Tríade

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Emanuelle Kaczka

Estava sentada em meu sofá tarde da noite, organizando as fichas após escutar e ver tudo que Ruby me enviou, sendo elas em duas cópias em formatos diferentes para não correr o risco de algo dar errado. Brinquei com as folhas por um segundo ao mesmo tempo que engolia o resto de uma torta de chocolate belga, lembrando um pouco a minha infância.

Ao esbarrar nos meus documentos da agencia não hesitei em ler com um leve sorriso, pensando em como essa missão pediu tanto do meu eu real em vários momentos, diferentes de outras que exigiam um personagem fora do meu comum.

Nome: Emanuelle Kaczka

Idade: 34 anos

Nacionalidade: Polonesa

Função: Agente infiltrada em operação ativa

Apelido: ---

Operações anteriores: Caso Carlo, Panamá Papers, Manchester...

Operação atual: Caso Midas.

Resumo de operação atual:

"Sob a alcunha de Emma Swan, infiltrada em uma das grandes sedes de Midas, alvo de denúncias, a agente trabalha sobre o apoio de mais dois funcionários, Ruby Lucas e Killian Jones, o último servindo como base de informações cruciais. A agente investiga o caso coletando provas para abrir um inquérito criminal contra culpado(s)"

Ao ver meu nome real senti um aperto no peito que me lembrou as piadas que minha mãe, Ingrid, fazia a cada vez que eu reclamava do sobrenome que era alvo de chacota dentre alguns amigos mais novos quando era criança. Quando eu questionava o porquê de ter Kaczka como sobrenome, afinal significava "pato" em polonês, sua resposta era:

— Você já ouviu a história do patinho feio? — Seu tom era sempre brincalhão, disparando cócegas em minha barriga escondida pelas cobertas ao mesmo tempo que eu confirmava — O patinho feio não era feio de verdade, ele era o mais belo dos belos... Porém um cisne.

— Eu sou um cisne? — A minha voz infantil perguntava, inocente em minha memórias.

— O mais bonito de todos — Sorria ao passar as mãos em meus cabelos antes de começar a sussurrar — Ser um Kaczka, um Pato, é apenas um disfarce para não descobrirem sua grandiosidade.

— Como uma espiã dos filmes? — Meus olhos brilhavam, duas bolas grandes e verdes, iguais as de Ingrid.

— Como uma espiã.

Suspirei, rindo internamente ao notar que o termo "espiã" era algo que poderia ser colocado ao currículo, me fazendo refletir se a minha mãe conseguiria imaginar meu futuro enquanto estava viva. O mais triste de tudo ao crescer é ter suas histórias fantasiosas destruídas pela realidade, como foi no dia que descobri que meu sobrenome na realidade se dava pelo fato de que a muitas gerações anteriores fomos a família que cuidava e vendia um monte de pato, servindo inicialmente como apelido até se tornar nome.

Larguei minha ficha em cima da mesa para poder agarrar o copo de chá de hibisco, gosto que adquiri ao ter treinamento junto a uma mulher incrível que veio da África Ocidental. Cruzei as pernas em cima do sofá, ficando mais quente em meio a noite pouco gelada da cidade ao mesmo momento em que eu parecia ser jogada de volta às memórias saudosas.

Ao pensar no passado, sempre os primeiros momentos da minha infância eram os que mais me prendiam e deixavam sã ao longo das recordações. Como havia contado à Regina, mamãe era uma ótima cantora quando se tratava de Nina Simone e papai existia apenas para a exaltar e ouvir seus rocks dos anos 80, antes do falecimento precoce dos dois.

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