Carpe diem

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Emma Swan

Um sonho agitava meu corpo em repouso, fazendo-me abrir os olhos após um leve arrepio me cobrir, porém ao enxergar o que havia na minha frente meu cérebro demorou menos de segundos para processar o que havia acontecido na noite anterior.

Regina estava virada para mim, com as duas abaixo do seu – meu – travesseiro, a centímetros do meu rosto, onde sua respiração calma batia compassado em relaxamento puro. Eu estava deitada de bruços, com o braço por cima da sua cintura, em um aperto protetor que me fez franzir o cenho em uma análise um pouco mais delicada.

A morena não parecia que iria acordar nem tão cedo, afinal não era alguém forte e acostumada com vodka como eu. Tirei meus olhos do seu rosto, levando para o relógio na cabeceira da cama atrás dela e respirei fundo ao notar que havia acordado mais cedo que o normal graças a companhia morna do meu lado. Diferente do que eu imaginava, dormir com alguém do meu lado depois de tanto tempo não me incomodava, mas criava uma sensação estranha de familiaridade que eu não sabia estar pronta para vivenciar.

Segurei o riso notar que em algum momento da noite Regina havia retirado sua roupa emprestada e jogado na ponta da cama, ficando apenas de calcinha, talvez por calor, mesmo que a temperatura do ar condicionado estivesse razoável. Saí das cobertas para ir ao banheiro, caminhando com delicadeza para não atrapalhar o sono da mulher no outro cômodo.

Após fazer o que queria, tive aquele momento matinal onde olhar no espelho e pensar milhões de coisas ocorre. Encarei minha feição amassada pelo sono, e observei meu cabelo mais selvagem que o normal já que não havia penteado antes de ir dormir. Ele poderia ser curto, mas por ser fio finos sempre acabava enrolando e criando um ninho que dificilmente seria algo romantizado por outros.

Enquanto escovava os dentes refleti sobre tudo que contei a Regina, deixando-me tensa ao não saber com o que ela faria com aquelas informações. Eu não havia mentido ontem, até onde eu lembrava tudo que saiu da minha boca foi a mais plena verdade, desde as memórias da minha mãe ou coisas aleatórias como meu canto.

Eu sabia que poderia estar errando em me abrir, por mínimo que seja, principalmente para ela que era alguém que mentia e enganava tão bem. A latina era esperta e ardilosa, e poderia não saber sobre mim como eu sabia sobre ela, mas ainda sim não era totalmente confiável. Entretanto, meus instintos, e até a parte racional, sabia que era questão de tempo de tudo cair e saber aquelas coisas sobre mim se tornar algo irrelevante.

Eu tinha provas.

Regina estava por um fio na minha mão e em poucos dias descobriria isso da pior forma.

Sorri amarga para ao espelho ao refletir que estar sozinha tem seus pontos positivos, mas estava ficando cada vez mais a acostumada com aquela rotina e era ali que eu sabia que estava na hora de terminar com tudo, porém aproveitar antes do fim era o certo a se fazer.

Comecei a penteado os fios loiros delicadamente, espantando aqueles pensamentos enquanto outros me abatiam, como o fato de que nunca consegui pintar meu cabelo pois ele era uma das poucas coisas que havia restado da minha mãe no mundo. Nossa similaridade sempre era primeiramente reconhecida por isso, e então pela minha boca e nariz, deixando todo o resto para o DNA dominante do meu pai tomar formar.

Nunca consegui me desfazer, usando aquilo como um lembrete diário para fazer o certo, fosse ele por vingança ou não, mas fazer o certo. Havia falado para Regina sobre "família acima de tudo" pois esse era o meu lema, o lema que me regia. Lealdade era uma coisa cara, letal, e eu sempre pagava por ela, não importasse o preço.

Não demorei mais no banheiro, deixando a escova de cabelo na bancada de mármore negro na pia, saindo para notar que uma latina havia se tornado espaçosa em meu colchão, tomando o seu espaço ao ponto de virar de bruços no meio da cama, reivindicando meu travesseiro, o que havia sobrado, com seu braço.

LETALIDADWhere stories live. Discover now