XXV.

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A cachorrada tá solta

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— Fiquem aí. Vamos proteger vocês.

Essa frase. Essa única frase. Cinco míseras palavrinhas que fizeram meu interior se contorcer em raiva. Pela primeira vez, tive a imensa vontade de socar todos os 32 dentes perfeitamente alinhados dele.

Alguma parte semi-adormecida dentro de mim parecia rugir só de pensar em ficar parada enquanto os garotos pegavam as armas e iam lutar, oras, eu já passei da idade em que tinha complexo de Cinderela.

Minha vó costumava dizer que as mulheres da família Eisen nunca eram as princesas indefesas presas numa torre, a velha sempre nos comparava aos dragões ferozes que matavam príncipes desavisados.

Pensando nisso, levantei segurando o chicote nas mãos trêmulas — Se por medo ou por frio, isso eu não sabia. Talvez pelos dois —. Me coloquei entre os dois garotos, enquanto a Bonitinha ficava um passo atrás e o Bode Velho brandia o bastão ao nosso lado.

Olhos vermelhos brilharam no escuro, e um grupo de cachorros raivosos e viciados em anabolizantes foram vistos através das chamas da fogueira. Um deles tinha quase o tamanho de um boi, os olhinhos brilhando em malícia — como um animal demonstra sentimentos? Mistérios da vida de semideus — e as presas brilhando sob a luz fraca.

Ótimo! Vamos todos acabar virando comida de totó.

Desmemoriado, num ato de extrema burrice que apenas as criaturas do sexo masculino demonstravam, deu um passo a frente falando algo que supus ser latim. Valdez e eu nos entreolhamos, conseguia entender perfeitamente o que ele queria transmitir:

“Ele ficou doido?”

Apenas acenei, concordando. Talvez a falta de memória e a pancada na cabeça que ganhou dos ciclopes tivesse deixado o loirinho meio biruta das ideias.

Mas, superando as expectativas, a única frase surtiu efeito na alcatéia maluca. Os lobos fugidos diretamente de algum episódio de teen wolf arreganharam mais os dentes, embora o alfa tenha impedido um deles de avançar até nós e, provavelmente, fazer picadinho de semideus.

Senti o anel de namoro pesando no meu dedo, o objeto de prata cheio de pedrinhas pequenas azuis queimava levemente. Tentei avisar ao meu cérebro imbecil que agora não era a melhor hora para lembrar do cretino daltônico, tinha coisas mais importantes a resolver. Continuar viva, por exemplo.

— Eis o plano: eu mato todos eles e vocês escapam. — obviamemte a ideia estapafúrdia veio do sátiro.

Não adiantaria, a voz da minha consciência avisou — estranhamente, ela soava como a voz de vovó —. Eram muitos lobos, inúmeros. No ambiente escuro, consegui distinguir doze deles. Com a Rainha da Beleza fora de combate, cada um de nós teria de derrubar ao menos três, fora o alfa especialmente grande.

Em resumo da ópera: estavamos completamente ferrados.

— Não ouse, Cabrito Imbecil. — Ignorei o resmungo dele sobre o apelido. — Se sair da formação, vai abrir espaço deles para um ataque no flanco direito e Piper ainda não pode lutar. Ou lutamos juntos, ou todos nós vamos morrer.

Uou. Certo, agora eu pareci muito com Clarisse dando ordens no chalé 5.

— Desde quando sabe tanto sobre isso? — A perguta soou em tom esganiçado pelo medo.

𝐓𝐇𝐄 𝐄𝐈𝐆𝐇𝐓𝐇 𝐂𝐀𝐍𝐃𝐋𝐄 ▪ LEO VALDEZOnde as histórias ganham vida. Descobre agora