Capítulo 36

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— Não era isso que eu estava esperando.

Kol continuou sentado, encostado em uma árvore e não se deu o trabalho de responder.

Estávamos no limiar da clareia e ele havia acabado de passar como seria o início do meu treinamento.

Caçar coelhos.

Roedores.

Bolas de pelos brancos.

Isso só podia ser uma brincadeira.

Mantive minha expressão incrédula enquanto encarava Kol que por sua vez mantinha a expressão mais neutra possível.

Os cabelos amarrados deixavam o seu rosto ainda mais destacado e precisava admitir ele tinha lá seu charme. O maxilar bem definido e o nariz empinado eram uma ótima formação naquele rosto.

Mas que infernos de distração.

Fechei os olhos, cruzei os braços e inspirei alto.

— Que diabos de treinamento é esse? - Perguntei voltando a encara-lo.

Kol podia ser illyriano mas estava longe de ter o temperamento deles.

Qualquer outro já teria me desafiado, espancado e desistido. Mas aquele macho não. E pela Mãe eu quis saber o que o fez ter o temperamento tão ameno.

Em um impulso Kol ficou em pé.

— Você não sabe apenas seguir ordens?

Levantei uma sobrancelha em resposta. Ele revirou os olhos.

— Só me diga: porque coelhos?

— Não preciso ver a dimensão dos seus poderes para saber que você é poderosa. — Tentei manter a cara neutra mediante aquela afirmação — Golpes e movimentos de batalha são fáceis de aprender, o problema é que poucos sabem como usá-los porque não possuem o foco. Não sabem localizar o alvo e focar nele.

Kol deu alguns paços para trás e sacou a faca de caça da coxa.

— Pedi para você trazer somente a arma que tem mais segurança porque muitas vezes no campo de batalha é tudo que temos. Uma única arma. Uma única chance. — Por mais escuro que tivesse em nenhum momento tirei os olhos do rosto do illyriano. E a última frase ele pronunciou com tanto afinco que tive certeza que ele passou por isso. E recentemente. — Para cada alvo que tiver você só terá uma chance. — Ele se aproximou, chegou tão perto que tive que levantar a cabeça para lhe olhar. A respiração do macho estava leve, serena. Com a voz calma ele continuou — Apure deus sentidos. Foque no seu alvo, mas não se esqueça do ambiente ao redor. Sinta tudo com sua alma — um passo à frente e então o metal gelado estava no meu queixo. Ele abaixou o rosto enquanto forçava meu rosto para cima com a faca. — Desenvolva sua audição e seu olfato, faça que o estado de alerta seja tão natural como respirar. — O olhar dele brilhou — Lembre-se de quem você é, e o quão poderosa pode a vim ser, e então... — a lâmina saiu da mão dele e se chocou contra uma pequena lebre que passava a 2 metros dali. Meu coração estava acelerado e meu corpo petrificado, incapaz de tirar o olho do pequeno animal morto. Senti a respiração quente na minha orelha. Meu corpo se arrepiou quando ele proferiu as últimas palavras: — Você será invencível.

Quando o primeiro raio de sol tocou o céu eu havia capturado o total de dois coelhos.

Aquela maldita tarefa era muito pior do que eu havia imaginado. Não tinha nada a ver com magia, com força ou com a clássica dança que ocorre nas batalhas. Meus sentidos era tudo que importava ali e até aquele momento eu não havia dado conta do quanto não dava importância ou não tentava aguça-los.

Corte de sombras e esperançaWhere stories live. Discover now