Capítulo 22

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O que inferno foi aquilo?

Afundei até o pescoço na água, verificando o céu limpo de inverno através da grande janela de vidro do banheiro, o vento fustigante zunindo nos picos próximos.

Havia apenas alguns minutos que Mor tinha partido com um humor não tão amigável como o de costume o que me fez querer gritar do algo da Casa. Que situação infernal era aquela? Se ela gostava do mestre espião, o que eu duvidava, porque não simplesmente dizia? Era obvio que ele possuía sentimentos por ela, mas diversas vezes ela mostrou que não correspondia. Então porque tinha ficado com o humor azedo quando nos pegou quase nos beijando?

Ele iria me beijar, não iria? Eu sei que eu iria beija-lo se tivesse mais alguns instantes. Não pretendia que ficássemos naquela posição quando o puxei pelo braço, é claro, mas aconteceu.

Azriel estava estranhamente agitado desde que sentou na poltrona, mas relacionei com a irritabilidade por conta da minha "falta de disciplina" como ele provavelmente descreveria. Mas então ele levantou de súbito e quis me desculpar caso ele estivesse tão irritado. Então tudo mudou.

Pela Mãe, o simples toque da mão cheia de cicatriz colocando a mecha do meu cabelo atrás da minha orelha fez com que meu corpo todo despertasse. E quando acabei com a distância entre nós e ele se inclinou, fazendo com que os nossos corpos ficassem grudados, quase entrei em combustão.

Iria beija-lo. Só a lembrança fazia com que eu quisesse beija-lo agora mesmo. Olhei para o céu, através da janela, esperando que só meu desejo fizesse com que ele fosse instantaneamente invocado, mas nada ocorrera, nem um estardalhaço de asas ou sequer um ponto preto na imensidão azul.

Porque infernos Morrigan tinha aparecido naquela hora?

Mas também se não aparecesse, como as coisas ficariam depois? Azriel se satisfaria comigo pois não conseguiu ficar com minha prima? Não era burra, no momento em que ele pôs os olhos nela puxou imediatamente o pulso da minha mão. Não esperava que o que ele sentia por ela morresse da noite para o dia, muito menos com um beijo, mas poderia morrer, não poderia?

E por que diabos eu estava me importando com os sentimentos dele por ela?

Seria só um beijo, não? Ok, Azriel era incrível, e tinha me afeiçoado a ele nas últimas semanas, mas era um sentimento de amizade. isso.

A cena se repetiu mil vezes na minha cabeça e sabia que continuaria se não fosse questionar o que diabos havia acontecido.

Xingando, limpei o corpo e coloquei as roupas - a calça na altura do tornozelo e camisa de manga curta igualmente pretas. E agora, caminhava pelo andar superior ensolarado, seguindo o que mandava aquela pressão insuportável dentro de mim não pude deixar de me questionar em que situação sem pé nem cabeça havia me metido. Azriel era melhor amigo do meu irmão. Minha mãe o havia criado como seu maldito filho, e momentos atrás eu estava perto de beija-lo.

Mas, tentando ignorar esses pequenos – não tão pequenos assim – detalhes, me joguei da Casa e com duas batidas estrondosas de asas fui em direção a casa da cidade.

No momento que coloquei os pés no piso de madeira disparei para o andar de cima em busca do quarto dele. Não havia ninguém na sala principal, e agradeci mentalmente por não esbarrar em ninguém no caminho para o meu destino final.

O andar superior era cheio de corredores e fui em direção onde me recordava que ficava o quarto de Cassian e o de Azriel. Havia três portas de madeira de carvalho, fiz uma nota mental para perguntar depois o que havia atrás da terceira. Tentei me concentrar para descobrir onde seu cheiro ficava mais forte.

Corte de sombras e esperançaOnde histórias criam vida. Descubra agora