Renúncia

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Havia algo muito... morto, naquele lugar.

Não era sobre sua caracterização inóspita e perigosa, não, nada disso era o suficiente para desenvolver tamanha sensação de repúdio a vida.

Parecia que a própria natureza se recusava a crescer naquele solo amaldiçoado.

Não falavam sobre todo o conjunto de ilhas em si, a maior parte dele era apenas o planeta em sua existência intocada e agressiva. Nada de errado. Talvez a diferença nem teria sido percebida, se toda a tormenta da região não convergisse para um único ponto.

Era lá que estavam agora, aquele pedaço de terra abandonado por qualquer divindade existente. Por isso, conseguiam sentir em suas próprias peles o ódio que ressoava por todo o arquipélago.

Esse é um lugar de azar, um recanto agourento do mundo, lar de um rancor tão grande que ninguém se sente bem vindo. Um espaço de existência que merece ser esquecido, na impossibilidade de sua destruição.

Ou pelo menos era isso que ouviram dizer, antes de chegarem nesse monte de rochas incômodas.

Satoru sentia o lugar rejeitando-o, querendo expulsa-lo, como se soubesse que ele era um inimigo e o odiasse por isso, mas tais coisas se chocavam contra sua barreira impenetrável e eram devidamente ignoradas. Sua parceira estava muito próxima, mantendo contato físico para dividir de sua proteção, uma vez que o ar parecia tóxico, mas não achava que ela estava recebendo qualquer inconveniente por parte do ambiente.

- Por que algo assim não te assusta se situações muito mais calmas de perigo natural te levam ao pânico? - Gojo perguntou, querendo calar o zumbido constante de seus sentidos que o alertavam sobre ameaças inexistentes.

- Instinto de sobrevivência com defeito. - Ela lhe sorriu, olhando-o com diversão. - Além disso, esse lugar é estranhamente confortável.

- Confortável? - Seu corpo parou abruptamente, exasperado. - Minha cama é confortável. Isso aqui é péssimo.

- Não sei explicar. - Os ombros dela se moveram para cima, como se estivesse se encolhendo. - Parece familiar. Me lembra de mim mesma.

O deus mortal não encontrou palavras para isso, então só prestou atenção aos arredores e tentou compreende-lo melhor. Parecia que estavam no domínio inato de uma maldição horrenda e terrivelmente poderosa, como se estivessem vagando nas terras da morte e procurassem entrar na boca do predador.

Depois, ele olhou para a amiga de infância e a contemplou. A energia amaldiçoada dela era tão distorcida e caótica quanto os resquícios que os cercavam, embora mantivesse um percentual de humanidade.

Algumas coisas faziam mais sentido agora. Era esse tipo de ódio que o povo dela drenava do próprio país ao nascerem, esse tipo de horror que dava-lhes força.

A herança do sofrimento de gerações passadas aqui transbordava para além da contenção possível, como radiação massiva e incontrolável.

O que morreu aqui... Ou melhor, quem nasceu aqui, era tão poderoso quanto os dois. Mais do Uyara, sem dúvidas, talvez próximo demais do deus que Satoru representa.

- Isso, esse lugar. Aconteceu uma Renúncia aqui, não foi? - Cada sílaba veio com uma admiração e empolgação indisfarçável.

- Levando em conta quem é a lenda que estamos investigando, essa seria uma boa explicação. - Kioku pareceu ligeiramente surpresa por não ter pensado nisso antes e então começou a demonstrar uma animação tão grande que quase a fazia brilhar.

Eles era realmente bizarros por ter uma reação assim.

Renúncia era um assunto de guerra. Um ritual escandaloso de suicídio. Não era muito comum e poucas pessoas se lembravam das palavras, porém isso não a tornava um evento menos interessante.

Jujutsu Kaisen - Orbitando um buraco negroOnde as histórias ganham vida. Descobre agora