Capítulo 25

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De pé entre o parapeito e comandante do exército da corte noturna, no alto da Casa do Vento, com uma adaga em cada mão, suor escorrendo por meu corpo, me perguntei se deveria encontrar uma forma de fugir. Talvez me jogar dali e voar até um local seguro. Mas duvidaria que Cassian não dispararia pelos ares atrás de mim, e certamente não ganharia uma disputa de voa com ele. Talvez atravessar... embora não tivesse conseguido fazer isso de novo desde aquela manhã.

Ao contrário de mim, Cassian estava em perfeito estado, nenhum fio de suor, nenhum sinal de cansaço. O olhar era quase felino e o sorriso... o sorriso de um predador prestes a reivindicar sua presa. A pior parte era que estava ciente que aquilo não era nem um por cento do que Cassian era capaz. O guerreiro illyrian nascido bastardo e conquistou seu legado por meio de determinação pura.  O lendário comandante, equiparado ao Enalius. E tudo que eu queria era ser capaz de socar a cara dele até aquele sorriso presunçoso sumir.

— Asas fechadas, mão direita na altura do rosto em posição de ataque e a esquerda na defensiva.

— Estou fazendo isso.

— Não muito bem

Gruni em resposta.

— Ataque. — Foi sua ordem.

Lancei o corpo contra Cassian tentando não sair da posição. O desgraçado nem sequer portava alguma arma nas mãos, mostrando o quanto eu ainda precisava melhorar.

Majestosamente ele se esquivou para a esquerda e enganchou o braço direito no meu esquerdo o forçando para trás, quase deslocando meu ombro e me obrigando a soltar a adaga. Antes que o metal se chegasse no chão ele o alcançou no ar, me soltando e dando um passo para trás.

O sorriso de debocho se espalhou por todo o rosto enquanto eu semicerrava os olhos para ele. Sem tempo para recuperar o ar, Cassian lançou a adaga contra mim e consegui intercepta-la com a que ainda tinha em mãos. Começamos uma  dança conjunta na qual a melodia era o som do metal cintilando.

Ele mirou em meu rosto e rapidamente levantei a arma em minha mão impedindo o golpe. Forçamos o metal um contra o outro, ambos determinados a não ceder.

— Não tão ruim como você esperava, hein?

Cassian gargalhou, e forçou ainda mais a adaga contra a minha quando respondeu:

— Pior.

Então mais rápido do que conseguisse ver, o desgraçado passou o pé por minhas pernas me fazendo cair para trás.

Ele havia me dado uma rasteira.

Em um segundo eu estava em pé. No outro minhas costas e asas se chocaram contra um dos vasos que faziam parte da decoração para a Queda das Estrelas.

No momento em que senti as costas latejando e o líquido quente escorrendo por elas, a risada de Cassian encheu todo o ambiente.

Me sentei no meio dos escombros do antigo vaso branco e encarei Cassian que estava com as mãos na cintura ainda com o sorriso no rosto.

— Vou matá-lo.

— Teria que no mínimo manter seu equilíbrio para conseguir fazer isso, morceguinha.

Ele ofereceu a mão para me ajudar e aceitei. Em pé olhei para a porcelana branca agora com alguns pingos vermelhos.

— Eu não irei limpar isso.— Avisei de antemão

— Então é melhor sairmos logo daqui. — Cassian falou rindo e me puxou para dentro da Casa.

Corremos, rindo, até o corredor que dava ao meu quarto. E pelos deuses, como era bom poder ter Cassian como amigo. Só sua presença me dava esperança que aquela escuridão que tanto me rondava uma hora sumiria.

Corte de sombras e esperançaWhere stories live. Discover now