Caos

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Gojo começou a entender de melhor forma o seu lugar em sociedade (ou a falta dele) depois de completar dez anos, período na qual sua energia começou a se manifestar mais intensamente, mais involuntariamente. Algo que mudou completamente a forma com que interagia com o mundo e o percebia.

Anteriormente ele costumava se considerar uma criança muito madura, alguém que já raciocinava como os adultos e que entendia perfeitamente a forma com que eles pensavam. A verdade só o atingiu quando entendeu como o medo funcionava, como sua existência contrariava todas as crenças humanas.

Ele percebeu o que era a adoração, o que era o ódio. Ele começou a compreender com exatidão como funcionavam as maldições e porque as pessoas costumavam vê-lo como uma. Foi nessa época que matou uma pessoa pela primeira vez, não um monstro, não um feiticeiro maligno, mas um homem que temia demais a ideia daquilo que ele representava.

Veja bem, não foi exatamente proposital.

Era uma noite de nevasca, ele já estava em sua cama e repassava em sua mente o treinamento de alto controle que lhe foi ensinado. Afinal, nada de bom vinha por deixar sua mente vagar pelo infinito de sensações que conseguia captar.

O silêncio foi a primeira coisa que lhe trouxe estranheza. Seus sentidos eram apurados demais e, no entanto, conseguia concilia-los muito bem. Não notar a presença daqueles que serviam em sua residência deixou-lhe desconfiado, mas não o suficiente para fazer algo a respeito. Já havia se acostumado a fingir que não notava o interesse por trás de todos aqueles cuidados, a tal ponto que deixou de se importar.

A vida de Satoru passou a se dividir em duas etapas após aceitar a introdução da criatura quieta em sua rotina: um período de alegria, confusão, aventuras e treino gratificante (que se consistia em qualquer feriado escolar com mais de dois dias na qual Uyara podia vir para onde quer que ele estivesse) e todo o resto do ano, na qual colapsava em sua existência solitária.

Kioku naquele momento estava dormindo embolada em seu corpo, com a falta de respeito por espaço pessoal que ela lhe ensinou perfeitamente sobre como ter. A garota estava exausta, ajustando-se ao fuso horário com a diferença de doze horas como acontecia sempre depois de chegar ao Japão. Foi na respiração dela que ele optou por se concentrar, em seu batimento cardíaco e na forma com que ela se agarrava a ele como se fosse um travesseiro muito confortável, sua circulação protestava, mas quando a diabinha estava assim ela lhe trazia muita paz.

Isso não o impediu de perceber o humano de energia desconhecia que entrava em seu território, passava pela porta de entrada destrancada e caminhava rumo ao quarto em que ele estava.

Ele poderia ter se levantado para mandar o desocupado para a casa do caralho, mas se havia uma lei da natureza que não gostava de quebrar era acordar aquela que abraçava no momento. Seu coração não suportava ser o causador de tenta decepção na vida de Uyara, que o despertador dela ficasse com essa função.

Portanto ele deixou que o homem viesse, deixou que ele o desafiasse. Quebrar as expectativas alheias causava um gosto adorável em seu âmago, não seria diferente dessa vez.

O único problema é que foi.

Satoru já deveria saber que eventualmente as pessoas se cansariam de confronta-lo, de oferecer a chance para que ele saísse por cima independentemente da situação e que, por isso, optariam por uma abordagem mais direta.

Sua porta foi aberta devagar, como se o outro esperasse que ele estivesse dormindo para ter alguma chance. A visão de seus olhos azuis brilhantes fizeram com que o homem se mijasse nas calças, literalmente.

O garoto estava prestes a reclamar do mal cheiro, porém o movimento de seus lábios pareceu ter despertado um frenesi que o obrigou a agir. Uma arma foi sacada e apontada para si, uma arma mundana mergulhada em energia amaldiçoada.

Jujutsu Kaisen - Orbitando um buraco negroWhere stories live. Discover now