XV.

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Desenho digno de Picasso
e filhos ruivos que pegam
fogo.
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Pude perceber a burrada que foi me encher de comida no exato momento no qual o Dragão da Alegria começou a balançar entre os prédios, acredite, se assemelhava muito à uma montanha russa desgovernada. A diferença é que aqui não existem cintos de segurança.

Tive de gritar ao ver as asas da nossa montaria baterem num dos edifícios, derrubando uma gargula de pedra. É, talvez hoje não seja um bom dia para andar nas ruas dessa cidade, não quando Festus derruba pedaços e mais pedaços de concreto ao chão.

— Levanta isso logo, criatura! — gritei, tentando fazer minha voz ser ouvida entre o vento que rugia em nossos ouvidos. — Tá querendo nos matar?

— Vamos segui-lo do alto. — Dory deu a ideia.

— Vocês querem dirigir essa coisa? — quase respondi um sim, seria meu sonho de princesa controlar o dragãozinho.

Ao contrário do que fez parecer, o Garoto em Chamas resolveu acatar as sugestões. Esse espirito da tempestade — ou ventus, como eles insistiam em chamar — fazia uma confusão danada, derrubava cadeiras, passava entre os pedestres, bagunçava os cabelos das mulheres… eu quase podia ter a horrível sensação do cabelo grudando no gloss.

— Ah, que maravilha — a garota de Afrodite resmungou, olhei o lugar que ela apontava. — São dois.

Obviamente a minha vida já não estava complicada o suficiente com um desses capetinhas, agora teriamos de lidar com dois deles. Obrigada, deuses, por nos ajudarem em absolutamente nada.

— Tem certeza que precisamos ir atrás deles? — Virei o corpo, perguntando ao líder dessa missão. Seria capaz de dançar sapateado se ele negasse, mas isso não aconteceu. — Poderíamos tentar outra coisa, talvez se ficarmos paradinhos aqui os monstros venham até nós, isso sempre acontece uma hora ou outra mesmo. Vamos apenas economizar energia.

— Ela tem um ponto válido — o Eragon concordou. — Esses caras deveriam maneirar na cafeína…

— Não temos tempo para esperar, o solstício vai acontecer logo, precisamos seguir eles — rebateu a Rainha da Beleza. — Chicago dever ser um bom lugar para passarem o tempo, ninguém ia perceber uma ou duas ventanias do mal.

Pensei em concordar com ela, porém, antes disso, Dory nos mostrou que, para falar a verdade, estavamos perto não só de dois deles e sim de vários. Incontáveis. Inumeráveis. Infinitos. Incalculáveis e todos os sinônimos possíveis dessas palavras.

O piloto de dragão perguntou algo aos amigos, sequer prestei atenção nisso, estava mais preocupada em manter a comida que ingeri onde ela deveria ficar: guardada no meu estômago. Os cabeças-de-vento voavam alto, só para darem piruetas e giros, rodopiando de maneira incontrolável em torno de uma grande instalação de arte.

Aquilo lembrava um dos meus sonhos, as duas construções de cinco ou seis metros sobre um espelho d'água pareciam as mesma que sonhei algumas noites atrás. Ao mesmo tempo, nenhuma delas exalava o poder estranho nem a força. Pareciam normais, comuns eu diria. Isso não me deixava mais calma.

Nada nessa porcaria é normal, e tudo que parece ser normal me cheira a “armadilha que vai me fazer correr feito uma infeliz e quase morrer”. Mas é aquele ditado: nada está tão ruim que não possa piorar.

E piorou.

Os monólitos pareciam ter televisões embutidas, onde a imagem de um gigante cuspindo água se destacava, bom, até ela mudar para a de uma mulher com os olhos fechados. Lembrei, no mesmo instante, da Rainha da Sucata, aquela criatura saida diretamente do inferno que se materializou num monte de cocô seco.

𝐓𝐇𝐄 𝐄𝐈𝐆𝐇𝐓𝐇 𝐂𝐀𝐍𝐃𝐋𝐄 ▪ LEO VALDEZOnde as histórias ganham vida. Descobre agora