Engrenagem

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Gojo Satoru era um deus...

E aquela era a primeira vez que as expectativas por trás disso realmente o confrontavam.

Por que Deus deixa que o mal continue a existir? Por que Deus não impede desastres naturais? Por que Deus não evita massacres globais? Por que Deus deixa tantas pessoas com uma vida tão promissora morrerem? Por que Deus não salva seus filhos, seus protegidos?

Por que Kenny?

Não havia um deus lá para salva-lo?

Por que? Por que? Por que ele morreu?

Nem Satoru conseguia responder essa pergunta quando seu próprio cérebro o confrontava com ela.

Ele curou as feridas o suficiente para que o rapaz se salvasse, até mesmo o deixou consciente. Tinha a certeza de que conseguiu socorre-lo a tempo. Pelos céus, Kenny não era fraco, ele tinha habilidades boas que compensavam sua falta de poder bruto, ele sabia o que estava fazendo, ele... Falhou.

Não o brasileiro, não conseguia imaginar como isso poderia ser culpa dele, mas o portador dos seis olhos simplesmente falhou. Outra vez.

O metamorfo não era como Amanai, alguém que conhecia a pouquíssimo tempo e que ninguém, exceto aqueles que estavam junto dela nos momentos próximos à morte, se importavam com sua existência. O garoto era quase como Nanami e Haibara. O conhecia desde antes desses dois aparecerem em sua vida e de certa forma carregava um sentimento parecido por ele.

Nunca foram próximos, mas aquele vinculo com Uyara trazia um sabor amargo para sua boca.

De certa forma, essa era a diferença que tornava tudo pior. Kenny morreu rodeado por pessoas que ele amava, por uma família, amigos e admiradores, ele levou um pedaço do coração de cada um desses laços e a dor deles fazia com que se sentisse culpado. Por que era sua culpa, certo?

Se tivesse prestado mais atenção, se tivesse dedicado um pouco mais de tempo, se tivesse se esforçado um pouco mais, se tivesse se teleportado com a colega medica e não com Kioku...

Eles disseram que o trabalho de cura foi mal feito. Que a energia positiva aplicada se converteu em uma somatória corrupta e cancerígena que passou a atacar as células, revertendo o efeito da regeneração e agravando imensamente o dano original.

Em sua defesa, Gojo nem sabia que isso era possível, mas Shoko encontrou lógica na explicação, então aparentemente não estava em posição de contrariar.

O metamorfo foi transferido para o próprio país quando começou a demonstrar uma piora drástica, no dia seguinte ao ataque da maldição, e só morreu mesmo semanas depois.

Nenhum daqueles que mais se importavam com o intercambista tentou amaldiçoa-lo, eles apenas ficaram lá, do outro lado do mundo, lamentando a perda e lhe entregando tanta decepção que não estava sabendo lidar muito bem com isso.

Os companheiros dele, os que estavam conversando sobre a viagem com Yaga-sensei quando sua ânsia por roubar a amiga de lá interrompeu a reunião, permaneceram no Japão. Lidando com o luto por aqui.

Os que estudavam Kyoto se tornaram distantes, facilmente distraídos e estampavam uma tristeza quase palpável. Layla-sensei perdeu a postura arrogante e orgulhosa que ela sempre ostentou, estava cabisbaixa, fria, o culpava com certeza absoluta, mas também parecia se culpar e isso a impedia de amaldiçoa-lo com mais do que olhares assassinos em seu rosto oriental.

Já Kioku...

A amiga aparentemente não compartilhava desse sentimentalismo forte que seu povo parecia possuir como algo comum. Ela era mais tranquila com a ideia da morte, a aceitava melhor, a compreendia de uma maneira que a permitiria não desabar se todos os seus laços fossem destruídos. Isso apenas em teoria, é claro, mas parecia ser eficiente para garantir que ela seguiria em frente mais facilmente.

Jujutsu Kaisen - Orbitando um buraco negroWhere stories live. Discover now