Capítulo 76: Pai.

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Boa leitura, xoxo

Z A Y N

 Não sabia para onde estava indo, só sabia que queria ficar sozinho. Completamente só. Apesar da tentação de ir para Prisão, conversar com alguém que parecia sempre saber as repostas ser grande, eu desvio o caminho e surpreendo a mim mesmo ao aparecer dentro de outra montanha. 

 Akaholly estava como eu me lembrava. Nosso cemitério sempre foi algo que me fascinou. Descendo as longas e infinitas escadas, tenho apenas o barulho do meu coração martelando nas orelhas e a uma sensação de aconchego e conforto. Não temíamos os nossos mortos. Não temíamos a morte pacífica. 

 Por longos minutos, talvez horas, eu desço com a mente em branco. Nada se passando por ela. Eu não queria pensar em nada. Eu não queria encarar as consequências das minhas ações. Eu não queria nada, além de um pouco de paz. 

 Achei que conseguir fazer coisas da minha rotina normal ajudariam, mas... Apenas me mostrou o que eu estava perdendo. Eu não queria passar pelo processo de reconquistar o que eu perdi, apesar de saber que era algo necessário. Eu só não queria. 

 Quando meus pés tocam o último degrau de pedra, o barulho ecoa sobre as paredes de pedras silenciosas, a luz das chamas ondulando enquanto elas queimam infinitamente. 

 Olhar o túmulo de Ruby me entristece, mas sabia que, inconscientemente, não era o que eu queria ver. 

 Andando mais a fundo na "sala" do topo da montanha, chego na "realeza", encontro os túmulos dos meus pais, com um grande contraste em ambos. O do meu pai, solitário e escuro. O da minha mãe, iluminado por velas, presentes e flores. 

 Será que era isso que eu estava destinado? Já sabia que o povo não me amava, mas não queria um caminho assim. Nem mesmo sabia se meu pai tinha amigos. No momento, não sabia nem se eu tinha. 

 Com um aperto no coração, conjuro flores da noite, colocando sobre o seu túmulo. Será que Lórien me veria assim? Um estranho? Desconhecido? Eu não queria ter esse final. Tinha dó do meu pai. Tinha dó do que ele tinha se tornando e estava com medo de estar trilhando os mesmos passos. 

 No momento em que sinto a primeira lágrima escorrer, toda chama laranja iluminando o local fica azulada e eu não preciso pensar muito para reconhecer a presença atrás de mim. 

 - É bom te ver de novo, filho. - A sua voz estava diferente. 

 Não apenas por ele estar morto, mas porque... Não era a voz dele. Não tinha o peso sombrio que sempre carregou. Não tinha o tom rouco, o tom morto... Na verdade, por mais estranho que parecesse, essa foi a vez que eu escutei a sua voz soar mais viva do que nunca. 

 - O que o senhor está fazendo aqui? - Apesar de tudo, eu ainda o respeitava. Ainda era o meu pai. Ainda tinha me criado. Do seu jeito torto e totalmente errado, mas tinha. 

 - Assuntos pendentes pode te segurar por séculos. - Imaginava que sim. 

 Não éramos estranhos com espíritos. Sabíamos que eles existiam e muitas pessoas, inclusive, so utilizavam para magia. Seja os escravizando, seja como amizade. 

 Mas, ainda assim, mesmo não sendo um assunto desconhecido, não estava preparado para encarar meu pai novamente, depois de quase três séculos. Ficamos minutos, talvez horas, em silêncio, apenas olhando um pro outro. 

 Ele estava diferente. Novamente, parecia vivo, coisa que nunca pareceu em vida. Seu cabelo não estava como eu lembrava. Estava preto, puro. Seus olhos, tinham perdido o tom violeta que agora eu sabia não ser naturais. Tinha carne, ou seja lá o que era aquilo, nas suas bochechas, sumindo com a expressão esquelética. Era como olhar num espelho, com algumas diferenças perceptivas, como o formato da barba, que a dele era bem mais cheia e os olhos. Meus olhos eram o da minha mãe, nada parecido com os esmeraldas desconhecidos que me encaravam agora. 

Night Court - Zayn Malik.Where stories live. Discover now