Capítulo 12

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Havia sentimentos e situações que ocorriam que jamais poderíamos expressar com meras palavras. E de fato, aquele momento era um deles. Nunca conseguiria explicar o que estava sentindo quando o primeiro raio de luz apareceu no horizonte.

Por anos e anos, a luz do sol fora só uma distante memória. Voar então, tinha se tornado uma constante lembrança do maior presente que um dia possui e fora tirado de mim.

E agora estava ali. Olhando as incontáveis montanhas majestosas que se espalhavam pela Corte Noturna. O alvorecer diante dos meus olhos era a pintura mais linda que já havia visto. Minha garganta deu um nó enquanto avaliava atentamente tudo que meus olhos podiam captar.

Os gigantescos pinheiros não passavam de pontos pretos na palheta de cores que se alastravam no território abaixo.

Um ruído fez com que minha atenção se voltasse para o céu já claro a cima de mim. Pairando sobre nossas cabeças belas e formosas silhuetas entraram no meu campo de visão. Uma revoada de pássaros passava indo de encontro com seu destino. O canto deles era maravilhoso, e quando a melodia invadiu meus ouvidos fora inconsciente fechar os olhos para aproveitar cada segundo do som.

Suspirei e tentei absorver tudo que estava ao meu redor. Meu coração estava acelerado, e tentava me convencer que era só por estar finalmente voando de novo e podendo observar aquela esplêndida paisagem, e que estar nos braços do macho mais lindo que já vira não possuía qualquer ligação.

Pensei no calor que emanava do corpo de Azriel, e involuntariamente me ajustei mais a ele. Com isso, ele firmou mais a mão que estava apoiando meus joelhos. Inclinei um pouco a cabeça para olhar seu rosto, seus olhos estavam concentrados no horizonte, e percebi que, ao redor daquela circunferência amendoada havia um circulo esverdeado, como se fosse uma barreira que impedisse que aquele marrom quase dourado se derramasse pela esclerótica.

Percebi que o encarava a alguns minutos e minhas bochechas esquentaram, tratei rapidamente de dizer:

— Obrigada.

Ele inclinou a cabeça para me olhar e ergueu uma sobrancelha com o ar de dúvida.

— Por voar comigo. Você podia simplesmente ter atravessado, mas...

Deixei que as palavras morressem, porque não sabia como dizer que ele simplesmente quis me oferecer isso. A possibilidade de estar no ar novamente, depois de todo aquele tempo reclusa, e com as asas em processo de cura, era uma das coisas que eu mais desejava. E ele tinha me oferecido.

— Por um tempo me foi impossibilitado também sabe — franzi o cenho — voar.

Ah. Ah.

 Era isso. O menino que foi recluso pela própria família, que até os onze anos não sabia voar, ainda estava dentro do mestre espião. Ele sabia exatamente o que eu havia sentindo por não ter o direito de ganhar os céus.

Para um illyriano, a morte era melhor vista do que perder o direito de voar.

Sorrir para ele com compreensão.

— Sua mãe — uma pausa — fora uma das fêmeas mais incríveis que conheci. Não merecia o destino que teve. Sinto muito.

Assenti em agradecimento das palavras sinceras que ele proferiu.

— Invejo você. Você, Cassian e Rhys na verdade. Puderam conviver com ela mais do que eu.

Ele me deu um sorriso triste.

— Sei que não precisa que confirme isso, mas ela era fantástica. Deu a mim e a Cassian a chance de ter uma infância, uma família. Nunca consegui mostrar o quanto era grato.

Corte de sombras e esperançaWhere stories live. Discover now