Capítulo 62: Culpado.

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Mais cedo novamente :v Boa leitura, espero que gostem, xoxo

Z A Y N

 Era estranho ser prisioneiro da própria mente e de si mesmo. 

 Sim, eu querendo admitir ou não, essa coisa, essa pessoa, que estava controlando o meu corpo e mente nada mais era do que... eu mesmo. Era eu. Cada palavra que saia da minha boca, era minha. Eu sempre soube que essa parte de mim existia e sempre fugi dela o máximo que podia e agora que eu conseguia ver como ela era, entendia cada vez mais o porquê de eu ter feito isso. 

 Apesar de ser eu, eu também conseguia separar os dois. Eu de agora, era o "eu" normal. Estava no fundo da minha mente, sem voz e sem visão. Eu conseguia sentir o que o outro eu estava sentindo e era uma fome, um desejo, tão avassalador que me doía fisicamente ficar sem. Eu precisava aliviar isso de algum jeito e o único jeito seria ganhando mais e mais poder. 

 Minha mente estava nublada. Eu conseguia me manter focado se me esforçasse muito, mas qualquer deslizada e perda de foco, eu estava planejando a morte da minha parceira, como um ser único e não separado. Estava me odiando cada segundo mais e mais por isso. 

 A cela de ferro e o injetado na veia apenas piorava a dor física que a falta de poder me causava. Eu estava começando a sentir o estômago rodar e a vontade de morrer ou de simplesmente fazer qualquer coisa para essa dor passar me consumir. 

 Como disse antes, eu sempre soube que essa parte de mim existia. Mas era tão mais fácil ignorar antes de ter provado a sensação que isso causava. Agora era como tentar tirar o álcool de um alcoólatra ou a droga de um drogado. Eu estava em estado de abstinência e estava ficando doido com isso. 

 Quando sinto força o suficiente para levantar, sei que ainda não estou em total controle do meu corpo, apesar de me sentir um pouco mais ativo na mente. Sinto que não estou sozinho e quando olho para cima, encontro Louis. 

 Sem nem pensar ou ser da minha vontade, o sorriso que estava me assombrando aparece no meu rosto. 

 - O que você veio fazer aqui? Você sabe que era para você ter morrido no lugar de Ruby, não sabe? - Eu não conseguia me controlar. Quando via, já tinha atacado verbalmente - a única maneira que eu podia atacar. - alguém que eu considerava amigo e amava. 

 - Você acha que é capaz de me fazer se sentir culpado? Achei que me conhecesse melhor. - Eu não conseguiria dobrar Louis. Ao menos, não com palavras.

 Louis estala o pescoço, a confiança dele me intimida. Ele me intimida. Se aproximando na cela, a postura impecável e o olhar cortante e gélido conseguindo encarar a minha alma, ele fala calmamente, despejando palavra por palavra que pingava desgosto e até mesmo nojo. 

 - Mas você quer que eu te ensine a fazer a alguém se sentir culpado? Muito bem, minha vez, então. Como se sente após ter atacado a mãe do seu filho? A única pessoa que te protegeu?  Que fez de tudo para não te machucar? Como se sente sendo esse bosta que a única coisa que pensa é matar seus entes queridos para ter mais poder? Vai ser fazer o que com isso? Enfiar no cu? Porque depois que você nos matar, se conseguir, matar, você vai ficar sozinho e apodrecer na culpa. Poderoso? Sim. Solitário? Pode ter certeza. 

 Apesar da indiferença no meu rosto, ele me tinha me atingindo fundo. A dor da sede era nada em comparação a faca imaginária que ele tinha enfiado entre as minhas costelas e girado. Louis sabia cortar profundo e limpo. Com isso, sinto um pouquinho mais de controle no meu próprio corpo, a culpa e arrependimento sendo uma corda firma para se segurar. 

 - Acabou? - Pelo sorriso no rosto dele, ele sabia o estrago que tinha feito. - Eu não imagino o que pode ter te feito pensar que vocês importam uma merda para mim. - O controle ainda não era total e eu via as palavras saindo da minha boca sem eu ter a mínima intenção de fala-las. 

 - Sabe o que me faz pensar? Por trás dessa parede, desse muro, tem o meu amigo. E ele se importa com a gente. Se importa mais do que com ele mesmo, então, ele vai voltar. - Eu sorrio, mas enquanto o meu é de conforto e felicidade por ele ainda ter fé em mim, o que é estampado na minha cara é de deboche. 

 - Seu "amigo" - Observo meus dedos formarem aspas no ar. - Está morto. 

