Wreck Of A Boy • jikook

5 | distant and disconnected from each other

Escrevi a última linha da redação que a professora de Literatura havia pedido e a porta da sala foi escancarada por Yoongi, que entrou sorridente e carregando várias sacolas nas mãos. Ele depositou tudo na mesa e me olhou, oferecendo algumas balas de pacote aberto.

- Nossa, você achou que eu tava passando fome? – Perguntei, fuçando pelas sacolas e abrindo a bala. – Aqui em casa tem comida, hyung.

- Jungkook, eu comprei comida de verdade, salgadinhos não podem ser considerados refeições. – Ele me encarou e eu ri. – Tô falando sério, garoto. O que seria de você sem mim?

- Eu passei uma semana sem você aqui e tô vivo. – Provoquei, e ele tacou uma cenoura em minha direção. 

- Uma semana não mata ninguém. – Riu e começou a retirar as comidas da sacola. – Vem, me ajuda a guardar as coisas.

Guardei meu material no quarto e voltei para a cozinha, começando a ajudá-lo. Enquanto fazíamos isso, eu conseguia notar o olhar dele em cima de mim. Min Yoongi nunca conseguia me enganar e eu sabia que ele estava incomodado com algo e não encontrava um modo de falar sobre aquilo.

Continuei guardando os legumes, verduras e as frutas na geladeira, até ouvir um pigarro e me virar. Yoongi me estendeu uma sacola com repolhos e eu guardei, enquanto ele me encarava.

- Gguk. – Chamou, com a voz um pouco incerta.

- Oi? – Falei, fechando a geladeira e seguindo para o armário.

Ele me estendia as coisas e eu guardava.

- Faz alguns dias que eu tô querendo tocar nesse assunto, mas não sei como. – Suspirou. 

- Você sabe que pode falar de tudo comigo, hyung. – Sorri e ele assentiu.

- Eu sei que posso, só que é... complicado. – Respirou fundo. – Eu não sei se você não quis contar pra não me preocupar, por ter ficado um tempinho longe de mim, ou sei lá, só não quis mesmo... Mas suas crises voltaram?

Respirei fundo e o encarei. Eu queria contar e sabia, de olhos fechados, que podia confiar em nele, mas a vontade de não o preocupar era maior. Bem maior.

Min Yoongi era uma caixinha de surpresas. Quem o conhecia de primeira poderia achar que ele era um cara frio e que não demonstrava muito seus sentimentos, mas essas eram apenas suposições de quem não o conhecia de verdade. Quem o conhece sabe que Min é uma das pessoas mais doces e carinhosas que já passaram por esse mundo, que se importa com os outros e demonstra, as vezes até demais, os seus sentimentos.

Ele achava que não, mas mesmo durante minhas crises após a morte de Kihyun, mesmo quando eu estava completamente quebrado e parecia estar meio anestesiado do mundo, eu o via sofrendo.

Eu não era idiota. Ouvia muito bem as fungadas e soluços dele durante a noite, sabia que ele estava daquele jeito porque queria me ajudar, mas não conseguia. Não era culpa dele, ninguém conseguiria me ajudar naquele estado. Mas Yoongi se culpava e se martirizava por algo que estava além do seu controle. E esse é o grande motivo de eu abrir um sorriso falso e negar com a cabeça.

- Não, tá tudo bem. – Dei de ombros. – Deve ter sido o álcool, fazia tempo que eu não bebia.

- Não mente pra mim, Gguk. – Pediu e eu senti minha garganta se fechar. 

- Não tô mentindo, hyung. – Sorri.

Me virei para guardar mais algumas coisas no armário e senti ele se aproximar, me puxando para um abraço.

- Promete que vai me contar se elas voltarem? – Pediu.

Elas nunca foram embora, mas ele não precisa saber.