LXI.

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Veneno, gelo
e limão
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Diferentemente de mim, que dormi perfeitamente bem, o sátiro pirado parecia ter acordado com o pé esquerdo. Antes da oito da manhã já se ouvia os gritos esganiçados de Hedge e o barulho que o taco de basebol fazia ao ser esmurrado contra as portas. Esse era o nosso despertador de todos os dias.

── Tem cabelo seu dentro da minha boca. ── o Garoto em Chamas murmurou, os olhos fechados e a voz grogue de sono, enquanto soprava uma mecha dos meus fios ruivos. Na verdade, meu cabelo ocupava todo o rosto dele. Era uma cena ao mesmo tempo engraçada e fofa. ── Bom dia.

Ele permanecia de olhos fechados, se agarrando a minha cintura como se eu fosse algum tipo de urso de pelúcia gigante.

── Dia. ── comecei a tirar as mechinhas de cabelo do rosto dele, tentando alinhar os cachinhos escuros e rebeldes, que apontavam para todos os lados.

Estava prestes a virar de lado e voltar a dormir por mais alguns minutos. Talvez por mais duas horas ou quem sabe três dias. Essa semana estava sendo cansativa ao ponto de querer passar o próximo mês hibernando. Ficar ali, com Leo, era mil vezes mais tentador do que acordar só para ser derrubada por algum monstro maluco. Mas, como a alegria de semideus dura pouco...

── ANNABETH, JACKSON E VALDEZ! ── Hedge gritou a plenos pulmões. ──  Onde estão esses idiotas? APAREÇAM OU VOU BUSCÁ-LOS AOS PONTA PÉS!

Como se levando um choque, nós dois nos sentamos na cama com uma rapidez invejável. Pela altura dos gritos, o cabrito endiabrado não só estava puto como deveria estar bem em frente a minha porta. Ótimo.

Derik, meu deus, e agora?

Pulei da cama, puxando a muda de roupas que tinha separado ontem antes de dormir ── para caso tivesse de me vestir rápido para alguma missão de última hora, posso estar prestes a morrer, mas mal vestida? Nananinanão! ──. Leo apenas ficou me encarando com olhos arregalados, o sono de cinco minutos atrás sumindo.

── Eu vou lá fora falar com ele, você sai de fininho. Se enfia nas forjas ou em algum lugar assim. ── sussurrei, calçando os saltos liláses, que combinavam perfeitamente com a minha saia xadrez da mesma cor. ── Depois a gente finge que nada aconteceu.

Concordando, ele pôs o tênis nos pés, pulando num pé só enquanto amarrava o cadarço. Era uma bela maneira de começar a manhã.

Quase ri da cena, parecia parte de um filme clichê. A diferença desses filmes é que geralmente o casal faz, hm, algo mais. Uma fornicada, no caso. Coisa que a gente não fez. Por que não? Também não sei. Mas não foi hoje.

── Onde acha que Percy e Annabeth estão? ── ele perguntou, arrumando, ou apenas bagunçando ainda mais os cachinhos.

Nós dois nos encaramos, dois sorrisinhos ladinos dignos de quinto ano estampados no rosto. Talvez por isso o namoro desse certo, o nosso nível de maturidade era bem equiparado ── nenhum de nós tinha um único pingo de maturidade nesses casos, caso não tenha ficado claro. Eramos dois eternos alunos do fundamental prestes a fazer piadinhas idiotas sobre deus ── literalmente deuses ── e o mundo.

Enquanto eu sai do quarto, ele se escondeu atrás da porta. Hedge, parecendo um soldadinho de chumbo com seu taco apoiado nos ombros, estreitou os olhos para tentar ver o cômodo por sobre meus ombros ── não deu certo, porque, embora eu não seja a mais alta das garotas, o sátiro Megalomaníaco ainda tinha só um metro e quarenta e poucos de altura.

𝐓𝐇𝐄 𝐄𝐈𝐆𝐇𝐓𝐇 𝐂𝐀𝐍𝐃𝐋𝐄 ▪ LEO VALDEZOnde as histórias ganham vida. Descobre agora