19- Nothing Left To Lose.

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AVISO: Algumas cenas desse capítulo foram tiradas da série Euphoria. 

Taylor On...

Dois dias depois, eu não fazia ideia de onde estava Luke, ou o que ele estava fazendo. Ainda não tinha conseguido me levantar da cama, mas comi um pouco de lasanha que Kaya fez para mim na noite passada, só para deixá-la mais feliz. Estava deliciosa, mas depois de dias sem comer, meu estômago não aguentou a comida pesada e vomitei tudo no banheiro, não falei com Kay sobre isso.

O dia de hoje estava frio, e eu sabia que era dia porque marcavam 17:00 no meu notebook, e não porque eu via os raios do sol, já que no meu quarto era sempre noite. Eu estava deitada na cama, enrolada em um edredom que já não tinha mais um cheiro muito agradável, e assistia Everybody Hates Chris, na tela do computador. Já tinha assistido essa série umas mil vezes, e provavelmente já sabia todas as piadas, por isso não tinha mais graça para mim, porém, havia começado ela toda de novo. Era a minha preferida, mas nem ela conseguia me animar no momento e eu estava presa nesse ciclo redundante.

Eu sabia que precisava fazer alguma coisa quanto a isso, mas no momento Dylan estava respeitando meu luto social, assim como Kaya, então estava aproveitando isso. Tinha escutado ela saindo de casa para à Máfia há umas duas horas, e fiquei feliz por ver que ela não estava mais velando meu quarto, e que tinha começado a voltar com a vida normal.

Mesmo sabendo que estava sozinha, não me levantei da cama. Sentia minha bexiga doer um pouco, porque estava há horas sem ir ao banheiro, mas já estava acostumada, afinal, eu só ia no banheiro uma ou duas vezes no dia, quando eu conseguia levantar. Eu não tinha forças para levantar, e pensar em me movimentar doía mais do que a bexiga. Não contei a Kaya sobre minha dor, mas acho que provavelmente é uma infecção urinária.

Eu também não conseguia dormir, mas sabia que todas essas reações não se deviam somente a Luke. A culpa de todo mal que já fiz na vida começou a pesar em meus ombros, e todas as noites em que tentava dormir, pesadelos com as mortes que causei me assombravam. Acordei gritando muito nas noites em que tentei dormir, por isso não durmo mais, acho que já faz umas duas noites, mas não tenho certeza disso.

Todo esse tempo isolada do mundo, sem dormir, sem comer, sem ir ao banheiro, me fez pensar tanto em tantas coisas. Por isso, em meio a tanta culpa e tantos pesadelos, resolvi contar quantas pessoas matei... parei de contar quando cheguei perto de 1000.

Esse pensamento me assombrava. Eu nunca fui muito de fazer contagem de pessoas que eu tivesse matado, mas quando contei as que lembrava e cheguei perto de um número tão grande, não consegui continuar. Pensar que já havia tirado 1000 vidas, me fazia sentir como se fosse uma alma totalmente perdida, acredito que Lucifer esteja louco para me encontrar.

Nunca havia parado para pensar nas coisas ruins que já havia feito até agora, nas drogas, armas e bares, tudo isso me fazia sentir tão suja, acho que Kaya tinha razão, ninguém me odiava mais do que eu mesma.

Coloco o notebook ao meu lado na cama, cansada de ouvir a voz irritante da Rochelle. Cruzo as pernas no ar, e olho para o teto do meu quarto escuro. Movimento minha mão só o suficiente para alcançar a mesa de cabeceira, até alcançar minha cartela de cigarro. Claro que meu vício eu não larguei, acho que era a única coisa que eu ainda sentia vontade de fazer, isso também me fizesse sentir ruim e acho que talvez seja esse o motivo de eu desejar algo mais forte.

Acendo meu tubinho branco, olhando para o chão e vendo tantos dele que nem consigo contar. Kaya não conseguia mais entrar no meu quarto direito, sempre fazia cara feia, mas se segurava para não falar nada, e eu agradecia. Eu a amava, mas nunca quis que ela ficasse tão longe de mim quanto agora.

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