Capítulo 16

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Suor gelado cobria todo meu corpo. Já estava há horas praticando os movimentos das asas. Abrir e fechar. Levantar e abaixar. Ainda sentia uma dor imensa na musculatura das costas, mas já conseguia fazer os movimentos por mais tempo do que da última vez. E naquele momento o latejo agonizante nas costas era o que mantinha minha mente longe das lembranças do dia anterior.

A conclusão que eu havia chegado durante aquela conversa fez com que todo meu humor, que estava ótimo até chegarmos ali, se esvaísse. Quanto mais eles interagiam mais descolada me sentia.

Como tínhamos tempo antes do almoço, Rhysand tinha me convidado para uma caminhada na cidade e prontamente aceitei o que logo percebi que tinha sido um erro. Saímos da casa em direção ao arco íris, mas antes que pudesse alcançá-lo um casal de feéricos parou  para cumprimentar o Grão Senhor ao meu lado e no momento que viraram para mim o choque nos rostos explicou o rápido aceno de cabeça que me deram e a presa com que se afastaram.

Rhys me olhou com cautela, como se falasse que eu deveria entender a reação. E eu de fato entendia. Para todos eu estava morta, e a história do meu retorno ainda não havia sido contada. Mas os olhares que começaram a ser lançados em minha direção foram o suficiente para que desistisse da ida até o arco íris e pedisse para voltar para a casa. Por fim, quando retornamos para a casa, a risada estrondosa de Mor acompanhada pela tímida de Elain vindo de algum cômodo que ainda não tinha conhecido, fora o suficiente para que perdesse o controle.

Minha visão ficou turva e eu não conseguia respirar calmante ou sequer pensar acima dos rugidos na minha mente. O tempo ficou mais lento, e uma fumaça escura me envolveu. Em um momento estava estática com Rhysand ao meu lado, e no outro me chocava contra a parede da sala, derrubando alguns quadros da mesma. Segundos depois Rhys estava segurando meu braço me encarando assustado.

Eu havia atravessado depois de tanto tempo, e me chocado contra uma parede. E depois dessa cena patética o zunido nos meus ouvidos só aumentaram. Disse para Rhys que não estava me sentindo bem e pedi para voltar para a Casa dos Ventos. Meu almoço e jantar foram servidos no quarto e ninguém me incomodou pelo resto do dia.

Pela manhã, Nuala, um das gêmeas, que agora havia se apresentado, fora levar meu café e disse que Rhysand possuía uma importante reunião naquela manhã e por isso não tinha sido ele a levar meu café, mas que pretendia me visitar assim que voltasse. Perguntou se eu precisava de algo e, após dispensa-la, se dissolveu em fumaça preta.

Agora estava ali, no telhado da casa do vento, com o ringue de lute a minha direita, usando a dor e cansaço como distração para minha confusão interna. A medida que meus poderes voltavam mais descontrolados ficavam e menos confiança em mim mesma eu tinha.

No momento em que ouvi o estardalhaço de asas parei o treino e fui em direção a umas das espreguiçadeiras pegando o pano que havia deixado ali. Senti o cheiro de Rhys mas o pouso foi tao suave que mal o ouvi.

— Acordou disposta esta manhã.

— Se pretendo voar novamente, preciso treinar. — Respondi me sentando e o encarando.

— Como você está?

— Mais cedo consegui fazer um pedaço de melão flutuar da bandeja em minha direção até que ele se espatifou no chão dez centímetros antes de chegar em mim. E pude jurar que ouvi mamãe falar do além "não brinque com a comida. " — Soltei uma risada nasalar. — A cada dia um pouco volta, estou tentando melhorar.

— Não perguntei sobre seus poderes, perguntei sobre você. — Falou se sentando na espreguiçadeira ao meu lado.

Ficamos joelhos contra joelhos e a preocupação nos olhos violetas faltavam gritar.

Corte de sombras e esperançaWhere stories live. Discover now