Wreck Of A Boy • jikook

30 | scars in my mind and soul

Eu nunca mereci receber carinho.

Ou, pelo menos, sempre foi assim que me senti.

Passei anos da minha infância e adolescência me auto condenando por sentir certas coisas e saber que eu era diferente dos meus primos. Eu me reprimia para tentar ser igual e agradar a todos, para passar despercebido, sem que implicassem comigo.

No meio desse caminho tentando me fazer de figurante na minha própria vida, eu conheci o Jungkook. Ele foi, desde o começo, a melhor pessoa que o universo já colocou no meu caminho e apesar de tudo de ruim que passei, sempre soube que ele estaria do meu lado.

Jungkook me reconheceu minhas diferenças, me mostrou que ele era igual a mim e abriu os braços para me acolher no calor do seu abraço. Ele foi e é meu maior porto seguro.

***

Quando eu cheguei em casa depois de passar a tarde na casa de Jungkook, eu consegui perceber que algo estava errado. O clima estava carregado e meu pai estava sentado na poltrona da sala com a cara fechada. Ele parecia mais irritado do que o normal, o que era muito.

Assim que fechei a porta, ele levantou seu olhar para mim e eu franzi o cenho tentando entender. Minha mãe veio da cozinha com uma cara de preocupada, o que me deixou ainda mais confuso.

- Onde você estava? – Ele perguntou seco.

- Na casa do Jungkook, eu avisei que ia passar a tarde lá. – Disse normalmente, ainda sem entender o questionamento.

- Você quer comer alguma coisa? Posso preparar um lanche. – Minha mãe perguntou, tentando me puxar para a cozinha, como se quisesse me tirar dali.

- Ele não vai a lugar algum, Hye-ja. – Meu pai esbravejou e só então eu percebi que algo estava realmente errado.

- O que está acontecendo?

- Deixa o menino comer, Shin-joo, esquece isso.

Meu pai se levantou da cadeira e parou a minha frente. Seu olhar parecia ainda mais transtornado e ele estava mais bravo do que antes. Tentei pensar em algo que pudesse tê-lo deixado assim, mas não conseguia pensar em nada.

- Eu só tenho uma pergunta pra te fazer, Yoongi, você não se importa de responder, não é? – Amansou a voz, o que me deu um arrepio.

Eu sabia que iria me arrepender, mas não poderia fugir, então balancei a cabeça para os olhos, negando.

- Eu estava na casa do Ryong hoje e ele me disse que o filho dele lhe contou uma coisa engraçada, que eu tenho certeza que não pode ser verdade.

Tentei pensar no que Lee Seung-gi, filho de Ryong, poderia ter dito. Nós estudávamos juntos há um bom tempo, mas nunca trocamos mais do que meia dúzia de palavras. Não conseguia imaginar o que ele poderia saber de mim.

- O que ele contou?

Meu pai respirou fundo e fez uma cara de nojo, como se o que ele ia dizer fosse uma coisa asquerosa.

- Ryong me chamou lá preocupado, dizendo que o filho foi em uma festa na semana passada e te viu lá. – Abri a boca para questionar o que tinha demais naquilo, mas a bomba veio em seguida. – Acompanhado de um homem. De mãos dadas e aos beijos com ele.

Gelei.

Pela primeira vez desde que cheguei em casa, entendi a gravidade do que estava acontecendo ali e o motivo da cara fechada do meu pai.

Praguejei mentalmente contra a boca grande de Seong-gi e do seu pai. Ambos não tinham nada a ver com a minha vida, mas tinham ido fazer fofoca sobre ela.