Cúmplices

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Regina Mills

Não morar com a minha mãe às vezes era uma dádiva, visto que Cora era alguém tão expansiva quanto Zelena ou até mesmo eu, mas passar na casa dela todo domingo era uma regra, regra nossa de quando ainda tínhamos papai presente em nosso dia a dia. Revirei os olhos e bufei ao pegar a bolsa que estava apoiada ao lado de Lenny, o gato branco de olhos amarelos, o único ser que eu permitia ver todas as minhas facetas, das mais descontraídas até as mais frágeis.

Era um segredo nosso, particular.

Fiz um carinho nos pelos claroz, me despedindo como me despediria de qualquer outro ser humano, evitando fazer aquelas vozes fofas que todos tradicionalmente fazem para pets ou bebês. Lenny não gostava, sempre jogava suas orelhas para trás como se repreendesse qualquer um que ousasse falar com ele no tom bobo, e sinceramente, eu até preferia assim. Era um menino inteligente, um cavalheiro.

Não demorei para sair de casa, entrando em mais um dos modelos dos carros de Midas, ficando satisfeita com a automóvel preto, clássico. Eu era uma amante de carros e motos, desde criança, incentivada pelo meu pai que sempre colocava alguma música latina para tocar quando estava na sua garagem, namorando seus veículos, consertando um ou outro, às vezes tentando melhorar alguma função do mesmo. Assim como os almoços de domingo eram uma tradição, ficar suja de graxa às sextas também era.

Virei mais uma rua, distraída em pensamentos ao andar pela cidade até chegar no bairro que ficava a casa de Cora, relembrando seus gritos ao me ver melecada de material preto e sentando em sua mesa com cadeiras de estofados, sendo defendida por Henry, tão sujo quanto eu. Assim como eu havia puxado meu pai, Zelena havia recebido os traços de Cora em sua personalidade ao morar conosco, sempre tão bem arrumada que chegava a doer.

Quando estacionei na porta da grande casa pude respirar um pouco mais fundo, rindo levemente ao pensar que a Regina de hoje chocaria a moleca de antes, que sempre exibia suas façanhas braçais com maior orgulho, vivendo cada momento como se fosse o último, mas algumas coisas mudam, os propósitos se tornam outros, afinal Henry não estava mais aqui, não havia mais necessidade de exibir esse meu lado tão desordeiro.

O foco era o meu trabalho, meus planos... E eles estavam andando muito bem, obrigada.

Não me preocupei em bater, passando pelos corredores que já cheiravam ao tempero tão característico, inundando todo o local ao ponto de fazer minha barriga borbulhar vergonhosamente. Escutei vozes vindo da cozinha, deixando-me alerta para a possibilidade de Swan invadir outra vez aquela casa que, claramente, não era seu lugar.

— Regina, você precisa aprender a avisar quando chega... — Escutei a voz da minha mãe ecoar, sobreposta a voz empolgada de Zelena que parecia contar algo. Finalmente entrei na cozinha, observando Cora mexer em alguma salada enquanto a ruiva permanecia apoiada no balcão, não fazendo nada.

— Como sabia que eu estava aqui? Não fiz barulho algum — Questionei, acenando para a minha prima que apenas cumprimentou de volta.

— Seu perfume — A resposta sutil da mais velha me fez revirar os olhos. Sempre tão observadora.

— Sua loira de estimação não vai se juntar a gente hoje? — Perguntei ao sentar em frente a Zelena que estava mexendo no seu celular, que parou ao escutar a pergunta.

— Não, não a convidei — Respondeu, escondendo o sorriso ao pensar em algo — Como foi a festa ontem?

— Comum. — Desconversei.

— Eu vi que atiraram na Fiona — Cora interrompeu minha mentira, erguendo seus olhos do pote para mim, erguendo uma sobrancelha — Pegou de raspão, apenas um arranhão. Irônico, não?

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