Capítulo 18 - A filha da Mãe Natureza

54 9 37
                                    

''As chamas dançam em um só ritmo, único. Se eu me queimar, todos queimaram comigo''.

O desespero. O caos. Sentimentos que deveriam estar guardados no fundo do baú, tornam-se cada vez mais presentes. Uma vida que antes era cheia de esperança, sonhos e aspirações, tornou-se isso. Um vazio do qual não consigo mais controlar, um poder tão profundo que chega a me possuir. A escuridão existe, eu a vi de perto.

''A príncipio, os elementos agiam em uníssono. Água, Terra, Fogo e Ar, quatro irmãs, que juntas formaram uma só, a filha da Mãe Natureza, uma bruxa de imenso poder. Durante muito tempo, toda essa magia viveu em segredo. Porém, certo dia, a bruxa se apaixonou por um rei. Ela foi tomada por uma ardente paixão e acabou engravidando. Confiando muito nele, a mulher revelou seu segredo, mas uma outra pessoa escutou a conversa, e foi espalhado por todo o reino que havia uma mulher muito poderosa. Revoltados, pois acreditavam que ninguém deveria ser mais poderoso do que o Rei, a ameaçaram de morte para roubarem seu poder. Então para não por em risco a vida de seu amado, ela teve que separar seus poderes pelo reino, e fugir com seu bebê, que foi deixada na porta de uma senhora cuidadora de crianças. Totalmente incapacitada e sem magia, ela se transformou em uma borboleta azul e ficou presa em seu próprio universo. A filha água tornou-se um grande rio subterrâneo, e quem a encontrasse teria o poder da cura. A filha terra tornou-se uma linda figueira, e aquele de coração puro que comesse um dos seus frutos iria adquirir imortalidade. A filha fogo desapareceu, ninguém nunca mais ouviu seu nome. E por fim, a filha Ar, a mais difícil de encontrar, tornou-se um próprio céu. Para chegar até ela seria necessário morrer. E assim que a encontrasse, ela lhe daria uma espada de ouro, que fundindo todos os outros elementos nela, teria o poder de juntar todas as irmãs novamente, ou lhe daria um poder absoluto. E quanto ao rei, apaixonou-se por uma de suas criadas, casou-se, e passou a odiar qualquer um que soubesse praticar magia.''

A história que Regina me contava quando eu era criança, de repente passou pela minha cabeça, mas me questionei por um segundo, como essa lembrança surgiu logo agora que revelei um segredo profundo da Caterina? Desço ao chão e observo o rosto de cada um. Uns muito confusos, sem entender o que estava acontecendo, outros com o semblante chocado, ninguém esperava que a sábia Caterina era uma mentirosa, abandonadora de crianças.

- Camila você está mentindo. - Grita Cristina.

- Me diz quando menti para você, amiga?

Falo em um tom sarcástico, mas ela sabe que é verdade, eu nunca mentiria a ela, nem agora.

- Por... por que você fez isso comigo? - Falou Cristina segurando suas lágrimas e andando para o mais distante possível de nós.

- Filha, por favor. Diz Caterina em um tom manso

- E você ainda tem a coragem de me chamar de filha.

- Muito bem, acabou o showzinho. Eu quero que todos vocês voltem para onde vieram, se não farei questão de matar cada um.

-Eu acho que eles não podem, Camila.

Ouço um sussurro tão próximo ao meu ouvido que chegou a me dar arrepios.

- Já chega dessa palhaçada, quem está fazendo isso irá pagar.

Todos se olham sem entender do que eu estava falando, pelo visto somente eu tinha ouvido aquela voz estranha. Sinto minha cabeça girar, e no meio do pátio do castelo, observo uma torre de relógio não muito grande marcando 12 horas em ponto, não me lembro de ter visto isso antes. Quando ouço o soar de suas badaladas, uma borboleta azul passa bem na sua frente. E mais uma vez ouço aquela voz.

- O tempo está passando, Camila.

Estou consciente, lembro-me da pessoa que realmente sou. O tempo está passando, enquanto a borboleta voa com suas lindas asas. Suas asas... As asas do tempo.

‐ É isso...

Sussurro a mim mesma, e quando a borboleta finalmente pousa em uma flor qualquer, o relógio para. O ambiente que antes estava tão barulhento, reina somente o silêncio. Todos se mantém imóveis, parece que sou a única consciente, a única que o tempo não pode controlar. É aquela borboleta, ela tem controle sobre o tempo.

- Agora que você descobriu, te dou até meia noite para encontrar todos os elementos e trazer minha filha de volta, não consigo mais do que isso.

- Espera, como eu vou fazer isso sozinha? Eu sou só uma garota...

- Eu vou com você.

Me viro assustada para ver quem é, pois imaginei que não havia ninguém mais ouvindo, e quando percebo são 3 das bruxa da Ordem. Elisa, Caterina, e Cláudia, que recentemente descobri que é Sarah.

- Vamos logo ressuscitar essa bruxa. - Falei, e logo todas andamos em direção a uma densa floresta.

As asas do tempoWhere stories live. Discover now