Capitulo 20

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— Sabe que se quiser comer isso precisa colocar na boca, né? — A voz de Rhys chegou aos meus ouvidos afastando as lembranças do dia anterior e me trazendo de volta ao presente.

Estávamos sentados na sala de estar da Casa e eu deveria estar encarado os pedaços de melão no meu colo há algum tempo para que Rhysand questionasse.

Ergui o olhar para ele e lhe mostrei a língua.
Ele estava sentado na poltrona, sem as asas a amostra e tinha os pés na mesinha de centro.
Rhysand havia aparecido logo após meu treino com Azriel para passar tempo comigo. Mesmo com todas as responsabilidades que sua posição lhe impusesse, desde que havia chegado, ele não havia passado um dia sequer sem passar tempo conversando comigo. As vezes o pegava me olhando como se temesse que eu fosse sumir a qualquer momento, e as vezes conseguia sentir seu temor quando me puxava de surpresa e depositava um longo beijo em minha testa como se tivesse conferindo que estava ali.

Se Azriel tinha comentado algo com ele sobre o ocorrido do dia anterior o mesmo nem sequer mensurou em conversar comigo sobre. Estava agindo normalmente, tanto nas refeições do dia anterior, como nessa manhã, e não havia me decidido se isso me incomodava ou agradava.

Azriel fora outro que não falou nada sobre o incidente no treino desse manhã. Apenas voltou a treinar movimentos com a espada e ignorou totalmente minhas asas como ignorou o meu surto. Ele não havia aparecido no almoço e jantar ontem, e por mais que tivesse tentando ignorar uma parte de mim ansiava para vê-lo depois que ele me mostrou a biblioteca. Quando o encontrei esse manhã estava agitada com a ideia de revê-lo, e fiquei um pouco decepcionada por ele ter ignorado tudo o que aconteceu.

Depois das suas palavras cheguei a acreditar que ele se importava de verdade comigo, mas agora não sabia ao certo. Seria tudo pela mera obrigação por eu ser irmã do seu Grão Senhor? Havia sentimentos nas palavras ou puro dever?
Ele havia sido rígido e rigoroso no treino, não mostrando sequer um lampejo do macho com as palavras sensíveis da manhã anterior.

— Sério, onde você está? — As palavras de Rhysand me tiraram novamente dos devaneios.

— Ao contrário de você, eu penso.

Ele fez um gesto exagerado com as mãos sob o coração.

— Além de não receber a atenção que mereço, você ainda me atinge com palavras. Meu coração está se partindo, Rayla.
Dramático infeliz.
Revirei os olhos e enfiei um pedaço de melão na boca.

— Você sequer ouviu o que eu lhe disse?
Ergui uma sobrancelha e franzi os lábios. Era óbvio que não havia ouvido, porque ele só não repetia e parava com o drama excessivo?

— Você pode repetir?
Decidi falar logo. Me sentia péssima em admitir, mas não estava com humor para aturar dramas hoje.
— Feyre quer conhecer você.
— Ela já me conhece.
— Conhecer você melhor. — Ele cruzou as pernas — Ela não quer forçar uma aproximação com você, quer lhe dar seu tempo para se sentir à vontade ao lado dela, mas sei que não ver a hora de se juntar a você para me atormentar.
Percebi que Rhys queria muito mais que isso ocorresse do que Feyre.
— Ela lhe disse isso?
— Ela não precisou — deu de ombros.
— Rhys...
— Ela é minha parceira, eu a conheço. Sei que essa é a sua vontade.
Suspirei profundamente.
Talvez estivesse na hora de quebrar algumas barreiras.
Mordi o lábio com a ideia que me surgiu cogitando se deveria ou não colocá-la para fora. Rhys esperava por minha resposta despretensiosamente, mas havia ansiedade nos seus olhos.
Por fim decidi ceder.
— Acha que ela me levaria para visitar a cidade?

Uma nova constelação poderia facilmente ter sido descoberta nos olhos de Rhysand quando proferi as palavras. E o sorriso que meu irmão deu fez com que todo o sentimento relutante em meu peito se esvaísse.

Corte de sombras e esperançaWhere stories live. Discover now