Bolha

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Gojo nunca havia entendido totalmente o propósito de deixar que outros tivessem poder literal sobre o seu corpo. A resistência sobre isso era o que transformava amaldiçoar alguém em uma tarefa de sofrimento garantido. O que torna o impedimento do livre arbítrio algo tão imoral. Por que permitiria essa ação prejudicial acontecer espontaneamente?

Uyara era diferente dele e de Geto quanto ao orgulho em relação a própria força. Não que ela não o possuísse, mas era a dona de um poder muito mais difícil de se controlar e que poderia fazer pessoas implorarem pela misericórdia da morte com pouco mais de um pensamento. Isso, de acordo com ela e não com o julgamento de Gojo, não era um dom que deveria ser deixado sobre a responsabilidade de um único indivíduo.

A brasileira não era muito fã da lei do mais forte, apesar de ser completamente beneficiada por ela. Sua amiga tendia a não fazer muito sentido nesse aspecto.

Isso lhe fazia pensar sobre o que a levou a chegar nessa conclusão. Kioku tinha uma família antes de se tornar parte do mundo jujutsu, não é? Pais idiotas que aproximaram ela da morte para exorcizar suas habilidades anormais, vovó legal que salvou sua vida...

Uyara não mantinha relações próximas com pessoas que considerava fracas, porém nunca foi pelo mesmo desprezo que o amigo possuia por elas. Algo que o fazia refletir sobre quantas mentes humanas ela destruiu antes de aceitar com gratidão uma coleira que estabelecesse limites.

Sua amiga era tão boazinha. Com um comportamento distorcido pela má influência que ele era na vida dela, mas dona de um coração bom.

Empatia com certeza justificaria sua submissão, o que não tornava a escolha menos ridícula no seu ponto de vista.

Mas, mesmo com todas as opiniões negativas fornecidas pelo seu conhecimento limitado, a ideia de que ela nunca tentou se livrar de seu acordo de restrição não era algo que passava por seus pensamentos com frequência. Afinal, a garota nunca teve motivos para ativa-lo em sua presença.

Essa linha de raciocínio reapareceu apenas agora, quando viu pela primeira vez o corpo dela sendo paralisado pelos termos do pacto.

Uyara não descobriu sobre a certeza de Utahime em relação à Kenny imediatamente. Satoru não contou. Ele preferia informa-la quando houvessem provas concretas sobre o que aconteceu, mas os dias foram se passando e nada mudou, portanto tinha em mente que deveria abordar o assunto.

Algo que não fez.

Gojo poderia perder seu tempo inventando desculpas para isso, mas a verdade é que não queria que ela soubesse. Ele desejava esquecer que aquele problema existia, detestava ser o portador de notícias ruins e com todas as suas forças não queria arruiná-la.

Sabia exatamente qual o tipo de perturbação isso traria para a amiga e valorizava demais a dinâmica que havia estabelecido para quebra-la.

Todos já viram feiticeiros demais perdendo o brilho da vida em seus olhos, apenas para virarem uma casca da existência que representavam antes. Jamais deixaria isso acontecer com aqueles dois.

E o que seria da relação que haviam estabelecido sem ela com sua habilidade de saber exatamente o que precisavam? Não era porque não estava entorpecendo seus sentidos que não poderia agir de forma humana para amenizar a carga de cada um, já que isso reduzia sua própria dor.

Satoru sabia que Kioku nunca parou de cuidar deles desde que os encontrou cobertos de sangue no quarto do Geto. Que por mais que se sentisse melhor, havia se tornado uma pessoa diferente naquele dia e ela era a única coisa que o encaixava de volta a normalidade.

Sabia que Suguru pensava da mesma forma e protegia o sorriso dela com a mesma dedicação. Afinal, não estava tão alheio ao ponto de não perceber como o brilho dele estava acabando. Eram ótimos amigos e amantes maravilhosos, mas nunca aprenderam a lidar com emoções como a garota faz e jamais desejariam que ela se sentisse tão perdida como eles faziam.

Jujutsu Kaisen - Orbitando um buraco negroWhere stories live. Discover now