Grandes olhos negros

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- Oe, Satoru-kun! Venha aqui.

Gojo se viu em um corpo muito menor, como uma criança nova demais para entender as sutilezas de uma reunião de adultos. A sua frente estavam senhores de algumas das mais poderosas famílias do mundo jujutsu, seus nomes não lhe vinham a mente, mas ele reconhecia como aquelas pessoas exalavam a superioridade de suas colocações, como se tivessem algo a provar para um menino de cinco anos.

Sua versão infantil caminhou até eles, desconfiado, examinando os rostos desconhecidos, introvertido demais para realmente querer estar ali. Ele claramente não estava nenhum pouco contente, era uma bagunça em formato de pirralho, com a expressão mais raivosa que suas grandes bochechas e lábios torcidas conseguiam demonstrar. Apenas pela sua forma de andar já era possível perceber o quão inquieto o garoto estava, não sem uma razão, obviamente.

Naquele dia se completava o primeiro ano desde que seus pais pararam de voltar para casa, o primeiro ano desde que estranhos invadiram sua vida tomando o lugar de sua família como se eles nunca mais fossem voltar. Um absurdo, claro! Na sua cabeça branca cheia de resmungos nada fazia sentido.

O que não diminuía sua curiosidade, não totalmente, nunca totalmente, embora garantisse que seu foco seria transformado em uma coisinha instável.

- Gostaria de lhe apresentar uma pessoa muito especial. - Disse o homem curvado, magrelo e velho demais para estar vivo. O homem com a aura mais massiva e opressora.

O idoso acenou para um casal de rostos diferentes. Não diferentes como os outros, aqueles que carregavam semelhanças de um povo único, mas divergente em pele, cabelo, traços e olhos. Estrangeiros. Gojo nunca havia visto estrangeiros tão aleatórios antes, eles eram simplesmente encantadores.

Os adultos obviamente notaram o seu interesse, afinal sorriam com maior satisfação. Porém o pequeno estava mais ocupado tentando desvendar os segredos por trás daqueles olhos grandes, olhos brilhantes como os seus. Ele tinha o impulso de tocar nos cabelos encaracolados e escuros do homem ou questionar sobre as pinturas coloridas do corpo da mulher. Satoru nunca foi exatamente uma pessoa educada e aqueles adultos não pareciam ofendidos com isso, embora pudesse praticamente ver a repreensão vindo daqueles que tomaram a responsabilidade de vigia-lo.

- Esta é Kioku Uyara.

Eles não pareciam estar se referindo a mulher poderosa e instigante, muito menos ao homem. Foi apenas quando abaixou seus olhos para a sua linha de visão natural que notou a presença de outra criança, uma menina de cabelos castanhos tão enrolados quanto os do adulto que a deixava se esconder atrás de suas pernas, pele clara (embora não tanto quanto a sua) e olhos tão profundamente negros que pareciam querer engolir a sua alma.

Satoru a detestou. Ele não gostava de coisinhas frágeis e incompetentes como as outras crianças da sua idade costumavam ser, se aquela garota não conseguia nem mesmo lhe encarar de volta ela não era digna de brincar com seus Digimon de pelúcia, nem mesmo se os mais velhos o obrigassem!

...

Os adultos claramente têm problemas em ler a mente das gerações mais novas e têm problemas maiores ainda em seguir as orientações muito específicas que foram berradas a plenos pulmões sobre como ele não queria a coisa quieta dentro de sua propriedade.

O resultado foi que Gojo acabou trancado em seu próprio quarto com a criaturinha ignorante que não parecia apta a impor sua vontade e o seguia de um lado para o outro como um animal ansioso.

A pior parte era que ela parecia fazer um esforço imenso para entender a mensagem que lhe estava sendo passada e gesticular sua animosidade não surgia muito efeito.

Se ele soubesse que esse seria o resultado de agir como um bom anfitrião teria no mínimo fugido para os jardins. Não que alguém pudesse realmente impedi-lo.

Jujutsu Kaisen - Orbitando um buraco negroOnde as histórias ganham vida. Descobre agora