 - Zayn. - Me assusto quando acho que ele está conseguindo me ver, olhando diretamente nos meus olhos. Quero poder falar alguma coisa. Quero poder mostrar para ele que eu estava ali. Queria poder fazer algo que o fizesse não desistir de mim. Que o fizesse continuar acreditando em mim. - Eu sei que você está ai. 

 Meus olhos lacrimejam pelo esforço e sinto minhas mãos suando frio. Meu corpo não me obedecia, mas por um breve momento, eu consigo enxergar as coisas pelos meus olhos e tenho certeza que eles mudaram de cor, já que Louis dá um sobressalto, assustado. Ainda o encarando, sei que o violeta tinha voltado, mas uma única lágrima escorre, quebrando a expressão de deboche e indiferença. 

 - Nós não vamos desistir de você. - Ele me promete, mas dá as costas, também parecendo ter perdido a compostura. 

 Escuto seus passos sumindo um por um no corredor e posso estar enganado, mas poderia ter jurado escutar um soluço.

 *

  Dias se passam até eu ter uma nova visita. Ficar trancando comigo mesmo era o pior castigo que alguém poderia me infligir. Dia e noite eu estava tendo que lutar com pensamentos sobre como matar meus amigos, minha família, meu filho. Apesar desse desejo, dessa voz, ficar mais baixa a cada dia, ela não estava abaixando de forma rápida. Abaixava pouquíssimo, as vezes, quase não dava para notar. 

 A perturbação era constante e já não conseguia mais contar nos dedos o tanto de vezes que eu tinha imaginado e planejado exatamente o que eu faria, caso conseguisse escapar. Ironicamente, meu primeiro alvo era sempre Aria, e ali estava ela, me encarando. O desconhecimento no seu olhar machucava. Ela não me reconhecia mais. Mas nem eu sabia se conseguia me olhar no espelho e me achar novamente. 

 - Por que você não me mata logo? - Meu lado que não aguentava mais esse tormento, pergunta, cansado. Ainda assim, o tom de desafio brinca nas minhas palavras. Eu sabia que ela não me mataria, mesmo que pudesse fazer isso com um simples acenar de mão. 

 - Alguma melhora? - Se eu falasse que sim, poderia sair... 

 - Estou muito melhor. - Fico chocado em como eu soo como eu mesmo, mesmo sabendo que era apenas a parte de mim que queria lhe manipular para conseguir a liberdade. 

 - Vai mentir na casa do caralho. - Nossa. Alguém estava estressado. 

 Sinto meu corpo sendo erguido, os braços presos conforme eu tento me mexer enquanto sou arrastado para o início da cela, colocando o corpo na grade. 

 - O que diabos você está fazendo? - Xingo, sentindo que não conseguia mover um dedo. 

 - Fica quieto. - Não tenho opção, já que novamente sinto algo furar a minha pele e a inconsciência tomar conta. 

 O tom, o jeito que ela estava falando comigo... Ela estava tão indiferente. O que tinha acontecido? Ela tinha desistido de mim? Acabou? Era isso? Se eu não conseguisse lutar e vencer de mim mesmo, ela me mataria? Ou me deixaria aqui mofando, sem nem ao menos me visitar? Tentar tocar o laço era impossível e eu não sabia se por minha culpa ou dela. 

 - Por... favor... - Eu consigo por isso para fora, sentindo todo o rosto começar a ficar dormente. - Aria... - Ela se vira, a indiferença e o jeito de me olhar parte o meu coração, a faca que Louis já tinha espetado parece girar em círculos intermináveis, cortando tudo a volta. - Eu ainda... - Meus olhos estão ficando pesados. Minha língua estava seca como se eu tivesse mastigado areia. Falar parecia ser algo impossível, mas dou tudo de mim para completar a frase. - Estou aqui. 

 Apagão. Não sei se é a minha desesperada por alguma coisa ou se eu conseguir ver a sombra de um sorriso no seu rosto antes de tudo escurecer. Eu precisava que ela ainda sentisse algo por mim. Notei que tinha algo pior do que não conseguir mais poder. Tinha algo pior do que lutar comigo mesmo. Era o seu ódio. Seu ódio e indiferença era o que de verdade me mataria. Eu não conseguiria viver num mundo onde eu nunca seria novamente o motivo do seu sorriso. Eu não conseguiria viver num mundo onde o culpado por ter apagado a sua luz, a sua vida, fosse eu. 

 Eu só... não conseguiria. 

 Com esses pensamentos, escuto o silêncio reinar na minha mente pela primeira vez depois de dias. Posso, finalmente, descansar em paz. 

Night Court - Zayn Malik.Where stories live. Discover now