando olho pra você é em quebrar as regras desse lugar? - Sussurou, se aproximando o bastante para que seu cheiro fosse tudo o que eu sentisse

- Talvez porque você me queira. - Sibilei nos seus lábios antes dele me puxar para perto, coisa que eu achava não ser possível, afinal dois corpos não ocupam o mesmo espaço, ou será que ocupam?

O problema era que o Caos estava vestido de Ordem. E eu sempre adorei uma boa bagunça.

Comentários, por favor.❤

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