ESPECIAL 210K PT. 1

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❝Onde Verônica e Leo
são amigos desde o
berço.❞

Au!/ friends to love/ sem deuses

▍1 dia ▍

Astória tinha estado nervosa quando entrou na maternidade, um amontoado de aflições e de receios enquanto acariciava a enorme barriga. Aparentemente, sua pequena menininha não aguentava mais esperar para nascer e, por pura geniosidade, resolvera nascer quase um mês antes do previsto. Como se houvesse escolhido a dedo aquele dia em especial para vir ao mundo.

Seu marido Bernard a segurava por um dos braços, eufórico como uma criança pronta para ganhar um doce, segurando seu outro braço e com a expressão mais calma estava Ares, seu outro marido ── a relação dos três era algo difícil de explicar para as pessoas, em geral Astória apenas deixava que o mais impaciente dos três lançasse um olhar raivoso a quem quer que fizesse a pergunta indiscreta ──. Sua mãe vinha atrás, o rosto neutro, até entediado, como o de quem fora obrigada a deixar para trás uma taça de vinho pela metade.

Em teoria, as regras do hospital diziam que apenas um deles deveria entrar na sala de parto como acompanhante. Ainda sim, a velha Eisen batera o pé ── ou seria o leque? ──, obrigando a pobre enfermeira a liberar a entrada de todos, inclusive a dela.

Ah, como era engraçado ver um senhora dando ordens aos pobres enfermeiros.

Mesmo o médico parecia desviar os olhos dela. Pudera, a velha havia feito a promessa de destruir não só a carreira como a vida do pobre homem se algo desse errado. Para sorte dele, de Astória e do pequeno bebê, tudo parecia perfeitamente nos conformes. A menina nasceu, com seus olhos verdes bonitos e pulmões cheios de um fôlego infinito. Porque, pelos deuses, como berrava aquela coisinha minúscula. Por onde passava, os olhares dos pacientes se voltavam a ela, chocados por tanto barulho, até mesmo preocupados com a saúde dela. Em vão, claro, Verônica era perfeitamente saudável, apenas escandalosa.

Pelo que pareceram horas, ela continuou chorando. Por vezes, quando todos achavam que enfim se acalmaria, o bebê soltava o que lembrava vagamente um sorriso e tornava a gritar.

── Eu avisei que deveríamos ter adotado um cachorro. ── Resmungava Ares balançando a menininha no colo, embora tivesse soltado um tipo de grunhido muito irritado quando a pobre enfermeira tentara tirar o bebê de seus braços e a levar para outro cômodo. ── Menos trabalho. Menos barulho.

── Ah, sim. Deveríamos mesmo. ── a velha Eisen dissera, sem tirar os olhos das unhas que lixava. ── Aposto que o animal nos daria menos trabalho para adestrar do que você nos deu.

Bernard encostou-se na parede, tentando passar despercebido entre a velha maluca e seu cônjuge raivoso. Estar num cômodo fechado com os dois, mais a experiência de seu bebê chorando, o fazia pensar os motivos de ter se envolvido nesse estranho relacionamento. Astória, por outro lado, havia dormido em algum momento entre o choro e a briga, provavelmente exausta por ter parido a pequena menina berrona.

Foi quando a briga entre Leona e Ares atinfiu seu auge e Verônica engoliu mais fôlego para chorar, que uma senhora assustada entrou pelo quarto. Estava ansiosa ao dizer que, com o hospital cheio, precisaria trazer outra mãe com seu bebê para o quarto ── que, para qualquer um que visse de fora, lembraria mais uma zona de guerra. Em menos de dez minutos uma mulher bonita, de cabelos castanhos escuros e cacheados fora trazida numa cadeira de rodas, um bebê silencioso enrolado em mantas de tom pastel. Esperanza Valdez não se assustou com a gritaria da criança, tampouco com a velha e marmanjo alto e tatuado discutindo, ela tinha vindo de uma família mexicana grande e barulhenta, afinal.

𝐓𝐇𝐄 𝐄𝐈𝐆𝐇𝐓𝐇 𝐂𝐀𝐍𝐃𝐋𝐄 ▪ LEO VALDEZOnde as histórias ganham vida. Descobre agora