Capítulo 10

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Podia jurar que Cassian prendeu o ar no momento em que Nestha desceu três degraus, lentamente, depois da minha fala.

Os olhos da fêmea não saíram do meu rosto em nenhum momento sequer, e eu não conseguia descrever o que via neles.

— Não me lembro de você junto com a cavaleira que falhou miseravelmente em nos salvar. — Rancor e raiva era o que ela sentia por cada um deles.

Cassian ficou tenso ao meu lado. Lhe olhei por alguns segundos e vi culpa ali, em cada parte daquele belo rosto. Ele era um guerreiro, e deveria estar acostumado com falhas, ou era o que pensava. Pelo visto, o que fora causado aquela fêmea lhe atingiu profundamente.

— Porque não estava com eles. — Respondi voltando a lhe encarar.

Mais três degraus.

— Então com a corte traidora que nos entregou? — Bufei.

— De todos os insultos que você poderia proferir, certamente me chamar de aliada da corte primaveril é o maior deles.  — Não tirei o olhar do seu rosto enquanto chegava a base da escada.

Senti a aproximação de Azriel lentamente a minha direita. Cassian não ousara mover um musculo.

— Então onde diabos estava enquanto eu e minha irmã adentramos naquele inferno?

Dei de ombros ao responder:

— Ouvindo tudo.

E mais rápido do que meus olhos pudessem acompanhar, ela estava a centímetros do meu rosto com o punho erguido. Se Cassian não tivesse interrompido o golpe ainda no ar, provavelmente estaria escorrendo sangue da minha face, de novo.

Ouvindo tudo? — Ela praticamente cuspiu as palavras.

— Nestha... — Cass tentou dizer, mas ela lhe lançou um olhar mortal e o mesmo se calou. Mas se manteve segurando seu pulso na altura do quadril.

— Como ousou ficar parada enquanto estávamos todos sofrendo? Enquanto ele — apontou com o queixo para Cassian — estava com as asas dilaceradas e sangrava no chão?

Não havia dúvida de que o fogo que ardia no fundo daqueles olhos azuis era capaz de incendiar aquele acampamento inteiro. Mais alguns minutos e todo o resto de calma que ela ainda possuía iria se esvair. E só por isso, ou era o que estava tentando me convencer, que resolvi responder:

— Se acha tão especial ao ponto de acreditar que fora a primeira a sofrer experiências pelo caldeirão, Nestha? — Não havia nada além de magoa na minha voz quando continuei — Por acha que está viva? Porque acha que todos vocês estão vivos? — Lancei o olhar aos dois illyrianos em minha volta.

Nestha puxou o pulso das mãos de Cassian, que soltou com certa relutância.

O guerreiro deu alguns passos para trás até que tivesse encostado na lareira. Me lançou um olhar como se esperasse que eu continuasse o que havia começado. Nestha não movera um musculo apesar das minhas perguntas retóricas.

Recuei até que minhas pernas batessem no sofá, me sentei e coloquei o rosto nas mãos. Não podia fugir disso, eles precisavam entender, pelo menos aquela parte. Talvez aquilo fosse o suficiente para que perdessem a desconfiança, o suficiente para me levar até meu irmão.

Entalecei as mãos e soltei um logo suspiro.

— Nos conte onde você estava, Rayla. — E para a minha surpresa, a fala viera do mestre espião. A maneira suave com que escutei meu nome sair dos seus lábios pela primeira vez fez com que meu pulso se acelerasse. Ele estava sentado no braço da poltrona a minha direita, e as sombras haviam se dissipado do seu rosto, e pela primeira vez me olhava de uma maneira condescendente. Assenti para ele antes de começar:

Corte de sombras e esperançaWhere stories live. Discover now