Capítulo 31

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Pegando todas as armas que podia prender ao corpo, inclusive a que Rhysand tinha me dado, me apressei em um dos pátios de treino da casa do vento. A luz do luar refletia nos dois punhos de fácil alcance por cima dos meus ombros. Dali para baixo, eu era como um arsenal vivo.

Quando me aproximei da casa da cidade, com o rosto envolvente em um capuz e um manto preto, me concentrei por um momento, audição e olfato, para saber quem poderia me abordar. Não houve qualquer sinal em resposta. Bom.

Os sons habituais da cidade me cumprimentaram conforme caminhava lentamente em direção a casas. Aquele não era um dia para o vento vazio que farfalhava os galhos, ou sons alegres, ou risadas estrondosas.

Eu sabia o que precisava fazer, vi cada passo com uma clareza tão violenta que minha cabeça ainda latejava com tudo o que tinha pensado. Mas não era burra. Sabia que não sobreviveria se chegasse sozinha no território inimigo e decidisse desaparecer com ele da face da terra.

O máximo que conseguiria fazer seria segura-los, os guardas, os batedores e segurar sua magia por determinado período de tempo, quando outra pessoa queimava sua maldita alma.

Nestha.

Eu precisava dela. Desesperadamente. Se decidisse me ajudar, talvez conseguíssemos, nos duas, findar a vida aquele monstro. E no final, quando ele tivesse implorando para que Nestha o deixasse ir para o Alem- Mundo, então o decapitaria, exatamente como seu pai fez com minha mãe.

As botas leves quase não emitiam som no mármore branco polido enquanto me dirigia para onde sabia ser o quarto de Nestha.

Tentei o máximo não me lembrar, não pensar em quem estava por trás das outras portas. Apurei a audição e ignorei os cheiros que pairavam por ali. Uma batida na porta de Nestha e cinco segundos de espera até que a belíssima fêmea aparecesse na porta. Com a expressão indiferente ela arqueou uma sobrancelha.

— Você sabia? — Perguntei baixo.

— Não. — Assenti.

Ela abriu mais a porta e me deu espaço para que adentrasse no quarto. Um leve cheiro floral ainda pairava sobre o quarto. Elaine não deveria ter saído dali a muito tempo. Graças a Mae não esbarrei com ela.

— Estava me perguntando por quanto tempo ficaria trancafiada. Pelas suas roupas, vejo que decidiu o que fará em seguida. — Direta e sucinta. A cada dia gostava mais de Nestha.

Ergui um fino escudo para manter as palavras somente naquele quarto, calmamente, para que minha magia não ressoasse como um alerta para os demais possuidores.

— Preciso de ajuda. — Disse encarando aqueles olhos frios. Nestha cruzou os braços no peito e esperou. Bufei e continuei — não posso fazer isso sozinha, não ainda. Meus poderes voltaram e estão controlados, mas minha resistência com a magia diminuiu muito, um combate corpo a corpo enquanto manuseio a magia é suicídio. Principalmente contra uma corte, um Grão Senhor.

A feição de Nestha não se alterou, ela caminhou em passos firmes até a enorme cama, coberta por um fino lençol lilás, e se sentou.

— Está me pedindo para ir até a corte do bastardo que entregou a mim e a minha irmã e ajudar você a mata-lo?

— Sim.

— Não.

Mas que infernos?

— Você mesma acabou de dizer, o bastardo as entregou, e você não o quer morto?

— Ah quero, e espero que ele sofra mais que o rei no seu fim.

— E então? — Por mil diabos, aquela mulher não fazia sentido nenhum.

Corte de sombras e esperançaWhere stories live. Discover now