Frustração

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No fim daquele domingo, pensei em todas as coisas que aconteceram nas últimas setenta e oito horas, incapaz de acreditar que só se passou esse curto período de tempo desde a ligação do Kakashi. Como uma impiedosa força da natureza, essas coisas varreram tudo que eu fui, sou e possivelmente até quem eu poderia ser, e até agora estou preso neste vórtex irreversível.

Me joguei na cama sem nenhuma cerimônia, meu queixo apoiado no travesseiro e os braços, usando o que me restava de energia mental para terminar de ler o artigo que eu pesquisei no celular. Passei o dia ao lado do Gaara e do Shikamaru, tentando em vão desfazer o selo na minha memória que me impedia de lembrar quem era aquele homem. Cheguei ao ponto de pensar se realmente conheço essa pessoa ou não, segundo o que eu estou lendo sobre memórias e lembranças em artigos médicos e psicológicos, nossa memória não é algo confiável.

Por exemplo, eu mal consigo me lembrar do que almocei ontem - ou se sequer cheguei a almoçar - mas consigo recriar perfeitamente o sabor do sorvete que meu pai comprou para mim quando eu tinha oito anos e caí de bicicleta. Não lembro da dor que meu tornozelo fraturado me causou, mas me lembro perfeitamente do sabor do chocolate e menta do sorvete.

-Queria muito saber o motivo desse lindo sorriso.

Sentado do meu lado, Itachi correu seus dedos pelo contorno do meu rosto, desde o queixo até minha orelha. Seus dedos mal tocavam na minha pele, a sensação similar a cócegas me obrigou a fechar um pouco meu olho direito. Deixei o celular de lado e me sentei sob seus joelhos, no seu colo. Ele não parou o carinho no meu rosto e eu abracei sem força seu pescoço, brincando com seu cabelo solto.

-Eu me lembrei do dia que meu pai comprou sorvete para mim, depois que eu caí de bicicleta e fraturei o meu tornozelo. Precisei ficar com ele imobilizado, então assim que saímos do hospital, meu pai me carregou no ombro até a primeira sorveteria que ele viu.

-Qual tornozelo?

Puxei uma longa respiração antes de responder incerto - O esquerdo.

A mão que estava na minha cintura começou a massagear meu tornozelo esquerdo, gentil e firme.

-Não dói mais, Itachi.

-Eu não me importo, meu senhor.

Os olhos escuros reluzentes jamais deixaram os meus, parecia que estavam me pedindo algo pelo jeito que o escarlate da sua alma se agitava no fundo daquele ônix tão bonito. Eu senti algo travar na minha garganta e dor no meu peito quando me lembrei da primeira vez que vi seus olhos assim, quando ele estava deitado na cama do seu quarto com as costas cheias de queimaduras, por minha causa.

Sem rodeios, eu entrei minha mão no moletom para sentir sua pele lisa e perfeita das costas fortes dele. Aquelas queimaduras não deixaram nenhum sinal, assim como o meu tornozelo, só que isso não queria dizer que a dor nunca existiu.

Pensar nisso me deixou ansioso, culpado, e por mais que o silêncio estivesse confortável, senti que precisava falar antes de ser tarde demais.

-Me desculpe, Itachi. Eu nunca deveria ter duvidado de você, nem por um segundo.

-Tudo bem.

-Não! Não está bem…

Itachi me calou com um selinho, sem desmanchar o sorriso discreto - Você está cansado, você foi ferido e descobriu muitas coisas de uma vez. É normal ficar confuso, eu não me ofendi, meu senhor. Estamos bem.

-Como você sabe exatamente o que eu estou pensando?

-Eu te observei desde que entrou na Torre Alva, eu sei tudo o que preciso sobre você.

RavenmasterWhere stories live. Discover now