Capítulo 21

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Azriel

Não sabia o que estava fazendo naqueles corredores de pedra. Por mais que uma voz na minha cabeça gritasse para que voltasse meu corpo não ouvia, pelo contrário, a cada momento apresava o passo rumo ao último local que deveria ir.

Rayla não havia aparecido para o treino.

Desde de que havíamos começado o treinamento ele nunca havia faltado, nunca. Sequer tinha se atrasado, tirando aquele primeiro dia.

Mas cá estava. Havia esperado por vinte e sete minutos. Malditos vinte e sete completos minutos e nem sequer o cheiro dela deu as caras.

Em outra ocasião, não haveria outro sentimento além da irritabilidade por conta da falta de disciplina. Mas e se não fora isso?

Havia apenas dois dias que ela havia perdido o controle. Já lutei em batalhas suficientes, vi a morte de perto tantas vezes, mas nenhum desses eventos me transmitiu uma onda de desespero tão grande como vê-la ajoelhada sem ar naquela rocha perto do lago.

Rayla tinha enevoado uma parte da floresta porque havia entrado em pânico quando tentara voar.

Pela Mãe.

Os horrores que ela passou deveriam ser tão fortes que conseguiram deixar a illyriana mais poderosa da história de joelhos.

Ontem não apareci em nenhuma das refeições na Casa do vento porque não conseguia olhá-la. O sentimento de desolação por não saber o que fazer para ajudá-la ainda pairava sobre mim e por conta disso, tirando os treinos, estava a evitando.

Mas ela não havia aparecido para a droga do treino.

E se alguma coisa aconteceu? E se tivesse perdido novamente o controle e dessa vez se feriu?

E por essas hipóteses que o sentimento de preocupação crescia em mim enquanto caminhava - quase corria - em direção ao quarto dela.

Contemplei a porta de madeira de carvalho e meus dedos estavam quase tremendo para bater. Cogitei em mandar as sombras verificarem

Mas e se não fosse nada? E se tivesse apenas exagerando e ela tivesse somente perdido o horário? Seria total invasão da sua privacidade.

Tentei me concentrar e consegui detectar o cheiro dela, mas antes que conseguisse fazer com que minha audição entrasse em foco minha mão, como se tivesse vontade própria, se impulsionou para frente e deu duas batidas frenéticas na porta.

Esperei.

Nada por um momento.

Levantei a mão para bater novamente, mas antes que alcançasse a madeira a porta se abriu e...

Rayla estava totalmente sonolenta com seu pijama mostrando mais do que deveria e as asas curvadas para baixo firmando que estava mais dormindo do que acordada naquele momento.

Ela esfregou os olhos então deu uma olhada para a parede ao lado e depois para mim.

— Ah droga. Sinto muito não ter acordado. Mas mesmo que tivesse, de maneira nenhuma irei treinar hoje.

Ela abriu mais a porta com um convite silencioso para que eu entrasse e fora andando até a cama, arrastando as pontas das asas no chão - que desleixo - e se jogou.

Não me movi.

Fiquei parado analisando a minúscula fêmea na enorme cama.

Rayla era maravilhosamente linda. Havia notado isso desde o momento que pus os olhos naquelas órbitas violetas. Os cabelos pretos azulados e as feições marcadas a faziam ter uma aparência de da inveja a qualquer um. Quando começamos a treinar e a vi com o couro illyriano pela primeira vez, quase me esfaqueei por estar olhando demais para a irmã mais nova do meu melhor amigo e irmão.

Corte de sombras e esperançaWhere stories live. Discover now