Ravenmaster

Hell

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Dos anos que trabalho aqui, hoje foi a primeira vez que eu subi no alto da antiga torre de vigia que ficava paralela ao Rio Tenebris e aproveitei para contemplar a bela imagem na minha frente. Diferente das minhas visões, as águas estavam paradas como a superfície de um espelho refletindo o céu cinza e tempestuoso. A ponte de calcário sobre ele estava quase deserta, poucos carros saindo da cidade e um barco causava ondulações nas águas escuras.

O grande relógio com algarismos romanos e um ícone da nossa cidade já falou, indicando que faltavam quinze minutos para o meio dia. No mesmo instante alguém entrou na cobertura num caminhar preguiçoso.

-Sabia que ia te encontrar aqui.

Olhei por cima do ombro para Shikamaru parado a alguns metros, vestido unicamente de preto e com as mãos seguras dentro do bolso.

-É, acho que eu sou bem previsível.

-Um pouco.

Shikamaru caminhou até ficar do meu lado, apoiado no parapeito com os cotovelos assim como eu, observando silenciosamente.

-É bonito, não é? - Apontei para a cidade abaixo de nós.

-Para mim, parece uma confusão.

-Hm.

-Você veio aqui atrás do seu namorado?

-Eu sabia que ele não estaria aqui.

-Por que você veio então? - Ele me perguntou um pouco cauteloso.

-Eu tinha que tentar.

Shikamaru parecia não estar mais interessado em conversar, assumi esse papel para mim pois se eu parasse de falar, minhas emoções sairiam do controle e isso não seria bom.

-Você sabia que Hela é a deusa da morte de Asgard?

-Já li algo sobre isso.

-Hella punia os criminosos sem nenhuma piedade, mergulhando suas almas em rios congelantes cheios com o veneno do seu irmão, Jormungand.

Ele permaneceu olhando para baixo, sua mão apertou um pouco o parapeito ao ponto dos nós em seus dedos ficarem brancos. Shikamaru permaneceu em silêncio e eu continuei falando.

-Olhando aqui, com a neblina subindo do Rio Tenebris, me pergunto se era assim a aparência do rio em Niflheim.

-Ela parecia ser assustadora.

-Pois é, hoje em dia ela é vista como uma criatura perversa, mas ela não era só isso. Ela era justa, cuidava das almas mortas que eram bondosas, inocentes ou doentes até que eles pudessem regenerar.

-Que bonito - Eu estava atento aos sons ao meu redor, então eu consegui perceber que seu coração acelerou um pouco nessas duas palavras.

-Eu também acho, combina com o lado humano dela. Mas seu lado morto era realmente cruel. Me pergunto o que ela passou cercada pela morte e remorso a vida toda e ainda ter um coração compassivo e generoso lutando contra a crueldade e a ganância.

Shikamaru arrumou sua postura para ficar em frente a mim com um rosto frio difícil de ler.

-Você sabe bastante sobre ela.

-Que nada - agitei minha não na frente do meu rosto algumas vezes para disfarçar o quanto elas tremiam - Eu só fiquei pensando... toda sua existência deve ter sido bem difícil.