XLVIII.

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O novo carregador

de sacolas oficial

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Eu poderia reclamar de muitas coisas nessa visitinha à Nova Roma. O augure maluco cheio de ursinhos pendurados no cinto, como se tivesse saído do maldito filme de baixo orçamento do Chucky, que nos observava com uma expressão assassina, por exemplo. A garota de pele negra e cabelos cacheados incríveis, que continuava encarando o Garoto em Chamas como se ele fosse um quadro de Leonardo da Vinci fugido do museu ── Valdez realmente parece a porra de uma pintura renascentista, mas isso não vem ao caso agora.

Bom, ao menos a comida daqui é incrível.

O refeitório deles possuía um vendaval de comidas ── literalmente ──, trazidas no ar pelos espíritos de vento que surgiam e sumiam a cada mísero instante. Enquanto os semideuses na mesa conversavam amenidades, ou ao menos tentavam, eu colecionava pratos vazios à minha frente. Perdi a conta de quantas coisas havia comido. Um prato com rosbife, dois pedaços de pizza, a porção de batatas fritas, o mousse de chocolate... vocês me entenderam.

Ao meu lado esquerdo, Valdez construía em uma das mãos um catavento com o papel alumínio de alguma embalagem qualquer. A outra mão dele segurava a minha sob a mesa, apoiada na minha perna, girando meus anéis, quase involuntariamente. Roubei um dos cataventos no instante que ele grudava o outro na cabeça da pobre espírito de vento que passou as nossas costas, me concentrando em soprar o brinquedinho infantil.

O garoto grande com expressões infantis observou por um instante, parecia me avaliar silenciosamente. Lembrei de ter ouvido o Filhote de Pescador apresentando-o à Annabeth como sendo Frank, um filho de Marte
── ou Ares, tanto faz, ele é cretino nas duas formas ──. Ele estava claramente desconfortável ali, fosse por estar sentado ao lado do matador de ursos de pelúcia, ou por qualquer outro motivo.

── Se eu sou filha de Ares, e você é filho de Marte ── Comecei falando, imediatamente todos na mesa pararam de falar. Não era minha intenção inicial ter todas as atenções em mim, mas seria mentira dizer que isso me incomoda. ── Isso nos faz o quê, exatamente? Meio-irmãos? Meio-meio-irmãos? Parentes distantes? Pôneis cor-de-rosa?

A comandante desse acampamento ── que eu julgava ser algum tipo de Mulher-Maravilha da vida real (aliás, ninguém nunca viu as duas juntas no mesmo lugar... isso pode ser um indício) ── levou a colherada do doce posto num pequeno pote até a boca. Deveria ter sido casual, mas eu poderia apostar que essa garota arrancaria meus olhos com essa mesma colher na primeira suspeita de sermos perigosos.

── Pôneis? ── perguntou o Kung Fu Panda, logo ele franziu a sobrancelha, decidindo ignorar isso. ── Eu não sei, talvez sejamos apenas meio-irmãos. Isso é confuso.

A risadinha típica de vilões baratos de séries infanto-juvenil me fez virar a cabeça na direção do Jack, o estripador de ursinhos ── eu claramente não gostei dele, que fique bem claro aqui.

── Vemos bem o que temos aqui... ── me inclinei levemente sobre a mesa ao ouvir o tom zombeteiro dele. ── A que diz ser filha de uma deusa virgem ── supus que ele estivesse falando sobre Annie. ── Um fauno fêmea. ── a citada ergueu a sobrancelha, e eu quase senti pena pela alma dele. ── E, agora, uma filha desajustada de Marte.

Continuei mexendo na minha comida, vi o exato momento no qual Annabeth e Judith abriram a boca para rebater. Mesmo os outros assumiram a postura muito mais denfensiva. Dory largou o garfo, Bonitinha tirou a atenção de conversa amistosa que tinha com um dos legionários, Nemo franzia a testa e mesmo Leo parou de construir seus cataventos, observando pela primeira vez o que acontecia na mesa. Ele chegou a abrir a boca, prestes a dizer algo.

𝐓𝐇𝐄 𝐄𝐈𝐆𝐇𝐓𝐇 𝐂𝐀𝐍𝐃𝐋𝐄 ▪ LEO VALDEZOnde as histórias ganham vida. Descobre agora