Capítulo 17

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O barulho agudo de metal contra metal que ressoava no momento em que a chave entrava na fechadura da cela deixava claro que o rei achava que meu corpo já tinha se curado o suficiente do antigo experimento e estava pronto para um novo teste.

Os guardas me puxaram para fora daquele lugar sem luz e começaram a me empurrar pelo corredor. Já conhecia aquele caminho com a palma da minha mão. O corredor feito de pedras em L possuía nove celas e a minha era a última. No final, ou início, do caminho havia uma escada que levava para o nível superior. Naquele nível havia mais duas celas e as salas de experimento.

Na primeira sala havia dezenas de livros de feitiços, materiais para prepara-los e alguns artefatos antigos que possibilitavam a modelagem da magia. Havia ficado poucas vezes ali, geralmente quando Hybern não estava disponível para me torturar seu mestre de venenos, Veny, me mantinha naquela sala e aplicava suas novas experiências em mim. A mesa geralmente estava coberta por líquidos de várias cores e cheiros, cada um com um proposito diferente. No canto superior esquerdo, uma janela, muito ao alto para que pudesse alcançar. Já havia estudado cada possível fuga daquele lugar, mas até então nenhum meio parecia eficaz.

A segunda sala, na qual tinha acabado de entrar, era onde o Rei costumava me manter. Havia correntes que saindo da parede. Duas de cada lado, para meus braços e pernas. Tinham sido desenvolvidas para interceptar a magia feérica. Sempre que era presa as correntes eles puxavam ao máximo impossibilitando que houvesse um meio que me mexesse. Cada músculo do meu corpo gritava a medida que as correntes eram apertadas, mas reprimia qualquer ruído que tentasse sair da minha garganta.

O baralho das portas se abrindo fez com que eu inclinasse o máximo o rosto para cima, me recusando a abaixar a cabeça para aquele bastardo.

— Vejamos o que você pode aguentar hoje, criança. — Hybern disse chegando a minha frente e passando um dedo pelo meu queixo. Grunhi e forcei as amarras para frente fazendo com que ressoasse o barulho de metal por toda a sala e uma dor percorresse todo meu corpo.

Os guardas riram do meu esforço em vão e meu ódio por cada um fervilhou.

— Hoje tentaremos algo diferente. Preciso de tipos variados de soldados no meu exército. — Ele fez uma pausa e pegou algo de metal pontiagudo em cima da mesa. — Por sorte, a sua raça é um tanto quanto primitiva, mas poderosa de certa maneira — os olhos do rei brilhavam com os pensamentos repugnantes que passavam por aquela mente deturpada. — Veremos o que se pode fazer a partir das asas dos illyrianos.

Não... O que ele faria? Todos os venenos e experimentos que haviam criado até agora já estavam testando em mim, mas minhas asas.... Aquilo era o fim.

— Por favor não toque nelas.

O sorriso do rei se tornou felino no momento que me ouviu pedir pela primeira vez. Mas eu não me importaria, não havia orgulho naquele momento, eu imploraria se fosse preciso para minhas asas continuassem como estavam.

Mas o maldito sequer hesitou. Deu a volta ao meu redor e se posicionou as minhas costas. Comecei a me debater tentando de alguma maneira evitar o que estava por vim.

— Abram-nas.

Dois guardas foram em direção de onde a voz do rei vinha e cada um puxou minhas asas até que elas tivessem totalmente esticadas.

Eu queria matá-los, um por um. Não havia pessoa que tocasse nas asas de um illyriano sem autorização que permanecesse vivo. Mas o pensamento se esvaiu da minha mente no momento em que um metal frio e cortante se chocou com a membrana esticada. Um grito de agonia e dor saiu da minha garganta enquanto o sangue começou a pingar no chão duro.

Corte de sombras e esperançaWhere stories live. Discover now